terça-feira, fevereiro 22, 2022

HUMANOS DESUMANOS


Hoje não tem texto meu, pois organizando arquivos no computador, encontrei "Extratos de Revista Piauí 2018" contendo notas extraídas de artigos publicados naquele ano e um de jan/2019 (época em que ainda era uma publicação que valia a pena ler). Todos os artigos contêm reflexões que podem ajudar a entender melhor com o que estamos convivendo e fazer um exercício sobre quais poderão vir a ser as consequências para nossa vida em futuro próximo.

Chamo atenção para as notas do artigo "O pior está por vir", de Anne Applebaum, uma jornalista e historiadora americana. Ela conta algumas coisas sobre política no período em que viveu na Polônia.

O último artigo, de jan/2019, "Genocídio no Brasil", é do jornalista inglês Norman Lewis.  É uma reportagem publicada no Sunday Times Magazine em 1969, e depois publicado no livro A View of the World, pela editora Eland. Não o deixei por último à toa. Ele é a comprovação categórica da possível natureza desumana que podemos incorporar. Ao reler minhas notas um frio percorrendo a espinha foi inevitável.  Ao tentarmos descobrir as causas de tanta desumanidade em alguns humanos (desumanidade esta presente em toda a história de nossa civilização), somos levados a refletir sobre quais podem ser as razões de muitos de nós ser levado a agir com tamanha agressividade nas redes sociais. Eu NÃO recomendo a leitura por gente mais sensível.

Mas fora este último, creio que o Leitor vai poder viajar em reflexões relevantes.

 

Bom proveito!

 

 DEZEMBRO/18

 Artigo: El Salvador – a respeito da força e da fragilidade

Por: João Moreira Salles

Paul Ricoeur, pensador francês, em “O único e o Singular”: “Onde há poder, há fragilidade. E onde há fragilidade, há responsabilidade. Quanto a mim, diria mesmo que o objeto da responsabilidade é o frágil, o perecível que nos solicita, porque o frágil está, de algum modo, confiado à nossa guarda, entregue ao nosso cuidado.”

A desatenção é a primeira etapa da violência.

Alan Jacobs: “Nós que vemos o outro nas garras da aflição, nós somos obrigados, primeiro e acima de tudo, a prestar atenção”.

Ainda Jacobs: “Na ausência de empatia vem o descuido (na melhor hipótese) ou a selvageria (na pior).”

E: “A tentação do excesso é que é quase irresistível.”

Submetidos às tensões que o retiram da morada em que se sentiria amparado, não resta ao indivíduo desenraizado senão pensar segundo os termos de que dispõe, ou seja, os da violência e da força.

De um velho reitor da Universidade de Chicago: se êxito for a medida da justiça, o justo estará sempre do lado de quem tiver mais batalhões.

 

NOVEMBRO/18

Artigo: O Pior Está Por Vir


Por: Anne Applebaum (Americana, jornalista e  historiadora, casada com diplomata polonês)

Naquele momento (celebração de ano novo dez/1999), com a Polônia na iminência de se integrar ao Ocidente, tinha-se a impressão de que torcíamos todos pelo mesmo time. Concordávamos sobre a democracia, o caminho para a prosperidade, o rumo que as coisas estavam tomando.

Aquele momento passou. Decorridas quase duas décadas, cheguei a mudar de calçada para evitar algumas das pessoas que celebravam o ano 2000. por sua vez, elas não só se recusavam a entrar na minha casa como tinham vergonha de admitir que um dia a frequentaram. Na verdade, cerca de metade dos convidados nunca mais falaria com a outra metade.

Dadas as devidas circunstâncias, qualquer sociedade pode se voltar contra a democracia. Alias, a julgar pela história, todas as sociedades acabarão por fazê-lo.

Duas décadas atrás, diferentes interpretações de “Polônia” também já deviam estar presentes, à espera do momento de vir à tona, conforme as circunstâncias e em razão de ambições pessoais.

A quem cabe definir uma nação? E a quem, por conseguinte, cabe conduzir uma nação?

Monarquia, tirania, oligarquia, democracia: tudo isso era familiar a Aristóteles, há mais de 2 mil anos. Mas o regime antiliberal do partido único, ora encontrado em todo canto do mundo – considere-se a China, a Venezuela, o Zimbábue -. foi pela primeira vez desenvolvido por Lênin, na Rússia, a partir de 1917.

