Li
dia desses a frase “se você deseja, acontece” inserida em um contexto um tanto
falacioso pretendendo oferecer solução fácil para concretização de nossos
sonhos. A minha história de vida não corrobora tal proposição. Mas...
Nestas
tantas décadas vividas constante e frequentemente me aconteceram coisas que se
eu fosse um crente atribuiria às forças divinas. Na realidade, quando você
deseja o que quer que seja, sua atenção, seus pensamentos, ficam dirigidos para
tudo que possa contribuir para a concretização daquele seu “desejo”, mesmo
quando nem mesmo você tem consciência disso. Comigo, um dos eventos mais
constantes é o de me chegar, “do nada”, um texto, um livro, um áudio, um vídeo,
tratando exatamente do tema com o qual minha mente tem se ocupado. Costumo
muito usar o exemplo de um livro na vitrine da livraria que há muito estava lá
sem que me tivesse chamado à atenção e de repente eu o “vejo” e exclamo
silenciosamente, “eureca!, perfeito!”.
Isso
acaba de acontecer. Não por acaso, mas pelo caso de eu estar voltado para
entender a esquerda, o socinismo, as razões dos que o defendem e as motivações
dos que nela e nele acreditam, e, especialmente, porque as democracias têm se
mostrado tão frágeis neste embate contemporâneo de ideologias opostas. Foi então que cheguei a "Como Terminam as Democracias", uma obra escrita a exatos 40 anos (1982) [1]
por Jean-François Revel, um pensador francês. Guarde este fato para quando estiver lendo os trechos que extraí do livro e e lembre dele
quando alguma frase lhe provocar uma reação tipo “mas é exatamente isso que estou vendo acontecer!”. Acabei a leitura hoje e sinto urgência em publicar aqui algumas
tantas passagens dado o risco que estamos correndo de ter o PT de volta ao phoder
e, consequentemente, ingressarmos numa escalada rápida para o abismo do
comunismo.
Esta postagem tem o objetivo de revelar as conclusões de Revel extraídas de sua vida dedicada a entender o jogo de poder de sua época e, evidentemente, desenhar um quadro do que poderia ser o futuro, futuro este que já chegou.
Deixo-vos com a leitura e as reflexões, avaliações, considerações
que lhes forem estimuladas [2].
Como sempre, todo comentário meu está entre colchetes “[ ]”
PRIMEIRA
PARTE – A DEMOCRACIA DIANTE DE SEU INIMIGO
1
- O FIM DE UM ACIDENTE [3]
Talvez
a democracia seja apenas um acidente na história, um breve parêntese que se
fecha diante de nossos olhos. (...) Ademais, ela não teria sido conhecida,
afinal, senão por uma fração ínfima da espécie humana. [Ou seja, quase 100% do tempo desde a saída dos seres humanos das cavernas, a maioria foi governada por uma minoria, por uma casta cujo poder era transferido por hereditariedade.]
(...)
o mais temível [dos inimigos exteriores da democracia], o comunismo, variante
atual e modelo acabado do totalitarismo, consegue apresentar-se como um
aperfeiçoamento da própria democracia, sendo, no entanto, sua negação absoluta.
(...) O comunismo, é um fracasso social, é incapaz de engendrar uma sociedade
viável. (...) A democracia (...) nega as ameaças de que é objeto, tanto lhe
repugna adotar medidas adequadas a dar-lhes a réplica. E só desperta quando o
perigo se torna mortal, iminente, evidente.
O
inimigo interno da democracia joga uma partida fácil, pois explora o direito de
discordar inerente à própria democracia. (...) A democracia é esse regime
paradoxal em que se oferece aos que querem aboli-lo a possibilidade única de
preparar-se para isso na legalidade, com a garantia do direito, e até de
receber para tanto o apoio quase patente do inimigo externo, sem que isso seja
considerado como violação realmente grave do pacto social.
[Estamos em uma situação no Ocidente] em que
aqueles que querem destruir a democracia parecem lutar por reivindicações
legítimas, enquanto os que querem defendê-la são apresentados como os artífices
de uma repressão reacionária. [A principal delas é essa demanda nebulosa, confusa, mal explicada, por igualdade.]
