domingo, dezembro 27, 2020

OUVIDOS ATENTOS AOS PASSOS DO ANDAR DE CIMA

Depois das redes sociais os passos dos que ocupam o andar de cima já não podem ser tão barulhentos como antes. Se até então causavam certo incômodo, havia a vantagem de que sabíamos mais ou menos o que estavam fazendo. Agora, pisam como se pisaria em ovos se tal fosse possível. Não querem fazer o mínimo som porque as antenas da digitrônica giram freneticamente para captar qualquer frequência que não esteja de acordo com as expectativas do térreo. 

Como em todos os finais de ano, costumo, a exemplo de muitos, olhar pelo retrovisor para ver se ficaram pendentes de solução questões importantes que deveriam ter sido resolvidas no seu tempo e não o foram e que, portanto, se arrastam para influir no futuro próximo. Não bastassem nossas incertezas quanto à COVID, não gosto do que estou percebendo e me sinto muito apreensivo quanto ao que iremos viver no ambiente político em 2021. Vou apontar alguns eventos para sua avaliação.

1 - Comecei a me preocupar quando vi atitudes de Moro incompatíveis, na minha opinião, não só com a postura de ministro - o show midiático montado -, mas, principalmente, agindo com absoluto mau-caratismo em relação ao Presidente da República a quem devia, no mínimo, lealdade, aquela mesma que sempre recebeu.

2 - O fato de Bolsonaro não ter peitado, com a Constituição na mão, o STF quando este o impediu de nomear o diretor da Polícia Federal (em 29/4). Na época, a única justificativa que encontrei, foi a pressão da "entourage" de farda para uma não confrontação sob um risco alegado de crise institucional. Ali, para mim, ao ceder, o Presidente sinalizou, primeiro, que o Supremo era mais supremo que a própria Constituição, e, portanto, poderia dali em diante fazer o que bem entendesse e, segundo, admitiu que generais mandam mais que capitão. 

3 - Em 28 de maio, usando expressão chula, Bolsonaro, reagindo à decisão do ministro Alexandre de Moraes de abrir inquérito para apurar as tais não conceituadas "fake news", bradou que "ordens absurdas não se comprem". Ameaças sem cacife, também não se cumprem, como ele mesmo demonstrou.

4 - Em primeiro de outubro, Bolsonaro confirma a indicação do desconhecido desembargador Kassio Marques Nunes - indicado por Dilma para o TRF-1 - para preencher a vaga no STF. Desagradou fortemente sua base aliada e até hoje não conseguiu justificar satisfatoriamente a seu eleitorado tal decisão. E chamou atenção o fato de logo após ter fechado com Kassio Nunes, Bolsonaro levou dse dirigiu com o indicado à casa de não menos que Gilmar Mendes, onde lá já estavam Toffoli e Alcolumbre.

5 - Em 16 de setembro, a Polícia Federal intima Bolsonaro a depor presencialmente em inquérito aberto depois da saída de Moro. O Presidente entrou com recurso e em 9 de dezembro, Luiz Fux, presidente  do Supremo, adia para 2021 o tal depoimento.

6 - Em decisão que surpreendeu a todos, o Supremo decidiu que nossa Constituição não é inconstitucional e que, portanto, o parágrafo 4º do artigo 57 não deixa qualquer margem de dúvida e deve ser respeitado, não permitindo que os atuais presidentes da Câmara e do Senado possam se candidatar à reeleição. O que ficou para ser contado no futuro é se havia um acordo prévio entre os ministros do STF para aprovar a reeleição e, se havia, quem foi o "traidor" que permitiu o resultado de 6 a 5 confirmando o texto da Lei.

