sábado, fevereiro 18, 2023

SHIBUYA OU LEVIATÃ

 

Eu não tenho um sonho como Martin Luther King Jr., mas tenho um desejo, o de manter um debate com um adepto de políticas socinistas[1]. Recuso-me a ofensas, lacrações e “não vou lhe responder” como ouvi de um bolsofóbico a uma pergunta simples que lhe fiz. Como meu dogma é “ninguém convence ninguém”, o propósito é o de tentar entender o que sustenta um indivíduo, informacionalmente[2] bem aquinhoado, defender com posturas radicais a negação, ou melhor, o descarte das características fundamentais do ser humano, em prol da construção de um modelo que propõe a transformação de todos nós em zumbis e posteriormente a criação destes novos seres em linha de montagem gerenciada pelo “grande Leviatã”, o Estado totalitário nas mãos dos psicopatas e seus baba-ovos úteis. E, em contrapartida, ter a oportunidade de apresentar de modo coerente os fatos e percepções que estão na base do modo como conduzo minha vida e de como entendo que as sociedades humanas devem ser administradas.

Imbuído, portanto, deste desejo, pretendo apresentar aqui algumas questões de lógica política, social, biológica e moral, basicamente. Aqueles que me lerem fica desde já lhes dado o direito e a liberdade de, via Whatsapp, por comentário aqui no blog, ou por mensagem de emeio, me enviar seus pensamentos, reflexões, questionamentos e contra-argumentos. Sem isso, isto não terá sentido dar continuidade com outras proposições além desta (veja aqui[3] normas básicas de conduta a serem observadas).

Vamos à primeira questão. A ideia central do socinismo é o poder do Estado sobre os cidadãos de segunda classe[4]. E eu tenho uma torturante dificuldade em imaginar uma fórmula que parta do princípio de que um punhado de indivíduos – cerca de 1% da população – tenha um aparato tal de conhecimento, “verdades”, que os habilita a impor regras aos demais, em todos os aspectos da vida, de como devem se conduzir! O busílis da questão é como conseguir que 99% de cidadãos de uma nação abram mão de suas percepções, convicções, características genéticas, valores adquiridos por educação familiar, muito disto oriundo de um autoaprendizado diário, para adotarem plena e completamente valores que, em alguma medida, são contrários às suas naturezas?

Se a natureza humana é diversa e única, se não existe nos atuais 8 bilhões de seres humanos dois que sejam iguais – esta não é uma constatação minha, mas da genética - no máximo podem haver dois semelhantes, divergentes em um certo conjunto de certezas individuais, por maior que sejam as convergências, como, e por quê, há indivíduos que creem poder normatizar o funcionamento do espírito humano que é condutor de nossas reações emocionais e atos consequentes?

Provavelmente alguns leitores hão de ter visto esta imagem de um cruzamento em frente à estação Shibuya do metrô de Tóquio. Ele é um dos dois mais movimentados do mundo.

 

Eu considero esta imagem o exemplo de como tudo na vida funciona, ou seja, é a liberdade de busca de interesses individuais diversos que se tem o melhor resultado final para todos. Um vídeo que encontrei mostra ainda melhor o que estou dizendo.


Perceba que, exceto o semáforo e as faixas de pedestres, não há qualquer regra sendo obedecida. Melhor dizendo, a regra é cada um por si, pelos interesses egocêntricos que transitam pela mente de cada um dos mais de 2 mil humanos naqueles momentos da travessia. Repare que há indivíduos em todos os sentidos e direções. Há um indivíduo que pedala transversalmente às faixas e boa parte nem mesmo caminha sobre elas. E apesar da luz vermelha ter acendido, ainda há indivíduos atravessando.

Isto mostrado vem a pergunta que deixo para os estatistas. Considerando que Shibuya é a síntese de como todos nós nos conduzimos ao longo de nossos milhões de minutos de vida, como seria o algoritmo para fazer com que cada indivíduo agisse apenas conforme os desejos do Estado? Como dizer para cada cidadão que eles precisam seguir um conjunto de regras impossíveis de serem memorizadas[5] e executadas conforme o desejo do “grande Leviatã”[6]?



[1] Lembrando: socinista é a denominação que uso para referenciar o pacote hipócrita das ideias socialistas – lado soft - e comunistas – lado hard - de subjugação da natureza humana.

[2] Estou procurando abolir o uso do qualificativo “culto” a quem quer que seja, eu incluso. Por tudo que vi/ouvi nestes últimos 5 anos, ganhei a convicção de que cultura é algo subjetivo, fluido, maleável e manipulável. Prefiro, então, trabalhar apenas com a quantidade de informação a que uma pessoa teve acesso e guardou em sua bagagem mental. Evidentemente, e aí está o problema, informação também é algo fluido, maleável e manipulável, mas não é subjetiva, a informação é ou não existe. À cultura pode receber uma avaliação de qualidade, a informação não, por mais que narrativas tentem e discursos usem referenciar “fontes confiáveis” como uma chancela para o que querem que outros acreditem. Toda informação tem em seu bojo um “interesse” particular em sua disseminação.