[Lênin será lembrado] não por suas convicções marxistas, mas por ter inventado esta persistente forma de organização política. Ela é o modelo pelo qual se pautam muitos dos autocratas hoje em ascensão no mundo.

Diferente do marxismo, o regime leninista de partido único não é uma filosofia, é um mecanismo para deter o poder. Ele funciona porque define claramente quem vem a ser a elite – a elite política, a elite cultura, a elite financeira.

O regime unipartidário bolchevique não era apenas antidemocrático: era também não competitivo e não meritocrático. Vagas nas  universidades, empregos no funcionalismo público e postos no governo e na indústria não cabiam aos mais diligentes ou aos mais capazes: cabiam aos mais leiais.

Como escreveu Hanna Arendt nos idos da década de 40, o pior tipo de regime unipartidário “invariavelmente substitui todo talento, quaisquer que sejam suas simpatias, pelos loucos e insensatos cuja falta de inteligência e criatividade é ainda a melhor garantia de lealdade”.

Ressentimento, inveja e, sobretudo, a crença na injustiça do “sistema” são sentimentos importantes entre os intelectuais da direita polaca.

A experiência fez com que Jaroslaw se desse conta de que não gostava de política, em especial da política do ressentimento: “Eu entendi o que era de fato fazer política: promover intrigas terríveis, vasculhar sujeira, fazer campanhas difamatórias.”

O apelo emocional de uma teoria conspiratória está em sua simplicidade. Ao explicar fenômenos complexos, esclarecer acasos e acidentes, ela propicia a sensação gratificante de se ter acesso privilegiado ou especial à verdade.

O apelo do autoritarismo é eterno.

O escritor venezuelano Moisés Naím visitou Varsóvia poucos meses depois que o Lei e Justiça [partido de direita] chegou ao poder. Pediu-me que descrevesse os novos dirigentes polacos: Pessoalmente, como eram? Enumerei alguns adjetivos: “raivosos”, “vingativos”, “rancorosos”. “Parecem”, ele disse, “ser iguaizinhos aos chavistas.”

Mais cedo ou mais tarde os perdedores contestarão o mérito da competição em si.

O regime autoritário ou mesmo o semi-autoritário – o regime de partido único, antiliberal - propiciam essa esperança: de que a nação será conduzida pelas melhores pessoas, as que merecem mandar, os quadros do partido, os que acreditam na Mentira de Médio Porte. Para tanto pode ser preciso subjugar a democracia, corromper a atividade empresarial ou arrasar o sistema judiciário. Mas nada disso é impossível para quem julga estar entre os que merecem mandar.

 

OUTUBRO/18

Artigo: Minha Fraqueza – Anotações desordenadas sobre a condição feminina

Por: Margarita Garcia Robayo

A subjetividade existe para além da consciência que possamos ter dela.

 

Artigo: Uma viagem de psilocibina – Eu tinha decidido me entregar a esse grande cogumelo

Por: Michael Pollan

Eu tinha no meu notebook um vídeo curto de uma mascara girando, usado num teste psicológico chamado ilusão da mascara côncava. Enquanto a mascara gira no espaço, o lado convexo se move para revelar o verso côncavo, e algo incrível acontece: a mascara oca parece saltar para se tornar convexa de novo. Esse é um truque produzido pela nossa mente, que presume que todo rosto é convexo, e então automaticamente corrige o que parece um erro – a menos que, como um neurocientista me disse, você esteja sob a influência de uma substancia psicodélica.


SETEMBRO/18
Artigo: Arquitetura do nevoeiro – A sobreposição explosiva de opacidade e nitidez, incerteza e convicção, no tempo da “pós-verdade”

Por: Guilherme Wisnik

Além de ser um riquíssimo espaço de pesquisa e de conhecimento em potencial, o ciberespaço é também – como meio de comunicação e integração – um “lugar” no qual as pessoas expõem muito menos dúvidas do que certezas.

Progressivamente mapeado e decodificado, o mundo se oferece a nós em imagens cada vez mais nítidas, nas quais as dúvidas e ambiguidades, ou zonas de sobras e incertezas, vão sendo apagadas.