Parece, pois, que o conjunto das forças ao mesmo
tempo psicológicas e materiais, políticas e morais, econômicas e ideológicas
que concorrem para a extinção da democracia é superior ao conjunto das forças
da mesma ordem que concorrem para mantê-la viva.
[O
comunismo é uma] implacável máquina feita para eliminar a democracia em que se
tornou o mundo onde vivemos. Talvez possamos achar alguma satisfação em
compreender seu funcionamento, já que não podemos detê-la.
2
– UMA VÍTIMA COMPLACENTE
Que
o comunismo tenda com todas as suas forças a destruir a democracia é natural,
já que os dois são incompatíveis e a sobrevivência do comunismo dependa da
extinção da democracia. [É sobre neste ponto que comprovamos a usurpação do sentido das palavras, quando aqueles explicitamente comunistas insistem em se dizer democratas, enquanto defendem a censura do cidadão através do "controle da mídia", e ainda acusam quem respeita a Constituição de antidemocrata.]
É
um tema antigo o das civilizações que perdem a confiança em si mesmas [e acabarem
por ter que] escolher entre a servidão e o suicídio. A nossa civilização
democrática (...) não deixa de se comportar como se assim fosse.
Quanto
às imperfeições reais [da democracia], a questão é saber se elas são graves o
suficiente para dar uma justificação moral à exterminação, pelo totalitarismo,
das sociedades democráticas existentes hoje.
Para
os indivíduos e as sociedades, imaginar-se sempre certo, até quando os fatos
indicam o contrário, é causa de cegueira e de enfraquecimento; mas imaginar-se
sempre errado, embora desprezando a verdade, desencoraja e paralisa. (...)
Ensinar todos os dias a uma civilização que ela não será digna de ser defendida
senão com a condição de tornar-se a encarnação de uma justiça perfeita, é
convidá-la a deixar-se morrer ou a deixar-se escravizar.
O
excesso na crítica [que é o comportamento que assistimos hoje em relação ao
Bolsonaro] constitui bom procedimento de propaganda em política interna.
É
de igual modo possível que a civilização democrática não desapareça de vez, que
nos achemos apenas no término de um ciclo que, ao encerrar-se, porá um ponto
final num primeiro período de liberdades individuais, no sentido em que a
democracia moderna os entende. Passaria, então, a humanidade inteira para o
domínio comunista. Em seguida, ela se revoltaria contra o comunismo, que, não
mais contando com cúmplices exteriores sobre os quais se apoiar, nem futuras
vitimas para escravizar, nem economias capitalistas às custas das quais viver,
exibiria, já sem a menor desculpa, sua incapacidade para gerir uma sociedade
humana, e não poderia mais fazer frente à insurreição interna de seus súditos,
nem aprisioná-los, nem exterminá-los todos. Então, ao fim de alguns séculos,
tendo sido resgatada pela humanidade a
hipoteca socialista, um novo ciclo democrático poderia começar..
3
– O ERRO DE TOCQUEVILLE
Quanto
mais se aperfeiçoa a democracia igualitária [socialismo] e mais espontaneamente
os homens que a praticam se reúnem, tanto mais eles querem livremente as mesmas
coisas. A diversidade acha-se pouco a pouco banida desse socialismo, não mais
pela censura, mas pela desaprovação ou pela simples indiferença.
Tocqueville
pinta como visionário e com uma previsão desconcertante a ascensão futura do
Estado onipresente, onipotente e onisciente, que o homem do século XX conhece
tão bem: Estado protetor, empreendedor, educador; Estado médico, empresário,
livreiro; Estado prestativo e predador, tirânico e tutelar; Estado economista,
jornalista, moralista, transportador, comerciante, publicitário, banqueiro, pai
e carcereiro, tudo de uma só vez.
A
dedução de Tocqueville acha-se ao mesmo tempo confirmada e negada pela
história. Confirmada porque as democracias dos séculos XIX e XX fizeram
crescer ao mesmo tempo a força da opinião pública e o peso do Estado. Negada
porque a opinião pública, por poderosa que se tenha tornado, não aumentou nem
em constância nem em uniformidade, mas, pelo contrário, em versatilidade e em
diversidade; e porque o Estado, longe de ter adquirido um vigor proporcional ao
seu gigantismo, vê-se cada vez mais desobedecido e contestado por aqueles
mesmos que dele esperam tudo. [Talvez este seja o motivo pelo qual a cada dia mais o comunismo precisa impedir o povo de progredir intelectual e economicamente.]