7 - Mas esta minha cronologia foi atropelada pela entrevista de Paulo Guedes à revista Veja (data de capa 23 de dezembro). Nela, Guedes relata sua atuação para desmontar uma agenda para, em 60 dias, derrubar Bolsonaro. Tal propósito parece ter tido início logo após vir a público o vídeo da reunião de 22 de abril, ocasião em que Weintraub, então ministro da Educação, manifestou sua indignação com as ações do Supremo dizendo que, por ele, "botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF". A ideia do golpe, portanto, foi uma reação dos ministros do STF a esta declaração, mas, por provável sentido de autopreservação moral, colocaram como articuladores Maia e Dória. Guedes relata que Gilmar Mendes lhe "sugeriu" que o governo precisava dar um sinal de pacificação. A transferência de Weintraub para o Banco Mundial, foi a solução acordada. Um detalhe a ser ressaltado neste episódio (denúncia praticamente ignorada pela grande mídia e pelo Congresso), é a ação descarada anticonstitucional e antidemocrática realizada pelos ministros do STF, ação esta que não deixa mais dúvida de quem manda no país. Para alguns detalhes a mais veja aqui.

8 - Guedes não contou o que contou por iniciativa própria. Palavra por palavra, tudo foi previamente acordado. As entrevistas nas páginas amarela de Veja sempre foram espaço para desabafos de quem se via injustiçado e de revelações importantes feitas por quem esteve no centro de acontecimentos não integralmente revelados. Foi o caso de Paulo Guedes. Em casos anteriores de magnitude similar, a repercussão sempre se deu em todos os demais veículos, impressos, radiofônicos e televisivos. Não desta vez. Onde eventualmente ecoou, o foi com muita... discrição, sutileza, sem alarde. Nossos parlamentares fizeram vista grossa e ouvidos moucos. Profundamente frustrados com essa história, devem ter ficado nossos partidos e militantes de esquerda, pois imagino eu, se tivessem sido chamados teriam dado o melhor de si para poderem ajudar na "execução" da agenda. Na minha humilde percepção, Bolsonaro tentou criar um fato político. Não teve êxito.

9 - Cabe um aviso importante aos radicais de direita que veem nos militares uma possível esperança de "cortar pela raiz" a presença, ainda gigantesca, da esquerda nas instituições políticas e culturais: o sonho e mote de ação dos atuais militares (generais no topo) é de uma utópica conciliação das duas correntes de pensamento. Esta, talvez, seja a razão por trás dos... recuos de Bolsonaro.

Outros fatos, obviamente, aconteceram e acontecem, mas estes são os que mais me deixam preocupado. Não que o que quer que venha a acontecer na política tenha alguma chance de me afetar, mas acho que temos uma boa chance de, além dos danos já causados ao país pela COVID, virmos a perder mais alguns anos na direção de tornar o Brasil uma nação mais promissora para seus cidadãos. Neste futuro, penso eu egoisticamente, estarão meus filhos e netos. Os filhos e netos de meus amigos e entes queridos. Os filhos e netos dos que me lerem até aqui. 

Após ter publicado esta postagem, tive acesso ao vídeo da entrevista com Sandra Terena, esposa de Oswaldo Eustáquio, feita em 21/9/20, dia em que ela foi exonerada pela ministra Damares Alves, alegadamente por imposição de "alguém" com o argumento esdrúxulo de ser esposa do jornalista. Assista, pois reforça a tese de quem está mandando no país.

E instantes depois me deparo com uma declaração do jurista Evandro Pontes feita em uma entrevista a Ana Paula Henkel, pasmem, em 13 de agosto de... 2019!!! A síntese está nesta frase: "O golpe não virá, ele JÁ FOI DADO pelo STF que virou uma instituição paraestatal. Vivemos, portanto, sob um regime judiciário de exceção". Para saber mais, acesse aqui.

Que venha 2021! Nós o enfrentaremos, como sempre, quaisquer que sejam as circunstâncias, alicerçados em nossos valores e convicções.

domingo, dezembro 13, 2020

SOROS, YOUTUBE, STF E... NÓS?

"Esse - acrescentou sentenciosamente o Diretor - é o segredo da felicidade e da virtude - gostar daquilo que se tem de fazer. Esse é o propósito de todo o condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social do qual não podem escapar." 
Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo.


Junte uma boa dose de digitrônica, acrescente a reação dos comunistas frustrados pós fim da URSS e esprema o líquido amargo de uma conveniente pandemia facilitadora da expansão de arbitrariedades. Não chacoalhe agora, pois esta mistura é perigosamente explosiva para a cultura ocidental. Repare que uma fumaça feito reação de gelo seco em coquetel de barman em hotel 5 estrelas começa a se expandir, invadir o seu ambiente e a envolvê-lo graciosamente. Esta reação química revela que aqueles 3 ingredientes são apenas a síntese de muitos componentes não perceptíveis aos leigos e inocentes úteis. Tentemos identificá-los.