[3] Primeiro, palavrão usado como agressão, acusações morais ou intelectuais, humilhação, depreciação, ameaças de qualquer natureza, e manifestações de intolerância quanto a mim ou, eventualmente, quanto a terceiros, serão motivo para encerramento de troca de ideias e bloqueio ou filtragem quando tais recursos estiverem disponíveis. Segundo, as minhas argumentações serão postadas aqui no blog e sempre junto com a opinião que tiver dado motivo a ela. Entretanto, só identificarei o autor da mensagem a que estiver respondendo se eu tiver sido autorizado explicitamente a fazê-lo, do contrário farei referência apenas a “um leitor”. Terceiro, é preciso ter em mente que o objetivo é crescer intelectualmente, tanto no nível pessoal quanto no que possa contribuir para outros cidadãos.

[4] A divisão da população em duas categorias, os dominadores e os dominados, não é um privilégio do socinismo, qualquer sistema de administração de uma sociedade, por menor que ela seja, só existe enquanto há tal separação. A diferença é de forma, não de conteúdo.

[5] Experimente criar uma receita a ser obedecida a cada pedestre de modo a que todos cheguem ao final da travessia no tempo e local desejado.

[6] Uso aqui Leviatã no sentido dado por Thomas Hobbes, filósofo inglês, que em sua obra afirmava que a "guerra de todos contra todos" que caracteriza o "estado de natureza" só poderia ser superada por um governo central e autoritário. O governo central seria uma espécie de monstro - o Leviatã - que concentraria todo o poder em torno de si, e ordenando todas as decisões da sociedade. Fonte: Wikipedia.






terça-feira, janeiro 17, 2023

DE HERÓIS A TERRORISTAS


O país em que nascemos não existe mais, pois para ser reconhecido como tal, é necessária a obediência a uma Constituição, a subordinação necessária e suficiente para unir milhões de cidadãos em torno da sustentação de uma identidade unificadora, a nacionalidade.

Durante mais de dois meses, centenas de milhares de cidadãos, em manifestações absolutamente pacíficas, se abnegaram sob sol e chuva à frente de unidades das FFAA clamando um SOS enquanto ainda acreditavam haver uma ação de salvação, de libertação do jugo de uma grupo de insanos que tomaram o phoder. Durante aquele período foram ignorados ou desprezados pela imprensa moribunda e corrupta, mas, inversamente, tratados como heróis, em todas as vias de comunicação alternativas, pelos que estavam (ainda estão?) convictos de que é só na intransigente defesa dos valores da família e das liberdades individuais é que os seres humanos podem buscar a felicidade, o maior dos direitos fundamentais dos seres humanos. 

Ou não seremos humanos como os judeus não foram, os armênios não foram, ambos alvo da sana de poder que precisa de um alguém para colocar sua raiva "do bem". Exatamente como estão sendo usados os manifestantes do domingo, aí sim, criminosamente, para servirem de "exemplo" a quem ainda estiver pensando em se manifestar.

O que assistimos na última semana de dezembro de 2022, foram diversas manifestações de esperança através de ideias até mirabolantes de um “algo” estava para acontecer em prol daquele movimento. Os dias foram passando e a esperança se esvaindo, até que na primeira semana de 2023 a consciência do “perdeu mané” se instaurou no ânimo de todos levando-os, como ato derradeiro, convocar uma grande manifestação em Brasília para o povo tomar a posse simbólica das casas que, por direito político, é do povo, mas que por direito abjetamente usurpado, estão, hoje, invadidas pelos integrantes do pior e mais desqualificado grupo político que o país já houvera visto até então.

Uma manifestação que por diversas razões se prenunciava gigante, foi ignorada pelas “autoridades” recém constituídas, mas devidamente considerada por convenientes militantes radicais de esquerda que se infiltraram e promoveram os atos de vandalismo já tão amplamente praticados em outras ocasiões e que constituem o “modus operandi” de tais indivíduos.