Se
é evidente que a paixão pela igualdade (...) acarreta a uniformidade, não
esqueçamos que a democracia baseia-se também na paixão pela liberdade que acarreta a diversidade, a
fragmentação, a multiplicação das singularidades, como bem o disse seu mais
sutil inimigo, Platão, quando comparou a sociedade democrática a um manto
multicolorido, sarapintado coberto de manchas de várias cores.
A
democracia está menos do que nunca ameaçada a partir do seu interior; a ameaça
vem, mais do que nunca, do exterior. [No Brasil de hoje, ela vem do exterior e
do interior.]
4
– A SOBREVIVÊNCIA DO MENOS APTO
Uma sociedade torna-se mais
perecível quanto mais programas resolve e sua longevidade mais se assegura
quanto menos os resolve. [Este
conceito pode ser considerado a base do comunismo que elimina a possibilidade
da população prosperar.]
Uma
inferência célebre de Tocqueville (...) consiste em ter observado que uma sociedade luta mais contra a autoridade
quando o nível de satisfação das necessidades é mais elevado. [Curiosa e pertinente esta observação de Tocqueville, dado que a civilização sempre prosperou, o que nos dá a certeza de que ela, o tempo, todo fez diminuir o contingente de pobres e miseráveis. Como humanidade nunca tivemos uma vida tão boa, tão confortável, quanto a que temos hoje.]
(...)
a inexistência das liberdades impossibilita a propagação dos descontentamentos.
[O
comunismo não é uma força que] talvez esteja extinta; alguns dirão até um
cadáver; mas [cada dia mais] é um cadáver que pode nos arrastar consigo para a
sepultura. [Eu substituiria o "pode" pela certeza de um "vai".]
5
– O MEDO DE SABER
É
um dos êxitos capitais da propaganda comunista ter conseguido condicionar em
nós este sentimento: a vergonha de se
defender.
A
melhor maneira de distinguir o que é perigo real e o que é fobia, o que é
agressão real e o que é loucura, mania de perseguição, consiste no estudo dos
fatos, das situações, dos atos – comparados entre si com dez, vinte, trina anos
de intervalo.
(...)
o medo de saber leva ao medo de dizer.
(...)
devemos continuamente estar atentos aos múltiplos contrafogos da ignorância
voluntária, que se acendem a cada instante, quase inumeráveis, para confundir a
imagem do incêndio que se propaga.
SEGUNDA PARTE – A MATERIALIDADA DA
EXPANSÃO COMUNISTA
6
– AUTÓPSIA DO PÓS POLÔNIA
As democracias vão inventar uma
explicação para a sua passividade, a saber: cada uma delas permanece passiva
porque as outras não agem.
7
– O IMPERATIVO TERRITORIAL
Todo
país, na visão cautelosa da União Soviética, é candidato permanente à passagem
para uma categoria superior, à promoção de “não-alinhado” para protetorado e,
depois disso ao posto de satélite inalienável.
Sejamos
lógicos: o único meio de conseguir que as fronteiras soviéticas não sejam
ameaçadas, que elas estejam em plena segurança, é fazer com que não haja
absolutamente fronteiras soviéticas; ou, se se prefere, que o território
soviético coincida completamente com o do planeta.
9
– A PERSUASÃO PELA FORÇA
“O
que conta, escreve Lênin, é ser o mais forte. E vencer no momento decisivo no
lugar decisivo.” [Me lembra José Dirceu com o seu “não significa ganhar
eleição”.]
TERCEIRA PARTE – OS INSTRUMENTOS DA
EXPANSÃO COMUNISTA
10
– ESTATÉGIA PLANETÁRIA E VIGILÂNCIA ATIVA
Quer
se trate do desejo de paz, natural em todo homem, quer se trate do nacionalismo, o
comunismo tem a intenção de utilizar-se desses dois sentimentos para eliminar a
influência democrática.
