[1]
“A impressão que se tem, pelos fatos ocorridos em público até agora, é que o STF dará, sim, um golpe de Estado para impedir um segundo mandato de Bolsonaro — caso chegue à conclusão que pode dar esse golpe, ou seja, se tiver certeza de que todo mundo vai baixar a cabeça se os ministros virarem a mesa.”
J. R. Guzzo, em “Estão Querendo Virar a Mesa”, revista Oeste de 15/4/22
Há quase um ano, as pessoas mais próximas a mim, me ouvem dizer que não chegaremos às eleições deste ano percorrendo um caminho normal. Guzzo, no artigo citado, fazendo um paralelo entre os desejos dos perdedores de 2018 quanto a Bolsonaro e o que se propagava quanto à candidatura de Getúlio a Presidente em 1950, lembra a fala de Carlos Lacerda: “Não pode ser candidato. Se for candidato, não pode ser eleito. Se for eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”. Este é o retrato de nossa fragilíssima “democracia”.
De
minha parte, em relação a Bolsonaro nestes pouco mais de 3 anos, dá para fazer
uma inversão, pois impedido de governar ele já o foi desde o primeiro dia. Se
alguém imagina impedi-lo de tomar posse se eleito, não está em juízo perfeito, não
tem o menor compromisso com as consequências para o país, é o mínimo a se dizer.
Candidato ele o será se nada lhe obstar. Portanto, só restam a seus oponentes
duas alternativas: não deixar que seja candidato ou fraudar a contagem dos
votos se as pesquisas prognosticarem sua vitória.
Qual
o nível de certeza que tenho sobre esta “previsão”? Cem por cento! Justifico.
Desde a primeira atitude de Alexandre de Moraes[2] contra a Constituição Brasileira, eu me pergunto: o que motiva um juiz da Suprema Corte a agir contra a Nação sem qualquer receio de ter suas decisões revidadas, invalidadas, ou minimamente questionadas por instituições que se proclamam defensores da Lei? Uma primeira resposta é atribuir a alguma pressão externa não revelada. Através de ameaças à sua vida e/ou de seus familiares[3] (algo do tipo faça o que estamos lhe mandando ou...!), tal ação teria sequestrado a capacidade de agir e de julgar do referido Ministro. Para quem desconsiderar tal hipótese faço uma proposição. Tente se imaginar estando em uma posição de poder qualquer (não precisa ser no âmbito de funções da justiça) e se pergunte: que razões o fariam agir contra suas convicções morais e contra seus mais caros valores? Que forte razão seria esta que lhe faria capaz de enfrentar o desprezo provável de sua esposa/marido, seus filhos, seus amigos sem entrar em profunda vergonha? Se não viu, veja os vídeos que mostram as opiniões de Moraes no passado e no presente sobre liberdade de expressão. Tem alguma coisa muito estranha na transição de um momento para outro! Será só desvio de caráter? Oportunismo? É só uma pergunta.
Ok,
vamos ignorar isso e buscar outra fonte de razões e para tanto vou recorrer a Geraldo
Alckmin, o “Picolé de Chuchu” transmutado em “Pimentão Murcho Vermelho de Vergonha”.
O que você acha que sustenta o novo “Geraldo Alquimista Amoral”? Você consegue
imaginar o que o faz se tornar um “Lambe-9Fingers”, jogar no esgoto suas
relações mais preciosas, sua carreira política, mesmo que ela tenha sido
pautada por atos escusos, não republicanos, corrupção etc.? Eu não consigo. Tem
algo muito, muito forte, eu diria até dramático, por trás do que ele optou por se
tornar. Veja os dois vídeos de ex-Alckmim, o "antes" e o "depois", caso precise refrescar a memória.
Prosseguindo. Vamos dar uma olhada na parcela silenciosa dos perdedores. O que estará fundamentando o silêncio em relação às arbitrariedades do STF, instituições como OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ABI (Associação Brasileira de Imprensa, a própria imprensa em sua quase totalidade, a silenciosa covardia subserviente da câmara dos deputados e do Senado, e muitas outras instituições? O que respalda rotular como fascista e antidemocrático um Presidente que fala e age vigorosamente em defesa das liberdades individuais e do total respeito à Constituição sem que tenha tomado qualquer atitude autoritária, mas tendo adversários que agem diuturnamente para o cerceamento das liberdades e aplaudem as arbitrariedades do STF, em público ataque aos princípios mais básicos da democracia? Quem são os que nos acusam do que eles fazem?[4]
Hoje
tenho a convicção de que a tecnologia digitrônica capacitou cada cidadão do
planeta Terra - independente de classe social, de nacionalidade e de nível de
instrução - a expressar suas opiniões e formar imensos grupos em defesa de
desejos e necessidades comuns, corrompendo de forma inesperada, rápida e drástica,
a estrutura do modelo democrático e hipócrita sob o qual vivemos a partir da
revolução industrial. O modelo “elite e
povo” até então era explícito, claro: “manda
quem pode, obedece quem tem juízo”. A formulação “todo poder emana do povo e por ele será exercido” é a primeira e máxima
hipócrita das constituições. Não só da nossa. Ninguém há de imaginar que lá
constasse algo como “todo poder emana
das elites e em seu nome será exercido para exploração e submissão do povo”.
Mas esta é a incômoda realidade. O problema é quando o tal “povo” pode se manifestar com razoável força e, portanto, pode mandar.
Mas quem deverá obedecer? Obviamente deveriam ser os mandatários do povo
eleitos pelo voto. Eis a incômoda questão fundamental. Estamos, portanto,
inseridos em um movimento de corrupção dos valores da civilização ocidental com
uma força de destruição que nunca foi possível em nossa história.
