sábado, janeiro 16, 2021

A HIPOCRISIA DAS PLATAFORMAS, DO ESTABLISHMENT E DOS IDEÓLOGOS

"Não há mais sentido em apelar para nada quando a mente se perdeu na coerência de uma boa ideia. O ideólogo torna-se cínico."

Proposição extraída de "Thomas Sowell e a aniquilação de falácias ideológicas".


Tomei contato e me fascinei com a internet em 1996. No ano seguinte já tinha criado uma lista de distribuição chamada INTERNET MARKETING onde publicava textos com o intuito de ajudar outras pessoas a entender a nova tecnologia. Tais textos me levaram a ser um dos primeiros "articulistas" da nova revista INTERNET BUSINESS (1). Conto isto só para ressaltar que vivi com certa intensidade o engatinhar, a infância e a juventude da Web, desde quando, portanto, o buscador principal era o AltaVista e no Brasil o Cadê (2).

Naquela época e até meados da primeira década do novo milênio, os provedores de acesso desempenhavam também o papel de guardadores dos conteúdos gerados pelos seus usuários, basicamente, clientes que usavam aplicativos de envio de mensagens eletrônicas, os tais e-mails, cujo conteúdo ficava armazenado nos "servidores" da empresa. Já ali, o comportamento irascível se manifestava em mensagens postadas em listas de distribuição com temáticas diversas. Esta constatação logo logo me fez cair fora, pois meu estômago não é muito forte. Algumas destas manifestações incomodaram terceiros gerando demandas judiciais e uma discussão sobre a obrigação dos provedores de não só "censurarem" o conteúdo, como também acatar uma ordem judicial que obrigasse a quebra da privacidade de um cliente. Evidentemente houve reação. A estratégia de defesa foi a de se compararem com os correios (sigilo da correspondência) e até mesmo com as companhias telefônicas (naquela época, em tese, ainda não se gravavam as conversas). Não lhes cabia, portanto, a obrigação de fiscalizar o conteúdo que transitasse pelos seus canais digitais, e ainda alegavam que seria um completo absurdo, além de inconstitucional. 

Assim foi até que a evolução da tecnologia e do agigantamento de algumas poucas empresas se transformassem em "plataformas" de redes sociais espalhadas, principalmente, pelo mundo ocidental. Agora o "busílis" da questão passou a ser outro. Os interesses econômicos passaram a ser tratados na casa das dezenas de bilhões de dólares e, neste nível de "interesse" a política se torna o elemento, a variável, o fator mais relevante em qualquer tomada de decisão. A consequência todos nós estamos vendo. A questão se inverteu, ou seja, se antes o negócio era tirar o corpo fora e dizer que "isso não é comigo", agora  é muito mais um "deixa comigo que eu chuto", pois "censurar é a principal tarefa". Reivindicam até mesmo um alegado direito de tocarem seus negócios do jeito que melhor lhes aprouver, apartados de qualquer aparato legal. Hummmm! Será? Vamos analisar o argumento dos apoiadores deste "direito". Alega-se que as plataformas digitais, só as plataformas, por serem empresas privadas em um regime de livre mercado, podem "excluir" qualquer um por terem o direito de escolher quem as pode frequentar com base tão somente em supostas "fake news" ou na constatação do usuário não ter a mesma opinião política que elas têm. Vejam a hipocrisia. Se eu manifestar nas redes sociais criticando o que você andou postando, tudo bem, a plataforma não se importa. Eu só não posso postar opinião com a qual "eles" não concordem (amplie a extensão deste "eles"). A meu ver, se esquecem do fato primeiro que motivou sua criação, qual seja, oferecer uma ferramenta universal de comunicação entre as pessoas, e não uma ferramenta de comunicação exclusiva de uma corrente política. Lembremos que quando nos associamos a elas, não nos foi perguntado para quem torcíamos, o que seria normal se o detentor do negócio fosse um partido político, um clube de futebol etc. Portanto, para evitar a hipocrisia, a justiça poderia concordar com elas desde que declarassem tanto em suas homepages quanto em seus ilegíveis contratos de uso, suas posições políticas para que pudéssemos nos associar àquelas plataformas com as quais nos identificássemos, o que nos permitiria manifestar nossas opiniões sem sermos "cancelados" a cada postagem. Que tal? 

Só pra deixar claro. Eu posso negar a uma pessoa o acesso à minha casa, até mesmo a um policial que não tiver um mandado de busca (desde que não tenha vindo a mando do Alexandre de Moraes). Acontece que a finalidade da minha casa é a de abrigar e proteger a mim e a minha família e não a de ter as portas abertas para quem quiser entrar, pois isto, evidentemente, contrariaria o objetivo básico!!! Sendo ainda mais explícito, os Correios podem se recusar a entregar uma correspondência por que seu endereço, do remetente, vem da "área suspeita" de ser apoiadora da oposição? As companhias telefônicas podem se recusar a completar uma ligação por que você foi "classificado" como um usuário que fala muito palavrão? Você concordaria com isto? 