[Diz o jornalista comunista francês] Boris
Souvarine: “A política de Stalin é feita de prudência, de paciência, de
maquinações, de infiltração, de corrupção, de terrorismo, exploração das
fraquezas humanas. Ela só passa ao ataque frontal quando o golpe é certo,
contra um adversário de sua escolha e vencido de antemão”. [Por sua opção política, portanto, ele sabia do que estava falando.]
11
– VISÃO A LONGO PRAZO E MEMÓRIA DO PASSADO
Os
sucessos da diplomacia soviética (...) provêm da fidelidade a um método que
compreende entre seus princípios a continuidade da ação no tempo, a
recapitulação constante das razões de ser da ação, enfim a aceitação da lentidão como meio de alcançar resultados sólidos e
irreversíveis.
As
democracias tendem a procurar tratados vastos e definitivos, que organizem o
mundo durante várias gerações. Elas imaginam que, uma vez fixado esse
equilíbrio das potências, essa “comunidade internacional”, essa “estrutura da
paz”, como dizia Kissinger, cada país poderá enfim consagrar-se a ocupações
civilizadas (...). [É o sonho utópico dos democratas.]
12
– CONSIDERAR SEMPRE UM RECUO FORÇADO COMO PROVISÓRIO E VOLTAR À CARGA
Sabendo
que podem enganar-nos indeterminadamente, os
comunistas não aceitam os recuos ou as recusas como definitivos. Eles
exploram insistentemente as brechas, apresentam as mesmas propostas,
entregam-se às mesmas infiltrações, empreendem as mesmas conquistas, até
conseguirem alcançar seus objetivos, ou substituí-los por equivalentes mais
fáceis de realizar. [Pode-se considerar esta afirmação como a explicação para o comunismo ter crescido no Ocidente de um modo inesperado após o desmantelamento da URSS.]
Diante
de tanta clareza nos objetivos, de tanta teimosia na realização, a política externa dos ocidentais não é
mais que um amontoado de improvisações. (...) as potências democráticas não dispõem geralmente de outra
coisa senão a dispersão e a inconsequência para opor à concentração e à
perseverança.
13
– A ALTERNÂNCIA DAS TÁTICAS: GUERRA FRIA, COEXISTÊNCIA, DÉTENTE
(...)
os soviéticos jamais deixaram de professar que uma luta inevitável se travava e se travaria até o fim, entre
capitalismo e socialismo, pela posse do
mundo.
”Os
governos passam, o Arquipélago fica”, assim se intitula o penúltimo capítulo do
ultimo volume do monumento de Soljenitsin [4], O Gulag.
15
– A LUTA PELA PAZ
Os
comunistas são muito hábeis em utilizar sentimentos arraigados, tais como o
sentimento nacionalista, ou causas humanitárias, como a luta contra o racismo,
como instrumentos a serviço da expansão totalitária, embora eles próprios,
quando detêm o poder, não respeitem nem a independência nacional dos países que
controlam, nem os direitos humanos.
Como
essa exorbitante identificação do expansionismo soviético mais cru, com uma
“vontade de paz” se tornou possível? [A resposta é que] É o fruto de um antigo,
longo e perseverante trabalho de propaganda e de infiltração.
Não
se poderia negar aos dirigentes [comunistas] essa resistência meritória que é
requerida para defender ano após ano uma causa em que não se crê. Porque
[nenhum dirigente comunista do século XX] jamais acreditou no pacifismo. Nunca
viram nele outra coisa a não ser uma das numerosas variantes do cretinismo
inerente à civilização democrática e um meio de enfraquecer essa civilização.
O pacifista é aquele que (...) ao
se despojar com ostentação dos seus próprios meios de defesa evitará todo
perigo de guerra no mundo.
Se
as posições de poder devem pertencer aos comunistas, confessos ou mascarados,
em todos os movimentos pela paz, nada tão indispensável do que reunir a seu
redor uma grande e se possível brilhante figuração não comunista.
16
– A GUERRA IDEOLÓGICA E A DESINFORMAÇÃO
A guerra ideológica baseia-se na
arte de libertar para sujeitar,
ou mais exatamente, pretender libertar para sujeitar melhor, pregar a liberação para impor a servidão.