Não descarto a possível, e até provável, participação nas depredações de radicais de direita, eles existem. Ocorre que e enquanto pessoas do bem pediam e gritavam para que não fosse praticado um quebra-quebra, outros de mente fraca, tomados pelo momento emocional que lhes tirava a razão, embarcavam na onda destruidora sem ter tempo de imaginar as consequências que poderiam advir. Mas daí a tratar os manifestantes como um todo sem rosto como foram tratados, vai um abismo de diferença. O pouco que ouvi entre Jovem Pan, Bandeirantes e CNN, me deu nojo do jornalismo brasileiro (como se não bastasse o que já fizeram). Mas o que me chocou sobremaneira, foram as declarações de Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantino condenando de forma agressiva, veemente e absurda, sendo contra os manifestantes, acusando-os até de criminosos (Globo, SBT, Band e CNN chegaram a chamar a todos de "terroristas"), colocando "no mesmo balaio peixe fresco e peixe podre", não separando o quem é quem, cidadãos de bem de uma lado, vândalos de outro, estes sim, terroristas. Um nonsense completo, pois a absurda maioria são aqueles que até há poucos dias eram exaltados como HERÓIS e hoje estão amontados no ginásio-campo de concentração da "suprema justiça" tupiniquim. Eu gostaria de saber que, pelo menos estes dois profissionais que muitos de nós aprendeu a admirar a inteligência, se redimissem publicamente e refizessem suas avaliações que pecaram por falta de coerência.

Hoje, já entrados na segunda quinzena de janeiro, estamos assistindo à prática do nazismo raiz pelos novos democratas no phoder (tem certa lógica que depois dos experimentos vacinais, se chegue a este estado prisional) agredindo centenas de cidadãos brasileiros do bem, avós, pais e filhos, que saíram de suas casas no domingo 8, para celebrar o direito de estufar o peito e cantar o hino nacional como brado retumbante por seus direitos que deveriam ser inalienáveis.

Do sofá de nossas residências estamos indignados, solidários aos nossos irmãos, mas tremendo de medo em nossa impotência de reação, pois, se  nem mesmo as FFAA nos ouviram, a quem mais podemos recorrer? Das salas refrigeradas de todas as instituições civis e militares, sem uma exceção sequer, um silêncio macabro e cúmplice das atrozes arbitrariedades que estão sendo cometidas.

No que nos tange, até quando nos calaremos? No que toca àquelas, até quando aceitarão rastejar por nacos do poder? No que importa a todos, que desgraça precisará acontecer para que nos indignemos a ponto de nos revoltarmos a ponto de arriscarmos a própria vida?

 

 





segunda-feira, janeiro 09, 2023

A MORTE DO PAÍS DO FUTURO

  

Quando vem a notícia da morte de alguém, sempre vem junto a causa. Ou foi uma doença grave, uma falência de órgãos, um ataque cardíaco, um suicídio motivado por depressão, um acidente de automóvel, enfim, a morte nunca é do nada, sempre há uma razão plausível que é compreendida e aceita como explicação e que nos conforta em alguma medida. A lembrança da tragédia e sua causa, nos traz um inevitável aprendizado. É a partir dele que crescemos e renovamos nosso sentimento positivo quanto ao futuro.

Há pouco tempo atrás mostrei que o Brasil tinha sido sequestrado por forças estranhas, supranacionais, e não identificadas. Como não houve quem pagasse o resgate, hoje, 9 de janeiro de 2023, pouco mais de 2 meses depois do rapto, estamos recebendo a notícia de que o país, algemado, gravemente ferido em sua alma, subjugado em sua dignidade, foi cruelmente assassinado, não pelos que decretaram a sentença e a executaram, mas por brasileiros covardes, corruptos, canalhas, cafajestes, que de seus esconderijos, longe das vistas do povo, optaram por trocar a existência do Brasil pelo direito de tomarem um banho e lavarem suas calças borradas de um excremento desarranjado expelido pelo medo e pelo interesse umbilical.

Um país não existe por suas fronteiras, mas por quem as conquistou por desbravamento ou luta sanguinária. Um país não existe porque existem tratados que o reconhecem como tal, ele existe porque houve homens dignos e corajosos que, por atos de grandeza e bravura, conquistaram das demais nações tal reconhecimento. Um país não existe porque tem armas, mas porque tem HOMENS que o defendem. O Brasil não foi construído por covardes, mas foi, desgraçada e traiçoeiramente destruído por eles.

O Brasil não existe mais. Nem mesmo um enterro digno irá receber. Foi jogado na vala de esgoto a céu aberto que existe em Brasília. Em sua lápida, se um dia for permitido haver uma, estará escrito: “Aqui jaz o país do futuro. Sonhado por muitos, assassinado por poucos”.

O Brasil morreu. É a notícia que não queríamos nem desejávamos ouvir. Não nos é dada uma causa mortis. Morreu, simples assim. Nos dizem, entre linhas e ordens sem nexo, que resta-nos orar pela sua alma. Nossas almas!!! Não se sabe exatamente quem está por trás de sua sumária execução, pois agora pouco importa (todos já sabemos que o “sistema” que nos domina não se importa com vítimas).

