sexta-feira, janeiro 08, 2021

A VELHA E AS NOVAS DICOTOMIAS


"As ideologias pressupõem sempre que uma ideia é suficiente para explicar tudo no desenvolvimento da premissa."

Hannah Arendt

Que a dicotomia direita/esquerda já não explica mais nada, muita gente já sabe mas ainda vai levar um certo tempo até que percebamos e adotemos uma outra que nos dê alguma noção, tanto das motivações dos movimentos políticos dos últimos 60 anos, quanto do que está por vir após a nação mais próspera do planeta se aventurar na intensificação de uma opção pelo socialismo em sua pior formulação (se é que isso é possível).

Os rótulos dicotômicos nos são úteis para super sintetizar um conjunto complexo de motivos e processos que sem eles, nossa vida seria impossível, ou, pelo menos, um inferno incompreensível. A velha dicotomia trazia toda a complexidade político-econômica para uma formulação simples: direita e esquerda. Entre os primeiros, os capitalistas gananciosos, entre os segundos, os comunistas estatizantes. Sob este rótulo, viveram os cidadãos do século XX entre tantos trancos, barrancos e guerras.

Capa do livro sobre a obra de Sowell

Assistindo as crônicas do Rodrigo Constantino, descobri Thomas Sowell, americano, negro, economista, professor universitário, filósofo político, escritor de dezenas de livros, um dos mais respeitados pensadores da atualidade, e em plena atividade aos 90 anos. Para organizar suas análises, ele apresenta duas ideias. A primeira, propõe que todos temos "visões" sobre a natureza humana, e ela é de duas categorias: a visão restrita - que considera e reconhece as limitações da natureza humana -, e a visão irrestrita - a que tem a convicção que a natureza humana pode ser aperfeiçoada, modificada. Basicamente, na minha interpretação, Sowell defende que a diversidade é a mola propulsora da evolução civilizatória e a melhor maneira de possibilitar ao indivíduo a busca pela felicidade, pois não há receita padrão para a felicidade na medida em que desejos e necessidades são únicos e, portanto, individuais.

Sowell também faz uma outra proposição. Esta é mais direta, mas popular, de fácil entendimento, qual seja a dos "ungidos" - aqueles que se autoproclamam como sendo "portadores da missão de guiar os outros para a realização de uma vida melhor" -, e a dos "ignorantes" - todos os demais identificados como incapazes de gerir as próprias vidas. Para a "elite ungida", liderada pelo subgrupo da intelligentsia, encastelada nas universidades, em toda a estrutura do ensino público (mas não só), nos sindicatos, partidos políticos e ONGs de toda espécie, "os males da sociedade são vistos fundamentalmente como um problema de ordem moral e intelectual, para a extinção dos quais os intelectuais estão especialmente equipados (...)". Eles não param por aí. No delírio dos ungidos, cabe até a capacidade de "poder resolver problemas psicológicos das pessoas, como os estigmas sociais e os traumas de guerra".

Instigado a refletir, moldei uma outra proposição para satisfazer nossas angústias de entendimento da realidade, em particular, brasileira. Partindo da constatação de que existe por aqui uma "elite" política que perdeu as últimas eleições; cujas campanhas foram financiadas por grandes empresas nacionais que acabaram por sofrer um revés significativo em suas intenções, desejos e lucros; de que muitos de seus proeminentes políticos estão na cadeia ou em casa de tornozeleira; e que tal conjunto de consequências motivou a aliança de todos em torno de um projeto de não aceitação da perda de poder, achei de criar um novo rótulo dicotômico: o dos "negacionistas" (*) - aqueles que negam, além da própria condição de imperfeição da natureza humana, negam tudo o que venha daqueles que foram eleitos, sejam opiniões, ações, decisões, propostas, projetos etc -, e os "aturdidos" -, todos nós que, a cada minuto, a cada hipocrisia no noticiário da "grande mídia", estamos nos perguntando: onde diabos isto vai parar!!!



(*) É evidente que estou me contrapondo à aplicação do rótulo "negacionista" como conceituado pelos tais perdedores e seus inspiradores e financiadores internacionais, ou seja, que negacionistas somos todos nós que não concordamos com as teses deles. Ex.: eu, particularmente, não concordo com a tese do aquecimento global, portanto, sou um negacionista por mais argumentos que eu tenha.

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