De um lado, a opacidade  no que diz respeito à compreensão geral das coisas e à nossa capacidade de nos situarmos individual e coletivamente em um sistema-mundo globalizado que se tornou impalpável e especializado de mais. De outro, a nitidez excessiva no trato mais objetivo e cotidiano com as informações, promovida pelo aumento de acessibilidade, da proximidade e da ubiquidade. (...) É dessa imbricação estranha, explosiva e aparentemente contraditória entre nublamento e nitidez que surge o fenômeno da “pós-verdade”, com as fake news e a apropriação de formas discursivas da esquerda por grupos de direita.

Busca-se uma espécie de supernitidez do involuntário, da revelação inconsciente. E não seria essa a ilusão última trazida pelo árbitro assistente de vídeo (VAR) na Copa do mundo de 2018? A crença cientificista, de fundo messiânico, em uma verdade ultima a ser revelada por meio da aparelhagem-oráculo, redimindo o jogo de todas as ambiguidades, assim como das imperfeições humanas do arbitro?

Ao registrar o mundo com potentes lupas e microfones, a aparelhagem contemporânea consegue trazer à tona camadas antes ocultas da realidade, expondo-as como verdades finalmente reveladas.

Georges Bataille: “É sob a forma de catedrais e de palácios que a Igreja e o Estado se dirigem e impõem silencio às multidões.”

As informações têm que ser mantidas em constante movimento, pois os atributos que constituem a sua razão de ser e lhe conferem valor são a circulação e o intercambio. (...) é a informação que gera preço. O que, por sua vez, cria novas decisões de compra e, portanto, mais informação circulando de forma cada vez mais ágil.

Coletivo de design holandês Metahaven: “O enorme sucesso da nuvem é fornecer todas as coisas ao mesmo tempo.”

O que nos faz pensar que as raízes anarcolibertárias da internet estão sendo em grande medida cooptadas e invertidas por essa centralizada arquitetura de poder, baseada em sistemas fechados e caixas-pretas, que reprime, como argumenta Jonathan Zittrain, a capacidade generativa e inovadora da web.

Quantidades incalculáveis de mensagens e arquivos anexos são armazenados na nuvem a fundo perdido, por tempo indeterminado, ocupando “espaços” cada vez maiores e mais pesados. Toneladas de fotos de férias passadas, que nunca mais serão vistas por quem as fez nem por ninguém ficam guardadas, flutuando num futuro do pretérito imponderável, que constitui um lixo digital problemático em nossa sociedade arquivística.

O arquiteto Ram Koolhaas criou o conceito de junkspace como definição cáustica do mundo urbano atual. O junkspace, “é o resíduo que a humanidade deixa sobre o planeta”. Pois “o produto construído [...] da modernização não é a arquitetura moderna, mas antes o junkspace”. Isto é, aquilo que “sobra depois que a modernização terminou seu curso ou, mais precisamente, o que coagula enquanto a modernização está em progresso, seu efeito colateral”.

O junkspace é a forma física assumida por um mundo que desfez as fronteiras entre trabalho e lazer, ou entre o escritório e a vida doméstica, congelando-se numa espécie de sexta-feira informal interminável. (...) É em nome do acesso permanente à informação que aceitamos ser despojados de toa a nossa privacidade, tornando-nos cúmplices no rastreio das impressões digitais deixadas por nossas transações.

[Estamos em um] universo de fingimento e ficção baseado na naturalização de realidades ilusórias, a chamada “hipernormalização”. Exemplos atuais disso são as fake news e os ambientes de bolhas das redes sociais, nos quais se reúnem pessoas de opiniões coincidentes, que têm a falsa impressão de que seus ideais refletem a realidade da maioria da sociedade.

 

AGOSTO/18

Artigo: O Anjo Redentor (Doutor em Ciências Sociais pela PUC/RJ)

Por: Antonio Engelke

Padilha: “As ciências sociais não dispõem de modelos teóricos que incorporem, ao mesmo tempo, variáveis políticas, econômicas, tecnológicas, geográficas, climáticas e culturais. E é obvio que qualquer dessas variáveis pode alterar drasticamente a evolução de uma sociedade. Processos sociais são, pura e simplesmente, complexos demais para serem modelados.” (...) “A verdade é que todos os grandes dogmas da esquerda e da direita são mitos.”

Dizer que a espoliação sistemática da Petrobras tem a mesma origem e características que a “cervejinha do guarda”, reduzindo ambos os fenômenos a uma essência comum que os constituiria, não nos ajuda a compreender nem a dinâmica do saque à estatal, nem a do drible à multa de transito.

