domingo, julho 11, 2021

REFLEXÕES DE AYN RAND (1905/1982)

Em 1957, ou seja, há quase 65 anos, Ayn Rand escreveu Atlas Strugged (A Revolta de Atlas), um romance ficcional que pode ser considerado como um libelo, uma ode ao liberalismo como o melhor e mais eficaz sistema econômico, ao empreendedorismo como principal ferramenta impulsionadora do desenvolvimento, e à liberdade de pensamento e ação do cidadão como seu direito mais fundamental.

 Por ser uma obra de 1.200 páginas e consequentemente ter reduzidas chances de ser lida amplamente, vou partir dela para iniciar uma série de postagens que trarão o que filósofos e pensadores em geral – desde séculos a.C. - nos deixaram em reflexões sobre os mais diversos aspectos da vida, do mundo, das sociedades, da história etc., mas, em particular, sobre os temas que mais estão presentes em nossa contemporaneidade. As postagens poderão ter duas estruturas: ou trazendo as reflexões de vários autores sobre um ou mais temas específicos (mas que se relacionam) ou, quando se justificar, como no caso de hoje, reflexões de um só pensador, quando o volume suas manifestações se justificar. Em todas as postagens haverá uma introdução minha seguida, então, por uma lista de citações. Vou procurar colocar o maior número possível de links onde o leitor poderá encontrar mais informações, tanto sobre o autor quanto sobre sua obra. Ressalto que, de qualquer forma, parte do que você vai encontrar aqui foi extraído da Wikipédia, e outra parte dos “extratos” das leituras que faço.

As citações selecionadas nesta postagem[1] não são declarações de Ayn, mas sim extraídas de falas de diversos de seus personagens em A Revolta de Atlas[2]. Agrupei-as de acordo com a similaridade ou correlação dos assuntos. Como introdução, destaco o pequeno diálogo que justifica o título (a única vez em que identifico os personagens), e o que aparecer entre colchetes é uma anotação minha.

Franciso D’Anconia:

Sr. Rearden, se o senhor visse Atlas, o gigante que sustenta o mundo todo em seus ombros, se o senhor visse o sangue escorrendo pelo peito dele, os joelhos tremendo, os braços estremecendo, porém ainda tentando sustentar o mundo com suas últimas forças, e se quanto mais ele se esforçasse, mais o mundo lhe pesasse nos ombros, o que o senhor lhe diria que fizesse?

Rearden: Eu não sei.

D’Anconia: Eu diria: sacuda os ombros.

 

Bom proveito!

 

HOMEM, VIDA

Quando um homem pensa, há uma luz acesa em sua mente.

O que orienta as ações humanas? As conveniências do momento.

O homem existe para realizar seus desejos.

O homem cujos atos contradizem as suas convicções, não passa de um hipócrita barato.

Todo homem constrói seu mundo à sua imagem e semelhança. Ele tem o poder de escolher, mas não tem o poder de fugir à necessidade de escolher.

Nenhum homem representa uma ameaça aos objetivos dos outros, se os homens compreendem que a realidade é um absoluto que não pode ser falseado, que a mentira não funciona, que o gratuito não pode ser possuído, que o imerecido não pode ser dado, que a destruição de um valor que existe não confere valor ao que não existe. 

Só há duas alternativas fundamentais no universo – existência ou não existência.

Juro, por minha vida e por meu amor a ela, que jamais viverei por outro homem, nem pedirei a outro homem que viva por mim.

Vi que chega um ponto, na derrota de todo o virtuoso, em que o mal necessita do consentimento desse homem para vencer – e que nenhum mal que os outros lhe possam fazer terá sucesso se ele lhes negar seu consentimento. Vi que eu podia dar fim aos absurdos cometidos por vocês, pronunciando mentalmente uma única palavra. Pronunciei-a: “não”.

 

MORAL, VALORES

Moralidade é o julgamento que permite distinguir o certo do errado, é a visão que enxerga a verdade, é a coragem que age com base no que vê, é a dedicação ao que é bom, é a integridade de quem permanece no lado do bem a qualquer preço. Mas onde se encontra isso?

Um código aceito por escolha é um código moral.

O homem precisa de três coisas como valores supremos e dominadores de sua vida: razão, determinação e amor-próprio.

 

FATOS, VERDADE

Não existem fatos objetivos. Toda reportagem não passa da opinião de alguém. Portanto, é inútil escrever sobre fatos.

Como é que você sabe o que é certo? Como alguém pode saber não passa de uma ilusão para lisonjear seu próprio ego e magoar as outras pessoas, exibindo sua superioridade.

A verdade é o reconhecimento da realidade (...).

 

POLÍTICA, SOCINISTAS, MENTIRAS, VITIMISMO, INIMIGO

Sabe o que caracteriza o medíocre? É o ressentimento dirigido às realizações dos outros.

Os saqueadores acham que não há perigo em roubar homens indefesos, depois que aprovam uma lei que os desarme.

Atualmente acredita-se que meu próximo pode me sacrificar de qualquer modo que ele bem entender para atingir qualquer objetivo que considere bom para si, desde que ache que pode se apossar da minha propriedade simplesmente porque precisa dela.

Recuso-me a pedir desculpa por ser mais capaz – não aceito pedir desculpa por ter tido sucesso -, me recuso a pedir desculpas por ter dinheiro. (...) quando se violam os direitos de um homem, violam-se os direitos de todos, e que um público constituído de seres desprovidos de direitos está fadado à destruição.