(...) Os ideólogos políticos tentam também introduzir uma oposição entre vida
presente e vida futura para justificar os rigores da primeira pelas felicidades
da segunda. (...) Chegando a mergulhar os homens na escravidão e na miséria, os
ideólogos políticos se mostram mais hábeis do que foram os mais lamentáveis
tecnocratas, já que é para esta vida que eles nos prometem a felicidade, já que
eles conseguem fazer imperar o seu absolutismo apesar da simultaneidade quase
perfeita entre a exaltação de um ideal e sua refutação pela experiência.
Uma
vez bem estabelecida a dominação, basta a força do aparelho repressivo para
manter no vazio as liberdades e as críticas. (...) Então a propaganda do Estado
não pretende mais convencer os habitantes do país, ela se limita a oprimi-los,
como um patético e burlesco encantamento, insultante antítese da realidade.
(...) Luta ideológica, guerra psicológica, mentira, desinformação, intimidação,
desordenam, impregnam, desorientam sem cessar a opinião pública e os governos dos países democráticos, em
geral presas fáceis de uma arte de enganar, cujo desenvolvimento o espírito
totalitário sempre favorece mais e mais.
A guerra ideológica é uma
necessidade para o totalitarismo e uma impossibilidade para a democracia. Ela é consubstancial ao espírito totalitário,
inacessível ao espírito democrático. Ora, as democracias não são uma, mas mil,
cem mil. A democracia se manifesta pela crítica mútua dos diversos grupos que
compõem em seu seio a pluralidade
política e cultura da sociedade civil. (...) O que é uma força interior em
termos de civilização torna-se uma fraqueza diante de um poder totalitário, o
comunismo, cuja razão de ser, a condição de sobrevivência é a aniquilação da democracia no mundo. [Onde e
quando mais se fala em algo, é onde e quando mais este algo falta.]
A ideologia é mentira, a ideologia
comunista é mentira total,
estendida a todos os aspectos da realidade. Propor ao pensamento livre que se
defenda construindo um delírio sistematizado de sentido contrário é lhe propor que se suicide para evitar que seja
assassinado. Se é verdade que nada é mais eficaz do que uma miragem para
destruir outra miragem, é também verdade que a civilização democrática não deve
e não pode sobreviver senão opondo à ideologia o pensamento, à mentira o
conhecimento da realidade, à propaganda não uma contrapropaganda, mas a
verdade.
No
barco democrático, a obsessão das intrigas pelo comando de um e pelos
privilégios dos outros, relega à categoria de questão menor o risco supremo de
naufrágio de todos.
O primeiro objetivo da propaganda
comunista é, pois, projetar no exterior uma imagem melhorada dos países
socialistas e uma imagem distorcida dos países que não o são; (...).
Precisamos
em política não de conhecimento puro, mas de conhecimento tendo em vista a
ação; e não serve para grande coisa conhecer a verdade, quando a ação falsa já
ocorreu.
Os
quadros mentais forjados por três quartos de século de propaganda ideológica
sobrevivem assim ao desmentido dos fatos e ao naufrágio das convicções.
Uma
campanha de desinformação (...) só pode ser concluída, e até iniciar-se numa
sociedade pluralista, isto é, numa sociedade em que existem múltiplas correntes
de opinião que o desinformado pode jogar umas contra as outras.
Uma ficção política deve, para
interessar, ter pelo menos um pouco de verossimilhança.
A
Rádio Moscou transite em ondas curtas, para o mundo inteiro, programas em mais
de oitenta línguas.
O
inventário exaustivo da desinformação ultrapassaria a envergadura hercúlea de
várias enciclopédias, visto que ela é verdadeiramente universal e nenhum
continente escapa a seu raio de ação.
Os
clichês pró-soviéticos gozam do direito de asilo, ou melhor, de direito de
cidadania nas mídias dos países que o comunismo quer abater.
A
“Sociedade para o desenvolvimento da imprensa” [sic], dizem os porta-vozes dos
serviços secretos ocidentais, financiou durante anos, além de seus amigos
gregos, numerosos outros jornais, publicações e mídias em toda Europa para que
eles propagassem as teses pró-soviéticas.