Foi o regime militar que deu força econômica e política às construtoras, pois os contratos recebidos permitiram às empreiteiras tornarem-se multinacionais e ampliarem suas atividades para outros ramos.

Mas, se o mecanismo determina em última instância o modo de funcionamento da política, ficamos sem ter como explicar os muitos avanços de nossa democracia. Segundo a lógica de Padilha, iniciativas como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a expansão da Controladoria-Geral da União ou a autonomia funcional do Ministério Público só poderiam ser deslizes ou cochiladas eventuais do mecanismo.

[Ele defende um] processo constante de aperfeiçoamento de arranjos regulatórios.

O filme veio saciar os anseios vingativos de uma população historicamente avessa aos direitos humanos, estressada pela violência cotidiana e, por isso, predisposta a aplaudir uma autoridade vista como impiedosa e incorruptível.

[Ele atribui a Tropa de Elite a intenção de condenar] a própria atividade política, vista como o inimigo cuja eliminação possibilitaria o estabelecimento de uma ordem social pacificada.

A obra de Padilha pode ser lida como uma das muitas respostas que vêm ganhando força em face da sensação de falência da representação democrática – populismo xenófobo de direita, populismo estatizante de esquerda, fascismos, anarcocapitalismo etc.

Narrativa simbólica que é, o mito político coloca em suspenso o problema da verdade.  (...) O mito político confere um sentido às circunstâncias que envolvem os indivíduos.

O mito convence justamente porque não aparece como discurso racional de persuasão.

Freud observa que o vínculo entre o indivíduo e o líder é de “enamoramento”. (...) O sujeito admira não tanto o líder em si, mas a projeção de sua imagem, idealizada, livre de qualquer desvio ou impureza.

O recalque em jogo é o do fantasma da servidão voluntária: narrativa mítica que permite ao indivíduo abandonar a própria autonomia em favor do Redentor, mas sem experimentar isso como submissão opressiva ou alienante.

A servidão voluntária atinge o sentimento de democracia, a democracia como uma forma de vida, na medida em que nega seus pressupostos de autonomia e participação popular.

Moro (ao lado de Lula) é atualmente a encarnação mais poderosa do mito do Redentor, razão pela qual as contradições de seus atos não despertam muito questionamento na esfera pública.

Não há registro de cruzada punitivista que, em nome da luta contra a corrupção, tenha sido bem-sucedida e feito terra arrasada do jogo político.

Todo discurso sobre redenção é também um discurso sobre a fragilidade da condição humana.

 

JUNHO/18

Artigo: Junho, Ano V

Por: Marcos Nobre

O que ocorre atualmente no mundo é um ajuste político global. Movimentos regressivos como os que vemos atualmente são tentativas de controlar mudanças de fundo, que são as que mais resistem ao controle.

Uma das maneiras de os sistemas políticos manterem o controle da transição é dando inicio a guerras, ditaduras e experiências neofascistas.

Uma das formas da convivência conflituosa é a que poderia ser caracterizada na fórmula adversários-parceiros.

Em sua luta pela sobrevivência, os sistemas políticos construíram uma estratégia sólida de chantagem: fundiram-se aos Estados nacionais. (...) Pretendem apagar qualquer diferença entre Estado, governo e Parlamento. (...) Só que, com a rejeição generalizada aos sistemas políticos tal como eles funcionam, essa simbiose resultou até agora em um abraço de afogados, em uma crise de legitimidade da ação do Estado.

Quem se beneficia direta e indiretamente de políticas públicas decisivas para manter sua posição social não vê nenhuma contradição em malhar o mesmo Estado de cuja ação se beneficia.

A ideia de uma renda básica universal, até pouco tempo debatida somente em círculos acadêmicos restritos, seja agora parte da agenda internacional.

Não haverá rede de proteção para todo mundo, não haverá cidadania para todo mundo.

A democracia não se democratizou, mas durou tempo suficiente para fazer surgir na sociedade divisões antes reprimidas ou mantidas invisíveis.

Nação, população e território deixaram de coincidir no imaginário político. Cada grupo tem a sua nação, incompatível com a nação do grupo vizinho.