Não há como fugir da justiça. Nada no universo pode ser imerecido e gratuito, tanto no âmbito da matéria quanto no do espírito – e e os culpados não pagam, então são os inocentes que têm que pagar.

O único poder do inimigo é a consciência da vítima.

[Argumenta o defensor do governo arbitrário] A liberdade é impossível. O homem jamais pode estar livre da fome, do frio, da doença, dos acidentes. Ele jamais pode estar livre da tirania da natureza. Então por que reclamar da tirania de uma ditadura política?

[A respeito da tentativa de tirania] É só aguentar os momentos seguintes. Depois é só aguentar mais uns momentos, uns poucos de cada vez, que então fica mais fácil. Depois você se acostuma.

Não é preciso se preocupar com os intelectuais. Basta botar alguns deles na folha de pagamento do governo e mandá-los pregar exatamente a idéia de que a culpa é das vítimas.

Bastou a primeira assembleia pra gente descobrir que todo mudo tinha virado mendigo. (...) O jeito era chorar miséria, porque era a sua miséria, e não o seu trabalho, que agora era a moeda corrente de lá. (...) Não há maneira melhor de destruir um homem do que obriga-lo (...) a se esforçar por fazer o pior possível dia após dia. (...)

O homem agora se elevará por obra dos esforços que não fez, será honrado pelas virtudes que não demonstrou ter, será pago pelos bens que não produziu.

Não existem mentiras benévolas, só existe destruição, e as mentirinhas benévolas são as mais destruidoras de todas.

[O pensamento socinista quer...] Culpar a vitima de um assalto de corromper a integridade do marginal

Quem é você para pensar? (...) Quem é você para saber? Os burocratas é que sabem. Quem é você para protestar? Todos os valores são relativos!

[Para os ditos progressistas a regra de conduta moral é...] Se vocês desejam algo, isso é mau; se os outros desejam alto, isso é bom; se a motivação de seu ato é seu bem-estar, não o realizem; se a motivação é o bem–estar dos outros, então vale tudo. (...) é para a própria felicidade que vocês têm que servir à felicidade dos outros. (...) Não, os que recebem não são maus, desde que não mereçam o valor que lhes deram. (...) É imoral viver do próprio trabalho, mas é direito viver do trabalho dos outros. (...) É mau criar a própria felicidade, mas é bom gozá-la quando o preço dela é o sangue dos outros. (...) É a infelicidade que lhes dá o direito de ter recompensas.

Todo ditador é um místico, e todo místico, um ditador em potencial. O místico quer que os homens lhe obedeçam, não que concordem com ele. (...) A razão é o inimigo que ele teme. (...) e quando lhe obedecem, ele passa a dar ordens contrárias, pois o que quer é a obediência pela obediência, a destruição pela destruição.

Eles não querem possuir a sua fortuna: querem que vocês a percam.

Elogiam qualquer empreendimento que se pretenda não lucrativo e maldizem os homens que ganharam os lucros que tornaram viável o empreendimento.

 

LIBERALISMO, LUCRO

Se, no passado, um único empresário tivesse tido a coragem de afirmar que trabalha apenas para lucrar e o dissesse com orgulho, ele teria salvado o mundo.

[No ambiente da política...] Todo mundo sabe alguma coisa que compromete todos os outros, e ninguém ousa fazer nada porque não sabem quem vai ser o primeiro a abrir o jogo, nem como nem quando.

Os gatos ensinam seus filhos a caçar, as aves se esforçam tanto para fazer com que seus filhotes aprendam a voar – e, no entanto o homem, cuja sobrevivência depende de sua mente, não apenas não ensina seus filhos a pensar como também dá a eles uma educação que visa destruir seus cérebros, convencê-los de que o pensamento é fútil e malévolo, antes mesmo que eles comecem a pensar.

A mente do homem é o instrumento básico de sua sobrevivência. A vida lhe é concedida, mas não a sobrevivência. Seu corpo lhe é concedido, mas não o seu sustento. Sua mente lhe é concedida, mas não o seu conteúdo.

“Valor” é aquilo que se age para ganhar ou conservar; “virtude” é o ato por meio do qual se ganha ou se conserva o valor.

O homem que deixa que um líder determine seu percurso é um veículo amassado sendo rebocado para o ferro-velho.

Não entro em discussão com aqueles que acham que podem me proibir de pensar.

O mal é impotente e só dispõe do poder que lhe permitimos arrancar de nós.

Qual é o monumento ao triunfo do espírito humano sobre a matéria: os barracos imundos à margem do Ganges ou os arranha-céus de Nova York?

Somente um escravo pode trabalhar sem o direito de guardar para si o produto de seu esforço.

Quando a lealdade a um objetivo inarredável é abandonada pelos virtuosos, ela é assumida pelos canalhas (...)

Todo ato na vida do homem depende da vontade.

A força, a fraude e o saque, é só o que eles conhecem!



[1] O conteúdo de todo o extrato de A Revolta de Atlas você encontra em: http://www.sendme.com.br/EXTRATOS/NotasDeRevoltaAtlas.htm

[2] Para saber sobre o mito de Atlas e melhor entendimento da expressão, acesse: https://pt.wikipedia.org/wiki/Atlas_(mitologia)


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