Por que o Presidente dos Estados Unidos da América foi excluído de diversas plataformas? Por que nada acontece para impedir tais atos de violência explícita? O fato alegado de que Trump incitou a violência da invasão do Capitólio não se sustenta. Simplesmente ele não fez isso. Mesmo que tivesse feito, ainda assim isto não poderia ser motivo de nenhuma reação antes que um processo fosse instaurado para apurar TODOS os fatos, inclusive quem eram os que realizaram a invasão (mandantes e mandados). A opção por um viés político agora, pelo menos, ficou clara. Não por outro motivo cidadãos pelo mundo afora estão, neste meados de janeiro de 2021, cancelando suas contas nas "canceladoras" e procurando abrigo em plataformas comprometidas com a liberdade de expressão, pelo menos, em princípio. Enfim, um show de hipocrisias para satisfazer aos gostos mais exigentes feitas por indivíduos que se apresentam com a cara mais lavada e sem um mínimo de rubor. Fico por aqui, nem vou mencionar a sordidez das táticas usadas para destruir o PARLER.

Livro mais recente de Sowell.

Chegamos então à questão que salta à indignação: por que ninguém faz nada? Ocorre que esse "ninguém" inocentemente proferido é exatamente o "establishment" (3), a máquina pública que nas últimas décadas veio sendo invadida pelo contingente socialista. No caso do Brasil, há um "esprit de corps" estatal que se agarra à defesa de privilégios angariados ao longo de décadas dividindo os brasileiros em duas categorias: os privilegiados funcionários públicos e os demais. Àqueles, tudo, aos outros, o rigor da lei. Os primeiros não estão nem aí para utopias políticas, o que eles querem é tão somente reivindicar a manutenção de "direitos adquiridos". "Nosotros" também não estamos nem aí para as mesmas utopias, apenas a razão é outra: estamos ocupados, dia-a-dia, em "ganhar o pão", "tocar a vida" e pagar os impostos que sustentam aqueles. Hipocrisia, quero uma para sobreviver! É óbvia sua imediata pergunta: a quem interessam as utopias? Só aos ungidos, evidentemente, mas como estão no poder ou são bajuladores do poder, causam um estrago capaz de atingir gerações, sendo que seus autores não estarão mais por aqui para ver o resultado, nem para serem julgados e condenados. Este é o movimento a que estamos assistindo, infelizmente, e qualquer um que intente mudança neste "status quo", enfrenta a reação de uma massa de mais de 10 milhões de protegidos (4). E este comportamento se dá em toda a esfera de poder, legislativo, executivo e, particularmente, judiciário. Como já disse alguém: de onde você espera que saia alguma coisa, é dali que não sai nada mesmo!

E o que está na base, tanto da promoção e exaltação do pensamento único, quanto do Estado como um bondoso e mão-aberta empregador? A utopia ideológica dos ungidos que criaram uma teoria socioeconômica não a partir dos fatos da vida real, mas a partir de uma "visão" que quer impor globalmente um padrão de comportamento cultural e moral que contraria a inquestionável realidade de que a natureza humana é imperfeita e que o desenvolvimento das nações se dá graças ao intercâmbio de visões e experiências que ocorrem nas relações entre os cidadãos. A reboque desta "visão cega", vem o Estado controlador da economia, provedor do conhecimento de um só viés, e a divisão dos cidadãos entre várias "classes" com as consequentes políticas específicas para cada um, o que, evidentemente, acaba por criar dois grandes grupos, o dos "protegidos" e o dos "ressentidos".

Vamos nos preparar espiritual e mentalmente e aguardar para ver no que isso vai dar. Boa coisa, imagino, não vai ser.


(1) Tudo o que escrevi nesta época você encontra neste outro blog meu.

(2) Em 1994, Berners-Lee fundou o World Wide Web Consortium (W3C) no MIT; tanto  o Altavista quanto o Cadê, o buscador brasileiro, nasceram em 1995, sendo que o  cadastramento dos sites, no nosso caso, era feito manualmente (!!!); e o Google só veio se tornar uma empresa a partir de 1998.

(3) Establishment: A elite social, econômica e política de um país. Eu "odeio" o termo, mas fazer o quê depois de Paulo Guedes ter trazido para o nosso cotidiano tal anglicismo!!!???

(4) Segundo estudo do IPEA publicado em 2020, em pouco mais de 30 anos saímos de 5,1 milhões para 11,4 milhões. Quem foram os governantes no referido período?


2 comentários:

  1. Gostei do seu texto e concordo com ele. Te enviei um vídeo que tem tudo a ver com as ideias aqui apresentadas. A reação dos conservadores está em andamento. Não devem deixar barato. Fico estupefato com os absurdos que estão acontecendo no mundo todo. Faltam líderes confiáveis. Aqui na pátria amada o protagonismo do STF atropelando o Legislativo e o Executivo é um exemplo destes absurdos. E cadê a reação? Vou-me embora pra Pasárgada!

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