O Brasil, morreu, é apenas um país que talvez os registros históricos o considerem como aquele que poderia ter sido, mas não foi uma grande Nação. É doloroso, mas há que aceitar, pois é um fato, é a realidade.


https://twitter.com/marironim/status/1612550029205446672?s=48&t=G_jznhRkSr4egFPqemyptw


terça-feira, janeiro 03, 2023

SOCIEDADE & JUSTIÇA


“Rara felicidade de uma época em que se pode pensar o que se quer 
e dizer o que se pensa”.

Tácito (cerca de 56 a 117), senador e historiador romano.



 

Tal reflexão foi feita há quase 20 séculos atrás. Não fica claro se ele estava lamentando ou festejando, mas tal dúvida só mostra que as realidades são de natureza cíclica. Nós, brasileiros em especial, estamos na fase de lamentar uma época, até recente, em que podíamos pensar e dizer livremente. Tal período surgiu como consequência do leve cerceamento à liberdade de opinião imposta à imprensa e às manifestação da cultura pelo regime militar entre 1964 e 1985, fase que o pensamento “progressista” (leia-se regressista) classifica, hipocritamente, como de horrorosa e sanguinára ditadura, apesar de não ter chegado aos pés da tirania ésse-te-éfeana atual a que o povo de Xandasquitão está subordinado.


Retirei a manifestação de Tácito de “O Tratado da Natureza Humana”, que acabei de ler, escrito por David Hume aos 27 (!!!) anos. É uma obra extensa, são 700 páginas de difícil leitura, atributo apontado por críticos e que acabou sendo admitido pelo autor. O objetivo maior de Hume foi o que expressou no subtítulo “Uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais”. Ele faz mais do que isso. No meu entender, o que ele procura desnudar ao longo de boa parte do texto é, exatamente, a “natureza humana”, portanto, além dos simples aspectos morais, mostrando sempre em seus raciocínios a conclusão óbvia, mas ignorada pelos que fazem o "L", de que cada ser humano é único em sua essência, mas que, num ambiente de crescente escassez e complexidade das soluções pelo gradativo aumento populacional, precisou, para atingir seus objetivos, se unir a seus semelhantes em torno de alguns tantos objetivos específicos comuns.


Hume trata, entre outros tópicos, “Da castidade e da modéstia”, “Da virtude e dos vícios”, “Da grandeza de espírito”, “Da bondade e da benevolência”, e outros de natureza moral. Passei por eles de modo superficial, pois não os considero no âmbito da natureza humana, mas sim da natureza social, ou seja, de como adaptar a natureza humana às demandas do convívio social, melhor dizendo, do convívio com o outro. Neste artigo, vou trazer algumas reflexões de Hume sobre a necessidade de construção das sociedades e 3 outros temas consequentes: o governo, o poder e a justiça.

 

Hume deposita forte convicção em alguns princípios. Entre eles:

·                 “Os homens não podem mudar suas naturezas.”

·                 “Os homens descobriram que seria impossível manter uma harmonia comum sem algum tipo de restrição a seus apetites naturais”.

·                 “Somente pela sociedade o homem é capaz de suprir suas deficiências, igualando-se às demais criaturas, e até mesmo adquirindo uma superioridade.”

·                 “Aquilo que há muito está sob nossos olhos, e tem sido frequentemente usado em nosso beneficio, é isso que mais relutamos em abandonar; mas podemos facilmente viver sem os bens de que nunca usufruímos e a que não estamos acostumados.”

·                 “O interesse pelo cumprimento de promessas, além de sua obrigação moral, é geral, explícito e da maior importância para a vida.”

 

Ele lista, então, as vantagens que a união de humanos em grupos traz para o indivíduo particular. “A conjunção de forças amplia nosso poder; a divisão de trabalho aumenta nossa capacidade; e o auxilio mútuo nos deixa menos expostos à sorte e aos acidentes. É por essa força, capacidade e segurança adicionais que a sociedade se torna vantajosa.”

 

Compreendida, aceita e posta em prática esta vantagem, surge a necessidade da constituição de uma estrutura organizacional. “Eis, portanto, a origem do governo e da obediência civil.” Não podendo mudar sua natureza humana geneticamente construída, “tudo que podem fazer é mudar sua situação” (eu creio ser mais preciso o termo “mudar suas circunstâncias”), “tornando a observância da justiça o interesse imediato de algumas pessoas particulares”. Como Hume entende que o interesse particular é a energia motora das ações humanas (e eu também), ele completa a frase chamando a atenção para o fato de que tal delegação de poder deve ter na “sua violação, seu interesse mais remoto”. Tal formulação para mim é indicativa de que há 300 anos a violação, tal como hoje, não era “o interesse mais remoto[1].

 

Hume é até ainda mais realista em relação aos instintos básicos da natureza humana. Atente par este trecho. “Frequentemente podemos esperar, dada a irregularidade da natureza humana, que esses governantes irão desconsiderar até mesmo esse interesse imediato, e que suas paixões os levarão a todos os excessos da crueldade e da ambição.”