(...) enquanto as sociedades
democráticas são penetráveis (...) as sociedades comunistas são totalmente
impenetráveis. [O que prova,
confirma, a falácia da palavra “democracia” na boca de esquerdista.]
A
guerra ideológica dá-se, assim, num só sentido, guerra que seria mais exato
chamar de guerra da mentira, já que toda ideologia é mentira.
(...)
o efeito desestabilizador do descontentamento só conta de maneira imperceptível
no mundo totalitário, por causa da perfeição do sistema policial. (...) os
defeitos do universo comunista não são objeto de nenhuma comparação permanente,
só são conhecidos de maneira abstrata quando não se vive nesse universo. E
quando um povo nele vive, e dele adquire um conhecimento concreto, é tarde
demais para que volte atrás.
Na
guerra ideológica, a propaganda comunista tem por objetivo destruir a
democracia em todos os lugares em que ela existe e torná-la impossível em todos
os lugares em que ela poderia existir. (...) Na melhor das hipóteses, a
democracia não pode senão tentar proteger-se a si mesma e ela não o consegue
senão mediocremente ou de modo algum.
17
– DESVIOS E RECUPERAÇÕES
A
astúcia precede a força.
A
pirataria política (...) se utiliza, em proveito próprio, das aspirações
humanas, das instituições, das coletividades que existiam antes dela e não lhe
devem nada, ela as anexa, usurpa suas palavras de ordem para sujeita-las a seus
próprios fins, capta sua energia e boa vontade, encaminha-as sub-repticiamente
na direção do lugar onde se agrupam as suas organizações de fachada.
Na
esfera comunista os resultados são uniformemente desastrosos e, ao cataclismo
econômico crônico, acrescenta-se o inevitável complemento da repressão
totalitária, frequentemente apimentada por um culto obrigatório da
personalidade prestado por todo um povo submisso à megalomania de um déspota
inamovível.
O
terrorismo na democracia é devido à demência ideológica de minorias pouco
representativas para adquirirem um peso político através dos meios legais
existentes.
QUARTA
PARTE – OS QUADROS MENTAIS DA DERROTA DEMOCRÁTICA
18
– AS LINHAS DE FALHA
Não sei se é excessivo aventar a
hipótese de que as democracias estejam predestinadas ao logro. Mas estou certo de que nossos adversários assim
pensam há muito.
20
– A ESTRANHA GUERRA FRIA
A “vontade criminosa de
desencadear a terceira guerra mundial” encontra-se do lado dos americanos [Ele
aqui se refere ao discurso, não às ações]. No máximo, pode-se conceder a estes
últimos a vantagem da dúvida, colocá-los no mesmo plano que os soviéticos,
lutar pelo neutralismo.
A
representação pode começar, os atores estão em cena, os papéis foram
distribuídos. E o mais misterioso é que essa peça, concebida de tal sorte que o herói principal, o vendedor material e moral de cada ato até o cair do pano só
pode ser o comunismo totalitário, essa peça refere-se ao Ocidente, as
democracias escreveram seu texto, patrocinaram a encenação e desenvolveram sua
trama.
25
– DUAS MEMÓRIAS
Com
a memória-hábito, percorremos sem erros uma cidade familiar, pensando em outra
coisa. Com a memória-lembrança, evocamos os primeiros dias de nosso contato com
esta cidade, quando ela era nova para nós, quando fazíamos o seu aprendizado.
Tudo
se desenvolve como se apenas os fracassos, os crimes e as fraquezas do Ocidente
merecessem inscrever-se no indicador da história e o próprio Ocidente aceita
essa regra.
O passado comunista é sempre uma
etapa em direção de um porvir
que se revela, certamente, a cada vez tão lúgubre quanto o passado, mas que se
vê por sua vez promovido à categoria de etapa. Em compensação, os maus períodos
capitalistas não têm direito ao grau de “etapas” mesmo quando brilhantes
recuperações se seguem.
Uma
percepção vaporosa, uma rememoração crepuscular, uma emoção que morre ao nascer
ou se evapora em alguns dias: tais são as leis de nossa sensibilidade aos atos
totalitários. Ninguém compreendeu melhor nossa psicologia do esquecimento do
que os dirigentes comunistas, pois se nós não os conhecemos, eles nos conhecem.