George Soros (1), 90 anos (2020), é um neurótico psicopata que se traveste de filantropo, e através de sua Open Society Foundation, já distribuiu mais de 32 bilhões de dólares (!!!) para incentivar a fragmentação das "demandas sociais" (2). Agora perca alguns minutos de reflexão e justifique que, em contraposição a este "investimento", ele doou 20 milhões para a campanha dos democratas em 2018. Eu faço a conta: isto significa que ele fez um carinho a militantes diversos mundo afora 1.600 vezes mais "adulador" para indivíduos radicais e ONGs travestidas do que para um partido político!!! Soros é um arrogante destruidor covarde. Ele evita a participação política enquanto manipula segmentos da sociedade para o cumprimento de seu objetivo de aniquilar a cultura ocidental. Ele (e outros capitalistas menos abastados, vide DAVOS e a proposta de um "GREAT RESET" mundial), em função do resultado financeiro das circunstâncias de sua vida ambiciosa (vide ganhar 1 bilhão de dólares quebrando  a Libra), deduz-se como um ser acima de todos os demais seres humanos e, portanto, tem o "dever" de tentar impor ao mundo as suas "verdades". Não se engane. Ele não é comunista. Seu desprezo por Rússia e China é o mesmo. Ele simplesmente quer, devidamente protegido pelo biombo da hipocrisia de uma elite, quando não corrupta, intencionalmente hipócrita, impor uma nova sociedade baseada na total anarquia de valores. Liberdade para Soros (e seus fãs) é o fim do Estado. O fim dos conceitos éticos e morais, de modo a permitir a livre manifestação dos mais básicos instintos de nossa espécie, desde a supressão da liberdade do outro até a aprovação da pedofilia, sem deixar de dar uma passada pela destruição da família como núcleo fundamental da construção dos indivíduos para conviver em sociedade. Com 90 anos ele assiste a tudo com a esperança de ter plantado o caos, e a certeza de que não vai estar aqui para ver as consequências. 

Obviamente não é em um parágrafo escrito por um ignorante observador que você vai entender a dimensão do problema. Apenas serve para deixar os desatentos mais "ligados". 

Passemos para o YouTube, o mais aguerrido dos novos "leviatãs", entidades supratudo que intentam controlar o mundo. Na primeira semana de dezembro assisti parte do vídeo de uma live de mais de uma hora e meia do Constantino com o médico Alessandro Loiola. Poucos dias depois, não sei precisar, me deparo com um vídeo do jornalista comentando as mensagens recebidas do YT "justificando" terem excluído da plataforma o vídeo da entrevista, alegando que as opiniões do Loiola contradiziam as orientações da OMS!!! Minha reação foi de estupefação e acabei por me manifestar assim em mensagem ao Rodrigo: "A exclusão pelo YT de sua live com o Loiola é o anúncio do apocalipse. Eu explico. Uma plataforma privada internacional criada e disponibilizada para aceitar publicar as manifestações livres de expressão, se posta acima da Constituição e das Leis brasileiras ao CENSURAR conteúdos que não estão "de acordo com suas próprias opiniões". Isto não aconteceu nem mesmo no pior momento dos militares no poder. E o silêncio do STF? Da OAB? De tantas e tantas entidades profissionais do direito? E do legislativo? E até mesmo do executivo? Então ficamos assim: se não vamos nos levantar contra esta usurpação da autonomia de uma nação, de hoje em diante quem manda na nossa consciência são as plataformas de redes sociais chefiadas pelo YT!!! É isso mesmo?" Entretanto, alguma coisa aconteceu entre aquele dia e hoje quando escrevo. Procurei pelo vídeo que anunciava a exclusão, não encontrei. Procurei pelo vídeo da entrevista e ele está publicado na íntegra (3) no YT!!!???  