 

Tendo implantado a sociedade, o governo, delegado a administração a governantes, inevitável chegarmos à instituição do poder. Temos que admitir que na esfera pública o direito do mais forte deve ser aceito como legítimo, sendo autorizado pela moral, quando não se opõe a nenhum outro direito.”

 

Mas e quando há fragrante desrespeito a direitos consagrados dos cidadãos? Bem, diz Hume, “no caso de uma tirania e opressão atroz, é legítimo pegar em armas, mesmo contra o poder supremo; e que, como o governo é uma mera invenção humana com o objetivo de proporcionar um mútuo benefício e segurança às pessoas, deixa de impor uma obrigação, natural ou moral, quando não tem mais essa tendência”. Ou seja, insurgir-se passa a ser um dever moral e “aqueles que (...) negam o direito de resistência, renunciam a qualquer pretensão ao bom-senso, e não merecem uma resposta séria”.

 

Hume percebeu que, em uma sociedade, não há apenas um código moral válido para todos, mas sim dois códigos que são referendados “pela prática de todas as épocas:  há um sistema de moral concebido especialmente para os príncipes, e muito mais livre para aquele que deve governar as pessoas privadas”.  Ele explica dizendo que, “embora a moral dos príncipes tenha a  mesma extensão, não tem a mesma força que a das pessoas privadas, podendo ser legitimamente transgredida por um motivo mais fútil”. Creio que o Leitor está entendendo e lhe vindo à memória um monte de exemplos.

 

Tendo implantado a sociedade, o governo, delegado a administração a governantes, aceita a realidade do princípio do poder dos "príncipes", e identificada a necessidade de um ou mais códigos morais, temos que resolver os conflitos entre indivíduos, grupos e sociedades: eis que surge "a justiça". Hume tem a visão de que a justiça não fazia parte das sociedades primitivas. Como ele não explicou como a coisa devia funcionar nesses primórdios, deduzo que as questões eram resolvidas na porrada, com ou sem tacape.

 

Aumento de população e escassez consequente, são, para Hume, os motivadores dos conflitos e a necessidade de uma instituição para dirimir conflitos. “Se os homens dispusessem de tudo com a mesma abundância, ou se todos tivessem por todos a mesma afeição e terna consideração que têm por si mesmos, a justiça e a injustiça seriam igualmente desconhecidas do homem.” Esse é o fundamental princípio que implode na base o discurso de igualdade proclamado pelos "regressistas".

 

“Justiça e injustiça têm dois fundamentos diferentes: o do interesse próprio, quando os homens observam que é impossível viver em sociedade sem se restringir por meio de certas regras; e o da moralidade, quando já se observou que esse interesse próprio é comum a toda a humanidade, e os homens passam a ter prazer em contemplar ações que favorecem a paz da sociedade, sentindo um desconforto diante daquelas que são contrárias a ela.”

 

Considerando que a natureza humana é egocêntrica – a afirmação é minha, mas coerente com as ideias de Hume -, para o ser humano é praticamente impossível olhar, visualizar, imaginar, para além de sua necessidade imediata, premente. A consequência prática é tornar a “observância das leis da justiça nosso interesse mais próximo”, e consequentemente, “sua violação, nosso interesse mais remoto. Mas como isso é impraticável com respeito a toda a humanidade, só pode funcionar relativamente a umas poucas pessoas, em quem criamos um interesse imediato pela execução da justiça. São essas pessoas que chamamos de magistrados civis, reis e seus ministros, nossos governantes e dirigentes, que, por serem indiferentes à maior parte da sociedade, não têm nenhum interesse ou têm apenas um remoto interesse em qualquer ato de injustiça”.

 

Há ainda um aspecto pior do que a falta de interesse em fazer prevalecer a justiça. “Os juízes que são obrigados a dar uma sentença decisiva a favor de apenas uma das partes, frequentemente sentem-se confusos, sem saber como determinar a questão, tendo então de proceder com base nas mais frívolas razões desse mundo.”

 

Conceitualmente Hume esteve corretíssimo ao dizer que “sempre que o magistrado civil leva sua opressão ao ponto de tornar sua autoridade intolerável não temos mais obrigação de nos submeter a ele. A causa cessa; o efeito, portanto, também deve cessar.” Não para Xandão.

 

“quando os direitos se misturam e se opõem em diferentes graus, frequentemente causam perplexidade; e são menos suscetíveis de ser solucionados pelos argumentos de juristas e filósofos que pela espada dos soldados”. É, mas nossos soldados guardaram a espada faz tempo e não lembram onde!