Eles forjaram o eufemismo monstruoso de “normalização” para batizar a
duplicação de ferocidade totalitária sobre povos que ousaram revoltar-se por um
instante contra seus senhores. (...) Nós
chegamos rapidamente a achar o anormal, normal. Não é nossa paciência que tem
limites, é nossa impaciência. Em pouco tempo ela acaba.
(...)
jornalistas comunistas são regidos por leis que não a da percepção e da
memória, quer dizer, são regidos pelas leis da política externa soviética.
AS
DEMOCRACIAS CONTRA AS DEMOCRACIAS
Mais
propícia ainda ao imperialismo comunista do que nossa inércia diplomática (...)
é a aquiescência ocidental à condenação que os comunistas fazem de nossa
civilização (...) No campus
universitário, como nas salas de redação, continua a todo vapor a sempiterna e
robusta ladainha sobre a “falência generalizada do Ocidente”.
Sobre
que bases, por que motivos a liberdade seria defendida, quando tantos
modeladores de opiniões, educadores, pensadores professam (...) que a
civilização é “fundamentalmente má”?
O capitalismo industrial foi o
primeiro e o único modo de produção que tirou os homens da penúria e que poderá dela tirar os
que ainda a experimentam. [No
entanto, como sistema econômico] é o mais difamado.
Considerando
que nenhuma democracia, mesmo reconhecida como tal, possa ser perfeita, e
estando toda a sociedade propensa a abrigar numerosos elementos de opressão, qual regime terá verdadeiramente o direito
de se defender contra o comunismo? Nenhum. Na mesma alinha de raciocínio,
se é suficiente para legitimar o comunismo mostrar apenas que o capitalismo
apresenta defeitos, vícios, crises, então entreguemos
imediatamente o poder mundial ao comunismo totalitário, pois o melhor meio de
deixar de claudicar é amputar as duas pernas.
A
verdadeira antítese opõe não o totalitarismo à democracia, o comunismo ao
capitalismo, mas o comunismo totalitário a tudo mais. O comunismo é a necrose
da economia e a necrose do político, da sociedade civil e da
cultura. (...) a Idade Média europeia, a China dos Mings, as sociedades
africanas, polinésias ou americanas anteriores à intervenção dos europeus, a França
de Luís XV ou de Napoleão III, a Inglaterra elisabetana, a Espanha de Filipe
IV, a Índia da dinastia Gupta, a Alemanha de Kant não eram sociedades
democráticas, nem por isso seriam sociedades totalitárias, mas sociedades vivas
que, cada uma à sua maneira, engendravam uma forma preciosa de civilização.
É a fusão ou a justaposição de uma
miríade de pequenos comportamentos espontâneos que remontam ao fundo das idades
e que apenas nosso espírito unifica,
que acabamos por reunir num conceito geral, impreciso e imperfeito. (...)
Devemos rejeitar a assimilação do comunismo aos outros sistemas autoritários e
dos outros sistemas autoritários ao comunismo. (...) O comunismo, para subsistir, tende a destruir não somente a democracia,
mas a própria possibilidade da democracia.
CONCLUSÃO
– NEM GUERRA, NEM SERVIDÃO
(...)
deverão as democracias aceitar a guerra a fim de escaparem da servidão, ou
aceitar a servidão, a fim de escaparem da guerra? Ou ainda, o que é pior,
deverão as democracias submeterem-se a uma guerra que acabará por sujeita-las à
servidão? Ou (...) têm elas ainda tempo
e capacidade para evitar ao mesmo tempo a guerra e a servidão?
(...)
o comunismo do século XX, conferiu-se como missão histórica abater a democracia
da qual nasceu. (...) não são as democracias que conduzem o jogo. Tolerância e
coexistência entre os sistemas não são de modo algum compartilhadas pelo
comunismo.
A
propaganda comunista a favor da “paz”, isto é, na tradução soviética, incitar
os outros a não se defenderem, acresce-se de uma ameaça perpétua de guerra,
intimidações que explora o medo do cataclismo atômico. (...) É o que Enzo
Battiza chama de “pacifismo de ataque”. [E toda e qualquer ação de um comunista
é um ato de guerra.]
