sábado, abril 04, 2020

NO DIA DEPOIS...

Tive que sair para comprar álcool em gel. Coloquei a máscara que eu mesmo fiz e fui de carro à rua principal do comércio. Passei por mais de duzentas pessoas e apenas 3 usavam máscara.

Fui à farmácia e nenhum dos atendentes, inclusive as caixas, não usavam nem máscara, nem luvas (M&L). Passei pelo posto e nenhum frentista usava máscara, pelo menos.

Enquanto isso Bolsonaro e Mandetta se bicam sobre o imediato e ambos não se dão conta de que há uma realidade que irá se impor independente do que pensam, do que acreditam, do que fazem, do que discordam. Enquanto o Ministro se concentra em evitar o caos na estrutura hospitalar, o Presidente se preocupa com a paralisação da economia. Se bicam quando se complementam, pois se qualquer delas se efetivar, milhões e milhões de brasileiros serão drasticamente afetados.

Presidente e ministros, principalmente os da Saúde, da Economia, da Infra-estrutura e da Educação, ainda não perceberam, ou, se perceberam ainda não estão agindo para nos antecipar à nova realidade que se estabelecerá no dia depois desta pandemia. Uma prova desta miopia é a campanha que acaba de ser lançada pelo governo para ensinar à população a fazer máscara caseira. Chegaram atrasados. Nas redes sociais há dias circulam vídeos mostrando as mais variadas formas delas serem feitas. Isto todos nós podemos fazer. O que a cegueira não deixa ver é que nós não temos força para obrigar o uso de M&L a todos os que desejam ou precisam ir às ruas, e os que trabalham atendendo o público. Só as instituições que detêm legalmente o poder de polícia é que o podem. Os chineses já sabem o valor do uso de máscara há muito tempo, basta ver o vídeo ao final deste post.

E a razão para a ação dos governos de todos os níveis em fazer cumprir tal obrigação é muito simples: no dia depois da pandemia uma nova vida se imporá, com novos padrões de higiene pessoal, com uma estrutura hospitalar muito mais bem preparada e, queiramos nós ou não, o uso de M&L será o melhor instrumento que teremos para enfrentar os próximos COVIDs, porque isto é o mais eficaz para a redução da transmissão do vírus.

As consequências que esta pandemia irá causar na humanidade serão tão devastadoras para a continuidade da vida dos sobreviventes que a discussão sobre quarentena, vertical ou horizontal, será considerada como um delírio de um passado a ser esquecido. 

Simplesmente o mundo levará alguns anos para recuperar o nível médio de qualidade de vida que existia até dezembro de 2019, independente de qual ele era. Ou somos instados pelo Estado a obedecer a determinados padrões de conduta em ambientes públicos, ou iremos assistir os miseráveis e desassistidos sendo enterrados em valas comuns; a ver regiões pobres ficando mais pobres; ricos vendo parcela de seus patrimônios virando pó; taxas de desemprego atingindo patamares jamais alcançados; falência de negócios (micro, pequenos, médios e grandes) varrendo o mundo; países que até aqui tinham no turismo internacional um importante gerador de renda nacional, tendo suas atrações antes repletas de gente, transformadas em locais desertos. Isto e outras consequências provocarão a mais profunda depressão econômica. A paralisação provocada pela quarentena como está posta, está afetando o mais básico fundamento da economia de mercado: a quantidade de transações monetárias em um dado sistema, ou seja, quanto menor o total de transações, mais pobre é uma sociedade. Onde não há uma dinâmica de troca de serviços e mercadorias todos perdem mesmo aqueles que no período de crise são enganosamente beneficiados, pois terão o patrimônio desvalorizado, seja em ações em bolsa de valores, em imóveis etc., tal como todos nós.

Esta é uma constatação, não uma crítica a qualquer estratégia. A tomada de decisão em situações críticas e, pior, quando envolve vida ou morte de cidadãos, é dificílima (assistir as aulas de Michael Sandel no YouTube). Chamo a atenção para a necessidade do reconhecimento de que outros vírus nos acometerão no futuro e que não poderemos estar tão despreparados, tão sem táticas de prevenção e proteção, como estivemos até aqui, pois não podemos ter uma outra crise econômica como a que enfrentaremos nos próximos meses. Uma resultante paralisação das atividades em todos os setores da economia simplesmente não poderá se repetir. 

A atual alternativa de quarentena só se justifica, grosso modo, porque: 1) a infra-estrutura de saúde não tinha (e ainda não tem) capacidade para lidar com o volume de casos que demandam assistência hospitalar; 2) a indústria de insumos para produção de equipamentos está nas mãos de pouquíssimos fornecedores; 3) a população não tem hábitos de higiene pessoal e de práticas de interrelacionamento e convívio social capazes de reduzir as chances individuais de infecção; e 4) a falta, no nosso caso, de saneamento básico para mais de 50% dos brasileiros.


O que esperar de todos nós, cidadãos e Estado, no futuro imediato? Como indivíduos teremos que incorporar como padrão novos hábitos de higiene: frequência em lavar as mãos com sabão, uso de M&L sempre que formos às ruas ou receber alguém em casa, lavar legumes e frutas ao chegar com as compras, colocar a roupa para lavar imediatamente, usar luvas de látex sempre que for manusear qualquer coisa quando fora de casa, evitar aglomerações tanto quanto possível, aumento da distância entre pessoas nas instalações das empresa, aumento do trabalho e da educação à distância, etc. etc. etc. E isto independente da existência de uma medicação eficaz e da descoberta de uma vacina. Assista ao vídeo feito pelos japoneses mostrando o que acontece quando não se usa máscara,

Se a minha descrição sobre nosso futuro cotidiano tem algum sentido, muito mais lógico e necessário que ficar em casa (relativamente poucos podem), é nos obrigarmos já ao uso de M&L, na rua, no trabalho, no convívio social. Errados estão todos que insistem em circular e trabalhar sem máscara como constatei hoje. Errados estão todos os empregadores que não disponibilizam M&L para seus funcionários conforme a característica de cada atividade. Errados estão os governantes que, como o Prefeito daqui, acaba de bloquear todos os acessos à cidade, sem ter, obviamente, a menor noção do dano que está causando a mais de 300 mil pessoas.

Em algum dia depois do COVID-19 virá o COVID-20 ou qualquer novo vírus com novo mnemônico. Nos dias depois, portanto, teremos que estar preparados e habituados às novas regras deste que será um mundo novo, cabendo a nós decidir se será maravilhoso ou ...


COMO AGEM OS CHINESES DE HONG KONG

OS TESTES QUE OS JAPONESES FIZERAM

DEBATE NA CNN EM 7/4/20

Um comentário:

  1. Eis um testemunho que reforça a minha opinião de que o assunto máscara deveria ter sido tratado de forma mais responsável pelos especialistas e governo logo no começo. A campanha deixem as máscaras para os agentes de saúde foi uma tremenda burrice porque a transmissão tem que ser combatida no vetor de transmissão, ou seja, evitar a propagação pelas próprias pessoas. Cheguei a ouvir de especialistas entrevistados na grande rede de TV, no início da pandemia, que as pessoas que estavam utilizando máscaras eram esnobes.

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