A mão do leviatã estatal está queimando e o cheiro de carne tostada impregna os cérebros dos detentores do phoder. A dissonância cognitiva[5] nas mentes oligarcas, provocou uma ruptura de tal magnitude que os conceitos mais elementares têm seus significados invertidos. Quem fala em garantir a liberdade, manda prender quem o critica. Quem defende a democracia, ataca-a com decisões antidemocráticas. Quem fala em direitos individuais, agride, até fisicamente, quem dele discorda. Quem deveria se limitar a falar nos autos, discursa publicamente e no até no exterior, se proclamando do bem e agindo contra os do mal, você. Quem defende o respeito às Leis e à Constituição, é acusado de autoritário e fascista. Comunistas são do bem, holodomor[6] e holocausto são fake news da extrema direita, e prometem, se eleitos, um mundo como Pasárgada, onde Manuel Bandeira imaginou ser “um refúgio de delícias”. Como nada é sem significado e intenção, tudo é em nome do desespero pela perda do monopólio da informação e da boa e fácil agora antiga forma de manipulação das massas através dos convenientes serviços dos veículos servis de imprensa tradicionais.
Não
nos iludamos, nem sejamos esperançosos quanto aos acontecimentos políticos dos
próximos 6 a 9 meses. Será uma escalada tal qual a erupção de um vulcão: ela só
terminará quando a energia que a sustenta tiver sido totalmente consumida. Há como
impedi-la sem trauma? Não. Resta-nos resistir, pois toda escalada tem seu ápice
seguido do inevitável declínio quando tudo se desgasta e quando a realidade faz
caírem as máscaras das narrativas falaciosas. Então terá chegado o momento para
forças contrárias ganharem suas batalhas. Por falar em batalhas, podemos ver tal
processo como uma guerra. Elas não terminam com a aniquilação total dos
inimigos, elas terminam quando um dos lados levanta a bandeira branca em
reconhecimento, não da força do inimigo, mas da fraqueza e desgaste de suas
próprias forças frente à capacidade de resistência encontrada.
Assumindo
a similaridade metafórica com uma guerra entre exércitos, um deles é formado
pelos “vitimistas”, os vitimados
pela perda das eleições de 2018. São todos os defenestrados do poder em
consequência das decisões do Presidente tomadas em total observância às suas
promessas de campanha. Identificá-los, portanto, é fácil. Para saber o que
torna um “vitimista” raivoso que diz odiar Bolsonaro, basta identificar qual
foi a teta que ele mamava e secou. De outro lado estão os “estoicos”, aqueles que em lugar de aceitar uma cota de
“quentinhas” do socinista de plantão, preferem ir à luta, enfrentar as
vicissitudes e ir atingir seus objetivos com seu próprio esforço e mérito. Para identificá-los, basta descobrir sua
fonte de renda, se é de um encosto em algum mecanismo (benesse) estatal ou se é
da determinação e do trabalho.
Persistir
em nossas convicções, ter a consciência de que respeitar e lutar pela admissão de
que cada um de nós é único, que nossas diferenças têm que ser protegidas e
garantidas, e que qualquer que seja a melhor solução política para o equilíbrio
da vida em sociedade, a natureza humana tem que ser o sustentáculo para uma
vida digna. Esta simples, mas decisiva postura é o passaporte para o ingresso
neste exército de estoicos.
Abaixo, uma edição (o vídeo completo está aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Pq-Hk32T7lE) feita por mim com recortes do vídeo, gravado no mesmo dia 20/abr/22, de Rodrigo Constantino tratando das mesmas questões deste artigo.
Eu
não partilho da possibilidade que o jornalista J. R. Guzzo aventa de “que todo mundo vai baixar a cabeça” e
dar salvo-conduto para um golpe dos perdedores. Mas isso só se eu e você nos mantivermos
nas fileiras da resistência estoica. Só se ninguém reagir à condenação de
Daniel Silveira feita hoje pelos 10[7] (Ameaçados? Raptados?) ministros do STF
neste dia em que escrevo.
Fique
esperto. Fique determinado. Erga sua voz. A servidão voluntária não é uma boa saída.
Encerrando
deixo o depoimento do pastor luterano Martin Niemöller (1892–1984), na Alemanha
nazista:
"Quando os nazistas vieram buscar os comunistas, eu fiquei em
silêncio; eu não era comunista.
Quando eles prenderam os socialdemocratas, eu fiquei em silêncio; eu não era um socialdemocrata. Quando
eles vieram buscar os sindicalistas, eu não disse nada; eu não era um sindicalista. Quando eles buscaram os judeus, eu
fiquei em silêncio; eu não era um judeu.
Quando eles me vieram buscar, já não
havia ninguém que pudesse protestar."
[1] Quando estava no 2º ginasial, um professor que me deixou boas lembranças, nos indicou para ler “O Mundo em que Vivemos”. Devia ter umas mil páginas, nunca o li, mas, na esperança de um dia o ler, o mantive comigo por uns 20 anos. Informação inútil, apenas dando vazão a uma saudade.
[2] Não só ele, Barroso, Fachin e Lewandovski são seus melhores seguidores.
[6] Holodomor é como ficou conhecido o genocídio pela imposição da fome comandado por Stalin nos anos 1932 e 1933. Por coincidência vi há dois dias um bom filme (não lembro o título) na Netflix sobre a Rússia de Stalin, com Robert Duval no papel principal.
[7] Até André Mendonça, indicado por Bolsonaro, votou pela prisão de Daniel Silveira!!!