Contrariamente
às classes dirigentes ocidentais, mortificadas por remorsos e dramas de
consciência, a classe dirigente soviética, no que lhe concerne, está
inteiramente despojada de dramas de consciência e utiliza com a mais prefeita
serenidade a força bruta, tanto para conservar seu poder no interior, quanto
para estendê-lo ao exterior.
O
inventário das falências comunistas é tão impressionante que é precisamente
isso que me assusta: um sistema que pôde se tornar tão forte, apesar de tantas
recaídas, um sistema que domina cada vez
mais o mundo, quando ninguém assim o quer (...).
Quanto
mais nos aproximamos do final do século, mais o imperialismo comunista se torna
o principal problema de nosso tempo.
Diante
da pergunta: “Qual é a solução para os povos
não comunistas?” recorro a Demóstenes: “A estes darei a resposta que
acredito ser a mais justa e a mais verdadeira: não fazer o que vocês fazem atualmente”.
No
que me concerne, cheguei à convicção de que a chantagem do apocalipse nuclear
dos soviéticos não é sincera, e intensifica-se de ano para ano apenas em função
das vantagens enormes que ela sempre lhes trouxe, e continua a trazer.
(...)
uma política externa digna desse nome consistiria em não mais admitir nenhuma
invasão soviética sem recorrer a represálias imediatas, principalmente
econômicas (...). [O
Ocidente, no caso da guerra da Ucrânia, parece estar seguindo este conselho de
Revel.]
[E REVEL ENCERRA:]
Não
quero ser pessimista ou otimista. Apenas constato. A constatação é pessimista,
não seu autor. O destino da democracia no mundo de hoje será decidido no
decorrer dos últimos anos deste século. Quero dizer, nosso destino, pois, se a
história tem como quadro os milênios, a vida conta apenas reduzido número de
anos e, recorrendo à frase de Achim von Arnim, “cada homem recomeça a história do mundo, cada homem a termina”.
[Como sou mais tosco que este poeta e romancista alemão, apenas digo: tem
sempre pato novo!]
Você acaba de se certificar de que a esquerda é comunismo na veia, e comunismo é engodo, ilusão, farsa, coerção, controle, servidão, destruição de valores, totalitarismo e phoder econômico.
Talvez
você tenha se chocado com algumas afirmações e avaliações de Revel. Relaxa.
Estamos tendo a chance de não só confirmar nosso voto de 4 anos atrás, como
a de mostrar a outras pessoas os ganhos que tivemos com as realizações feitas
pelo excelente governo de Bolsonaro. Não nos resta torcer para ele vencer, é
preciso AGIR para que depois de 30 de outubro, continuemos juntos com
quem defende os valores da vida, da família, da pátria, do respeito à
diversidade na união de todos os brasileiros e, especialmente, de todas as nossas
liberdades, sendo a mais importante a liberdade de opinião. E lembrando que já garantimos uma maioria de centro direita tanto na Câmara quanto no Senado, o que é uma certeza de que a reeleição de Bolsonaro dará ao Brasil a oportunidade de vir a se tornar o gigante há tantas décadas adormecido.
Fique em paz.
[1] Atente para o fato de que ele está falando 7
anos antes da queda do muro de Berlim e 9 antes do desmonte da URSS.
[2] Como tudo são frases de Revel, não colocarei entre aspas. Se algum caso houver que não seja,
estará corretamente apontado.
[3] Vou identificar o capítulo em que o texto extraído está, pois seu título ajuda à compreensão já que os textos estão desconectados entre si. Perceba também que nada há referente a muito capítulos. Isto se deve a capítulos que relatam ações relativas a, por exemplo, o que houve na Polônia, no Afeganistão, no Camboja etc. e que, portanto, não interessam aos objetivos desta postagem.
[4] Em "Arquipélago Gulag", Alexandr Soljenítsyn narra experiências próprias e testemunhos nos inúmeros campos de trabalhos forçados administrados pelo Gulag espalhados na antiga União Soviética, durante o período governado por Stálin. Fonte: Wikipedia.