Independente de ter havido um possível acordo entre o Constantino e o "leviatã" condicionando o retorno do vídeo da entrevista à plataforma à retirada do vídeo da denúncia da exclusão, a plataforma tem hoje, inquestionavelmente, uma equipe censora, que não deve ser pequena, contando com a ajuda de um aplicativo que exclui parte ou a íntegra de vídeos com base na detecção de "palavras-chaves" constantes no INDEX do Youtube (hoje, recordar a inquisição, é viver sob o regime da lacração). Para comprovar o que digo, veja o que acontece no vídeo (ação denominada de "strike") da entrevista do Gentilli com o Lacombe  (4) e tente entender o que pode ter vindo a incomodar a tão brava "equipe". E você também pode tentar entender porque o jornalista Claudio Lessa foi "desmonetizado" e  passou a ser obrigado a fazer duas edições diferentes de seu CL NEWS, uma para ser publicada no YT e outra para ser inserida nas plataformas que "ainda" não o estão cancelando. 

Passemos ao STF. Tem incauto acreditando que a decisão resultante do plenário quanto à constitucionalidade da Constituição foi um indicativo de que as "coisas" estão mudando naquela instituição. Não estão. O que aconteceu, e que veio à clareza pública, de modo até mesmo agressivo, é: em primeiro lugar, que não temos um supremo, mas vários; em segundo, que o órgão ao qual é atribuída constitucionalmente o dever primeiro de "defender" a Constituição, não a defende; e por último, que ele está hoje constituído por 4 ministros defensores de interesses próprios e comuns, por um ministro "vaselina", por um ministro "velhinho maluquinho" e por 2 ministras e 3 ministros que formam o grupo dos QTTM (Quem Tem, Tem Medo). As arbitrariedades observadas ao longo destes 2 anos de mandato do Presidente Bolsonaro, não deixam dúvida de que o STF não está subordinado à Constituição, não está a serviço de garantir o ordenamento jurídico do País e, muito pelo contrário, fez, faz e continuará fazendo para desestabilizar um governo legitimamente eleito.

E nós, como ficamos neste novo abominável mundo? Não sei. Temo pelas possibilidades. Todas as regras que conhecemos e praticamos ao longo da era industrial, pós abandono do feudalismo, da criação do Estado-Nação e das tantas e diversas declarações de "direitos humanos", estão sob bombardeio, questionamento, revisionismo histórico e radicalismos em todas as áreas de manifestação da sociedade e da cultura. Como já disse em outro texto, não temo por mim, 99% de chance de não estar mais aqui. Que meus filhos e netos encontrem a porta para uma sociedade de humanos verdadeiramente mais humana.

(1) Para um pouco mais sobre Soros: https://infomoney.com.br/perfil/george-soros/

Acrescente o que grandes capitalistas estão imaginando para os próximos passos: https://blogs.correiobraziliense.com.br/ofuturojacomecou/2020/11/24/a-nova-ordem-mundial-great-reset/

Entendo que Olavo de Carvalho instiga ódio e paixão. Mas deixe isso de lado por uma hora e assista-o nesta palestra onde não poderia ter sido mais claro: https://www.youtube.com/watch?v=JSUrJgdiIRs

Black Lives Matter: https://www.youtube.com/watch?v=o_TEF3fsz6Y

Mulher pressionada pelo Black Lives Matter: https://www.youtube.com/watch?v=jP2iMCBUXBE

(2) Por "fragmentação das demandas sociais" aponto para a consequência mais enfática da digitrônica sobre o sistema político, em sentido o mais amplo possível. O projeto de Soros foi viabilizado exatamente pelo poder de fragmentação/distribuição de mensagens e recursos financeiros. A digitrônica permite a Soros estimular demandas individuais que agregam incautos, crédulos, ignorantes e mal-intencionados, sem necessitar de uma orquestração ou liderança. O outro lado desta moeda, é que se torna quase impossível combater tal onda de "demandas sociais" pois não há "um inimigo" a ser visado, combatido. Como exemplo dessa liberdade de manifestação, veja: https://www.youtube.com/watch?v=SinfgFb7rdo


 (3)  Constantino e Loioloa: https://www.youtube.com/watch?v=0BmRGeRDMk8

O que significa "strike":


quinta-feira, novembro 26, 2020

A MENTIRA DAS “FAKE NEWS”


“Refletir é incomodar os pensamentos.”