 

“Quando o magistrado supremo (...) pretende usurpar as prerrogativas de outras autoridades e estender seu poder para além dos limites legais, é permitido resistir a ele e depô-lo, embora essa resistência e violência possam, no teor geral das leis, ser consideradas ilegais e subversivas.” Enquanto a primeira parte do parágrafo vai fazer a alegria dos que reivindicaram e ainda reivindicam um contragolpe, esse trecho final será de fazer babar de prazer um "regressista" raiz.

 

Hoje estamos vivendo em um espaço territorial que até quando tinha uma Constituição sendo respeitada, podia ser chamado de país. O Brasil hoje não é mais um país, pois em minha concepção, se não há uma base legal a reger uma sociedade diversa como a dos brasileiros - independente de estar escrita -, não há mais país. Neste contexto, reproduzo e concordo com Hume quando ele afirmou que “tomar uma decisão contrária às leis da justiça seria com igual frequência um exemplo de humanitarismo tanto quanto tomar uma decisão conforme a elas. Os juízes  tiram do pobre para dar ao rico; conferem ao vagabundo os frutos do esforço do trabalhador; e põem nas mãos do depravado os meios de causar danos a si mesmo e aos demais”. Esta frase resume toda a crença dos que não conseguem perceber uma obviedade ululante, qual seja a de que isso só dura até que todos os ricos, trabalhadores e virtuosos tenham sido dizimados!

 

Hume acredita que “o conjunto do sistema do direito e da justiça é vantajoso para a sociedade e para cada indivíduo; e foi tendo em vista esta vantagem que os homens a estabeleceram, por meio de suas convenções voluntárias”

Há que respeitá-las ou as sociedades desmoronaram sob seu próprio peso.[2]

 

 

 

[1] Sugiro que o Leitor acesse no Youtube o canal “Meia hora com Motta” do dia 03/01/23 e assista a primeira parte até quando ele termina de contar sobre como era Nova York no início dos anos 1900.

[2] Hume ficou abalado com as críticas que sua obra recebeu. Este artigo com uma poucas citações que colhi, são um fragmento de sua obra. O fiz apenas por identificar uma contemporaneidade dos temas. É sim um texto árido, mas quem tem muito interesse na temática central que ele aborda, tem que ser lido.















quinta-feira, novembro 17, 2022

O SEQUESTRO DE UMA NAÇÃO

Você pode ouvir o áudio neste link. (14:40 mins.)

A Ordem, a Preparação e a Ação

A ordem dada foi clara e não admitiu contestação: “Tirem Bolsonaro do poder”.

Ela veio de fonte desconhecida, em data imprecisa no início de 2019, e comunicada a um subalterno não identificado, com a orientação de repassá-la aos  integrantes de TODAS as instituições brasileiras. A primeira evidência de ela estar em curso, surgiu em mar/19, ao ser instaurado, por Dias Toffoli, um inquérito, em segredo de justiça, para combate a “fake news”. Coube a Alexandre de Moraes  escolher os alvos e aplicar as sanções. Foi o início de um implacável processo de cerceamento da liberdade de expressão que vinga até hoje.

No final de abril de 2020, o ex-BolsoDoria, aconselhou Paulo Guedes a “desembarcar do governo”. Guedes não aceitou. Tal atitude de Doria, foi motivada pela saída de Moro, até hoje mal ajambrada e mal explica.

A liberdade de expressão foi sendo sumariamente suprimida, mas só se vindas do lado direito do espectro político.  Atos de censura, cancelamento, desmonetização, exclusão de canais digitais, bloqueio de contas bancárias e prisões arbitrárias de jornalistas e políticos, tudo foi executado sem qualquer reação. As instituições estavam funcionando, mas muito mal, com certeza.

Quanto mais o pleito se aproximava, novas “surpresas” emergiam de todos os lados.  Em abril de 2022, um expoente do capitalismo brasileiro transcontinental, “incentivava” uma jovem deputada a integrar a milícia esquerdista contra o governo. Ambos, junto com o ministro Barroso, participaram de um evento nos Estados Unidos para “tratar” de “Como derrubar um Presidente”. Dada a idade avançada do personagem e sua riqueza bilionária, se não é o dinheiro que o mobiliza, o que será?[2]

Uma luz vermelha começou  a piscar iluminando a escuridão de onde surgiam perguntas atônitas tateando respostas.

Agora me dirijo a você. Na busca de seu merecido sono hoje à noite, peço que se deixe vagar na busca de qual seria a razão que o faria aceitar se apresentar frente à sua família e amigos como um asqueroso verme, tal qual fez Geraldo Alckmin. O quê você aceitaria como “argumento” impossível de ser rejeitado? Uma arma apontada para sua cabeça? Uma ameaça real à sua família? Uma chantagem moral? Um apelo por um ato heroico, altruísta, mas que não pode ser revelado? Tendo se submetido por quaisquer destes, ou de outros, argumentos, o que você diria aos seus ao voltar para casa? Diria a verdade? Ou faria uma declaração do tipo “confie em mim, pois não posso revelar as razões que me fazem rastejar?”.