[Esta] Será, portanto, uma eleição em que vão se conjugar a rejeição generalizada e difusa ao sistema político com a blindagem desse mesmo sistema político contra essa rejeição. Do lado do sistema político, será uma eleição que concede grande vantagem às maquinas partidárias. Do lado do eleitorado, tende a ser uma eleição com altos índices de abstenção e de voto brancos e nulos. Da parte do sistema político, tende a ser uma eleição com baixas taxas de renovação efetiva de representantes.

A cúpula do sistema político parece convencida de que alguma mudança de relevo é necessária, e apenas pretende que, dentro do possível, sejam os mesmos personagens da atual política que façam a mudança.

 

Artigo: A Nova Memória Coletiva

Por: José Roberto de Toledo

A praticidade matou a privacidade, e vai continuar matando.

Quanto mais tecnologicamente prática a vida se torna, menos privada ela é. Pergunte ao seu celular.

 

Artigo: O Grau Zero da Linguagem

Por Salman Rushdie

A passagem do tempo muitas vezes altera o significado de um fato. À época do Império Britânico, a revolta militar de 1857 na Índia ficou conhecida como “motim indiano” (...). Hoje, os historiadores indianos se referem ao acontecimento como uma “revolta” (...). A história não é escrita na pedra. O passado é constantemente revisado, em consonância com os pontos de vista do presente.

Em toda a obra de Jane Austen, as Guerras Napoleônicas mal são mencionadas; na obra imensa de Charles Dickens, a existência do Império Britânico só é reconhecida de passagem.

Como resistir à erosão da aceitação pública até mesmo de “fatos básicos”, fatos científicos e comprovados sobre (por exemplo) as mudanças climáticas e a vacinação infantil?

 

POESIA

Autor: Abbas Kiarostami (1940-2016)

 

Na tua ausência

converso

contigo,

na tua presença

converso comigo.

 

Hesitante

estou numa encruzilhada,

o único caminho que conheço

é o caminho da volta.

 

Aos olhos dos pássaros

o ocidente

é onde o sol se põe

o oriente

onde o sol nasce,

apenas isso.

 

 

MAIO/18

Artigo: O Herdeiro (sobre Guilherme Boulos)

Por: Fabio Victor

[Para o MTST] Só tem direito a pleitear moradia quem participa dos atos até o fim. A prática consta no regimento interno do MTST, segundo o qual “o critério principal para a conquista de moradia é a participação nas lutas e assembleias”.

 

Artigo: A guerra do PCC

Autor: Allan de Abreu

A facção proibiu o consumo de crack nos presídios, e passou a auxiliar os detentos “batizados”, chamados de “irmãos”, com advogados e cestas básicas para os familiares. A renda vinha do crime: o controle da compra e venda de drogas dentro dos presídios e o patrocínio de assaltos e seqüestros fora deles, sem contar rifas e uma taxa mensal, que atualmente é de 950 reais apelidada de “cebola”, que todos os filiados são obrigados a pagar.

[O valor do auxílio reclusão que nós contribuintes pagamos é hoje (ago/18) de R$ 1.3189,18 – é mais de 30% que o salário mínimo, atualmente de R$ 954,00!!!!]

O PCC (...) está infiltrado nas instituições do Estado (há dois anos, por exemplo, um membro do PCC foi acolhido no Condepe, o conselho de defesa dos direitos humanos de São Paulo).

 

Artigo: Histórias da Rússia – Uma viagem pelo país da revolução bolchevique cem anos depois

Por: Karl Ove Kanusgard

Karl pergunta: Já se passaram 100 anos desde a revolução. O que isso significa para vocês?

- Não damos bola para isso. Foram 100 anos sem Deus. Puseram abaixo todas as igrejas. Agora elas estão sendo reconstruídas e a gente pode ir à igreja sem medo.

O que fez você se voltar para a fé?

- Perguntei a mim mesma o que poderia fazer por ele depois da morte de meu pai. E, nos ensinamentos do islã, lê-se claramente: você deve dar esmolas aos pobres, fazer a peregrinação a Meca e sacrificar um bode.

Em Varsóvia, os edifícios destruídos na Segunda Guerra Mundial foram substituídos por réplicas imaculadas. (...) O velho não era velho, o novo não era novo. Onde estávamos então?

Uma história reina soberana, e todo e qualquer desvio em relação a ela é proibido. Foi assim à época dos czares, que censuravam livros e jornais; foi assim também sob Lênin; e assim é hoje ainda – na Rússia, jornalistas são presos regularmente e, por vezes, assassinados, sem mais.