Evaristo Miranda, diretor da Embrapa, em 2020.

 

Fake é falso e news é notícia. Conclusão: “fake news” significa “notícia falsa”. Ou seja, não significa “notícia mentirosa”. E será que existe diferença entre mentira e falsidade? Pesquiso e aprendo que há, sim, uma sutil diferença entre mentira e falsidade. Vamos ver esta questão antes de continuarmos.

No que interessa a este exercício de reflexão, a mentira é dita por quem sabe a verdade, enquanto a falsidade é uma fala desprovida do conhecimento do fato, ou seja, a falsidade existe basicamente por ignorância, enquanto a mentira encobre um fato que não se quer que outros saibam, mente-se, portanto, na intenção de se auto proteger.

O problema básico da mentira é que, para não ser desmascarada, ela precisa: primeiro, estar bem estruturada; segundo, que não surjam fatos novos que não se encaixem com a versão contada; e, terceiro, que surtam os efeitos desejados antes que haja  tempo e circunstâncias para que os fatos venham à luz. Era assim na era analógica em que as sociedades viviam. Não é tanto mais assim. Como a digitrônica nos dá acesso a quase tudo de relevante para nossa vida cotidiana com dois ou três cliques, tudo se descobre muito, muito mais cedo do que tarde. As pernas da mentiram nunca foram tão curtas!

Uma das marcas dos anos 1950 foi a febre da ufologia. Apareciam discos voadores por todo canto. No Brasil, o aparecimento mais famoso foi em maio de 1952, na Barra da Tijuca, documentado por uma dupla (jornalista e fotógrafo) da revista O Cruzeiro. Como veio a se confirmar, uma reportagem mentirosa relatando uma “aparição” criada para vender mais revista. Não deu cadeia pra ninguém. Até os militares embarcaram na mentira. Ou seja, mentir para atingir um dado objetivo, vem, provavelmente, dos tempos em que o homem das cavernas usava a mentira como expediente para justificar sua ida na caverna da vizinha!

E a falsidade! Há que voltarmos à definição que dei acima: é um relato que independe do conhecimento do fato, ou, o que ocorre com certa frequência, quem falseia não quer conhecer o fato sob o risco de se ver tachado como um mentiroso. A ignorância é uma realidade na história da humanidade pelo simples fato de que, se era impossível aos Neandertais saberem da existência dos homo Sapiens, muito, muito menos agora que a amplitude dos fatos é milhões e milhões de vezes maior que então. Tal complexidade veio a calhar como circunstância favorável para aqueles que a utilizam como proteção vantajosa por psicopatas, fracos e/ou mal intencionados. 

Precisamos ver uma outra questão. O que é “opinião”? Na internet, a “mãe dos ignorantes”, encontramos que é a manifestação de um “julgamento pessoal; parecer”. É, no popular, o tão proclamado “eu acho”. “Eu acho” que no STF só tem gente interessada em si mesma. Isso é uma suposição? Um julgamento pessoal? É uma falsidade? Você acha? É a sua opinião. Não é a minha! E agora? Se fosse preciso que você e eu provássemos nossas opiniões a partir de nossas percepções, então, consequentemente, perderíamos o direito de manifestar opinião sobre o que quer que nos apresentasse para um julgamento mundano. 

Toda opinião está impregnada de alguma “falsidade”. É uma condição inerente à percepção, sentimento que a sustenta. Percepção tem um cordão umbilical com suposição, pela simples realidade de não estar calcada no conhecimento dos fatos. Qual o principal ingrediente das fofocas cotidianas se não “opiniões” cheias de suposições,  falsidades, a partir dos interesses de quem as emite? A nova era, ao nos tornar a todos "eceptores", nos deu o poder de "carimbar" com o rótulo de "fake" toda notícia que eu não desejo ver compartilhada. Não é um algo que possa ser conceituado. É simplesmente um instrumento político a serviço, fundamentalmente, dos que são adeptos de uma visão distorcida, míope, neurótica, de como realmente se comporta a humanidade.