Não só para a cúpula dos petistas, mas para todos os seus militantes e apoiadores, a presença de Alckmin na campanha de Lula como seu vice, era inimaginável. O que Lula terá dito a seus correligionários mais próximos? Lembro que a aceitação de tal realidade foi como a de ovelhas a caminho da tosquia. Como nem o supra-supremo poder, com PH, queria Lula, a alquimia foi encontrar um político sem caráter, um que se rebaixasse ao nível do chão. Com Alckmin, descobriram um jeito alckimista de comportamento moral. E assim os dóceis submissos e achacados subalternos, receberam os aplausos do ordenador supremo. 

À banda da alckmia se juntaram “capitalistas” de toda estirpe, pois ser intelectualmente honesto não era preciso, defenestrar Bolsonaro era preciso. Os vermelhos de ontem, hoje escondem seu rubor em deprimentes justificativas à imprensa corrompida. João Amoêdo, fundador de um partido de direita, chega ao cúmulo de dizer que no dia seguinte ao voto em Lula, integraria as forças de oposição... a Lula. Atrás do cordão puxado por João, vieram celebridades do mercado financeiro, liberais de meia-tigela, que desconfio terem ouvido um passarinho lhes segredar que “é melhor você aderir agora, depois você segue seu caminho, pois caso contrário...”. A opção final, afinal, sempre é pelo próprio umbigo. E assim decidiram Helenas, Armínios, Pérsios e tantos outros.

Em outra viagem de recreação de iluministros a Portugal, saiu uma proposição a favor da mudança do regime para um outro, semi-presidencialista. Tudo certo se formulada pelo Congresso, mas por integrantes do poder judiciário? Em que se apoiaram tal ousadia? Não é só cara-de-pau, cara pálida!!! Era tudo pelo cumprimento da ordem: "tirem Bolsonaro"!

O que justifica o silêncio do Congresso Nacional, representante e defensor obrigatório dos direitos do cidadão, em clara postura de subserviência e covardia? O que faz um Presidente da República, legitimamente eleito, aceitar a ingerência do judiciário sobre direitos e responsabilidades inerentes a seu cargo? O que respalda instituições nacionais do direito, terem se mantido mudas frente ao cometimento, por um único ministro, de uma verdadeira firula jurídica, anulando condenações de um político em 3 instâncias, e habilitando-o a voltar “à cena do crime”? Evidencia-se que no bojo da “ordem” estava implícito: “tirem Bolsonaro, o que vão colocar no lugar não nos interessa”.

José Dirceu garantiu “vamos tomar o poder”; Barroso confirmou "eleição não se ganha, se toma”; Camem Lúcia abriu sua boca e votou pela “interrupção temporária” das liberdades; hipócritas e radicais recalcados, lacraram e cancelaram; o prenúncio do futuro nos foi mostrado, mas preferimos nos deixar contaminar pelo vírus da Disfunção Cognitiva, aquele que nos engana que eu gosto, e acabamos por assistir ao criminoso e violento sequestro da soberania de um povo. O que pedem como resgate? Só a subserviência da nação, ou seja, de todo um povo a interesses estranhos, estrangeiros, escusos e alheios à nossa vontade, mas primordiais para o supra-supremo oculto poder, com PH.

Nada é do nada. Tudo tem uma sequência de causas e efeitos. Do “chega, pôrra!” de Bolsonaro até o “EU AUTORIZO!” do povo nas ruas e da decepcionante resposta de Bolsonaro com uma carta-declaração de abdicação, uma evidente prova de uma virilidade broxante dia-a-dia. Terminou ali a saga de Jair Messias.

Hoje nosso mito, nosso estoico heroi, está abatido, calado, visivelmente derrotado. Milhões de brasileiros se perguntam que força está acima de um Presidente que pautou seus 4 anos de governo por competência gerencial e por quebrar a espinha dorsal da corrupção endêmica que infectava o país? Se agiu sempre em obediência à Constituição, o que o faz temer reagir? Nos vem a dúvida: enfrentar o “mecanismo” foi o erro de Bolsonaro? Mas não foi para isto que foi eleito? Será que a resposta está submersa nas profundezas de organismos supranacionais? Está no Oriente? No próprio Ocidente? Nos paraísos fiscais?

O que explica a covardia de deputados e, especialmente, de senadores? O que protege as arbitrariedades de toda ordem produzidas pelo STF? O que deu aos alckmins a certeza de uma ressurreição moral? O que blinda alexandres e fachins de não serem legalmente despidos de suas togas por rasgarem a Constituição? Em que se apoiam quando são achincalhados pela população nos aviões de carreira, nos restaurantes, nas ruas, onde quer que estejam?