As pessoas têm um mecanismo que as impede de falar sobre experiências ruins e as faz relutantes quando se trata de remexer no passado. (...) Nossa identidade é moldada por histórias, histórias sobre nossa própria história, sobre a história de nossa família, sobre a  história de nosso povo ou de nosso país.

Serguei Lebedev (Jornalista e romancista): A cada ano tentam reduzir a importância de 1917. fazem isso porque, em sua versão ideal dos acontecimentos, não houve revolução! Estão tentando estabelecer  um vínculo ininterrupto entre os czares e a Rússia de Stálin. De acordo com a  narrativa atual, espiões estrangeiros e traidores nos provocaram a matar uns aos outros 100 anos atrás. Isso não pode acontecer de novo. Portanto, temos que  nos unir; portanto, precisamos seguir a bandeira de Putin; portanto, temos que sacrificar os direitos civis, porque não pode acontecer de novo. Em linhas gerais, é isso.

Lebedev: Mas se você quiser entender o que aconteceu neste país nas décadas de 20 3 30, não pode ignorar a violência e os horrores dos cinco anos entre 1917 e 1921. não vai conseguir entender por que as pessoas estavam tão dispostas a matar umas às outras. Tem havido  uma espécie de guerra pela memória aqui na Rússia, uma guerra em que se disputa o que deve ser lembrado ou esquecidos.

Poucas coisas são mais belas que a esperança vã.

 

JAN/19

Artigo: Genocídio no Brasil – Em reportagem de 1969, o extermínio sem fim dos índios no Brasil.

Autor: Norman Lewis, jornalista inglês.

Jesuíta missionário José de Anchieta: “Não há melhor pregação do que a espada e a vara de ferro.”

Com a invenção do automóvel e do pneu de borracha (...) Manaus estava de volta aos negócios instantaneamente convertida em uma Gomorra tropical. (...) Nesse período grassavam orgias babilônicas em que as cortesãs tomavam banhos semipúblicos de champanhe, bebida que também era servida, em baldes, aos cavalos que venciam as corridas de turfe. Homens afeitos à moda enviavam suas roupas sujas – as de cama e as de baixo – para serem lavadas na Europa. (...) a relação sexual com uma virgem era tida como uma cura certeira para doenças venéreas.

Um elemento de competição estava presente quando se tratava de matar índios. De uma feita, 150 trabalhadores irremediavelmente ineficientes foram capturados, reunidos e cortados em pedaços, empregando-se uma pavorosa habilidade local que incluía o “corte do bananeiro”, em que a lâmina do facão era brandida para trás e para a frente decepando duas cabeças de uma só vez, e o “corte maior” em que um corpo era fatiado em duas ou mais partes antes que pudesse tocar no chão.

Algumas das histórias contadas sobre as casas-grandes do Brasil do século passado em seus dias de respeitável escravidão e licenciosidade romana desafiam a imaginação: um escravo acusado de algum crime de ínfima gravidade é castrado e queimado vivo; por ordem de uma senhora enciumada, os dentes de uma bela jovem são arrancados e seus seios amputados, apenas por garantia; outra moça, que descobrem grávida, é jogada viva dentro do forno.

Por que toda essa crueldade sem sentido? O que é que faz com que homens e mulheres, provavelmente de extrema respeitabilidade em sua vida cotidiana, torturem pelo mero prazer da tortura? Montaigne acreditava que a crueldade é a vingança do homem fraco por sua fraqueza; uma espécie de parodia doentia da bravura. “A matança após uma vitória é geralmente perpetrada pela ralé e pela criadagem que carrega a bagagem.”

Francisco Amorim Brito, encarregado geral da empresa seringalista Arruda, Junqueira & Cia., de Juína-Mirim, perto de Aripuanã, no rio Juruema, gostava de fazer troça dos índios, e quando um deles era capturado, levava-o para o que era conhecido como “a visita ao dentista”: o índio recebia ordens para “abrir a boca”, e ato contínuo, Brito sacava uma pistola e atirava dento.

Num outro episódio, Brito arrastou a mulher e pendurou com uma corda em uma árvore, de cabeça para baixo, as pernas bem abertas e com um só golpe do facão abriu o corpo dela ao meio.


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