O que você acharia se seu sócio se negasse a mostrar a situação financeira da empresa e ainda lhe ameaçasse com um processo por... pretensa difamação? Foi o que Barroso fez em relação à auditoria das urnas e ainda declarou algo como a “garantia soy jo”, e assunto encerrado, lhe prendo se insistir. Engana-se Barroso por achar que o poder é “tomado”. Todo poder é outorgado, seja de baixo para cima, seja de cima para baixo e, como tal, é passivo de ser, aí sim, tomado.

Que poder é este, exercido por quem, pessoa, instituição ou nação? Que democracia reversa é essa que delega poder a quem jamais recebeu um voto sequer? Que poder é este que manda e desmanda, dando indícios de saber o resultado da apuração 3 meses antes[3]? Como assim? Um “novo presidente” conhecido antes do pleito?

Se mesmo contando com uma lei da “ficha limpa”, colocaram na disputa um condenado em 3 instâncias da justiça por roubar milhões, e por permitir a “companheiros” roubarem bilhões, quais surpresas nos estão sendo reservadas para depois de 1º de janeiro? Se houve fraude ou não, já não importa. A soberania do povo brasileiro foi sequestrada em 30 de outubro de 2022 bem às nossas vistas. O preço do resgate será a aceitação de uma democracia de república das bananas, de urnas inauditáveis e invioláveis.

A alternativa é sermos resgatados e os sequestradores identificados e presos. Mas quem nos resgatará antes que sucumbamos no cativeiro de nosso destino impotente? Quem enfrentará nossos algozes para nos libertar? Estamos apenas por nossa conta?

Nossa inocente esperança de as FFAA atenderem nossas mensagens de SOS, também estão alckimizadas, e parecem ter optado por se protegerem em um legalismo que chancelará todas as ilegalidades passadas e futuras, e ainda servindo como carimbo de aprovação à elevação do Brasil a líder do socinismo[4] na América Latina. 

Há, ainda, um fio de desalentada esperança, mas a razão insiste em nos soprar que de onde se esperava sair uma reação salvadora, é de onde não sairá nada mesmo.

É por nosso egocentrismo que nos tornamos mentalmente cegos e surdos a atos e falas que não queremos aceitar como ameaças à nossa integridade intelectual e espiritual. Foram muitos os autores e autoridades destas falas e atos, falas e atos estes repletos, em sua quase totalidade, de autoritarismo. Mas tudo é de conhecimento público e devidamente registrado na memória das redes digitais. Somos manés e perdemos essa, e só nos cabe não amolar nossos ungidos supremos iluministros. Mas o tempo passa, uma nova geração de manés nascerá do ventre da nação brasileira e eles não vão gostar do que encontrarão. As ondas da política vão e vêm como as do mar. E todo mar tem seu dia de ressaca e quando ela acontecer a história verdadeira emergirá das profundezas para ser contada, restabelecida. Quem viver, a conhecerá!

Neste entardecer das liberdades, olhamos para o horizonte político e vemos a formação de ameaçadoras nuvens negras. Será que o que nos resta é nos conformar e nos preparar para inusitados novos tempos, quando viveremos sobre uma democrata ditadura, com direito a  uma censurada liberdade?

Encerrando, exponho duas convicções tiradas de tudo o que disse acima. A desalentadora é que as FFAA não farão absolutamente nada e as manifestações de civis nas ruas e caminhoneiros nas estradas só vão resultar em prejuízo para todos, participantes e não participantes. A segunda, com certeza, uma boa notícia: Lula assume, mas não governará, não importando se estando ocupando a cadeira de presidente ou não.

Não há uma conspiração de agentes desconectados. O que há é um intere$$e manipulador, supranacional, a manipular, não só o Brasil, mas todas as nações cujos cidadãos optarem pela servidão voluntária. A ordem foi clara: "tirem Bolsonaro". A desobediência, por certo, pareceu aos agentes deste processo, uma alternativa pior. Só no futuro saberemos se a opção de hoje foi realmente a mais acertada.

Com esta convicção, me despeço. 



[1] Moro acompanhou Bolsonaro nos debates demonstrando uma intimidade de chamar a atenção de todos.

[2] Estamos falando de Jorge Paulo Lemman, o megaempresário brasileiro apoiador do projeto 2030 de Nova Ordem Mundia..

[3] João Dória, através de sua empresa Lide de produção de eventos, público, em setembro, o anúncio de um evento nos Estados Unidos, para 15 dias após o 2º turno , com a presença de 5  ministros do STF para apresentar os "novos rumos do Brasil com o novo presidente eleito".

[4] Socinismo é a expressão que uso para sintetizar o pacote socialismo/comunismo.