Exposto isto há que se perguntar por que diabos estamos envolvidos em uma discussão maluca sobre coisas tão óbvias?

Acontece que a expressão “fake news” veio ao encontro dos interesses táticos dos que desejam subjugar os povos a todo custo. Na base dos motivos e do perfil dos integrantes deste grupo, vamos encontrar: comunistas frustrados com a derrocada da União Soviética;  o movimento pendular das insatisfações populares; o globalismo invasor das autonomias das nações; o recrudescimento da intolerância religiosa; o advento da digitrônica; o consequente derretimento do sistema democrático como estruturado até aqui; chegando à reação visceral das oligarquias perdedoras de poder, em especial, das mídias tradicionais até então exclusivas e poderosas fontes manipuladoras da interpretação dos fatos sócio-político-econômicos.  

A par das reações da “grande mídia” para a qual não interessa o que é dito, mas sim por quem é dito, surgem as plataformas das mídias sociais censurando cidadãos e empresas, através do bloqueio de conteúdos, simplesmente porque estão fazendo o jogo de políticos e juízes de todas a instâncias, que se coordenam para defender um status quo ameaçado pela nova era. Para atingir seus intentos, adotam ações que afrontam a constituição, desrespeitam a hierarquia jurídica, invadem os limites da alçada de cada poder, criminalizam sem acusação a manifestação de opinião, chantageiam empresas com as ameaças que lhes estão à mão. Neste processo, tudo pode e deve ser rotulado como “fake news” se não for do interesse da “patota do selo azul” (expressão proposta por Rodrigo Constantino). A hipocrisia saiu do âmbito das relações interpessoais e de instrumento de políticos, para subir muitos degraus na escala de usos, e aboletou-se no trono da soberba, e, ditatorialmente, tenta determinar as percepções de todos nós. Eu espero que o silêncio que se abateu tanto sobre o “inquérito do fim do mundo”, quanto o projeto de lei das “fake news”, já aprovado pelo Senado e atualmente na Câmara, signifique que os envolvidos estão percebendo que são intenções autoritárias, ditatoriais e, portanto, nada pode ser mais antidemocrático do que reprimir os legítimos direitos dos cidadãos emitirem suas próprias opiniões e avaliações sobre nossas instituições e seus representantes, isto sem considerar a absoluta impossibilidade de se estabelecer o que possa ser uma simples opinião e o que possa ser uma opinião criminosa!!!

O que você acha disto: os “antifas” acusam (e oprimem) os não adeptos de... “fascistas”, numa evidente afirmação e ação... “fascista”!!! Radicais esquerdistas vão às ruas em manifestações "pacíficas" de violência, portando faixas proclamando estarem em “defesa da democracia"!!! E mais. Só existem “fake news” nas mídias sociais, enquanto as mídias tradicionais são unânimes em falsear as notícias ao bel prazer de seus orgulhos feridos e sem qualquer constrangimento ou escrúpulos, pois reacionários à perda do poder.

Não nos iludamos. A campanha de "Combate às notícias falsas" é uma "cortina de fumaça" utilizada por perdedores nos processos democráticos pois têm a convicção de que o "povo não sabe votar" e que a "verdade" está com eles. Em que parte da história política foi necessário "combater" com polícia e leis a emissão e transmissão de falsidades? Isto sempre foi uma tarefa do tempo e dos indivíduos em sociedade. Não do Estado. Nas exceções, foi ação de governos de exceção para impor suas "impróprias" mas adequadas "verdades"!!! Quais serão os critérios a serem utilizados pela agência de checagem criada pelo governo do Ceará cujo objetivo anunciado é o "estabelecimento da verdade (sic) em temas ligados à administração estadual"? Ou eu sou um idiota ou isto é um instrumento de regimes neofascistas! Existe uma outra campanha debilóide circulando que pede algo singelo: "Se for fake news, não transmita"Só pro macaco entender: 1) Como eu descubro se é uma notícia que eu não devo compartilhar? 2) Ah! Já sei, eu devo consultar antes o "sleeping giants" (1), ou alguma agência de checagem "tendenciosa de fatos" (2). Hum, agora entendi! Só não entendi se a OMS emitiu notícia falsa quando induziu os países a adotar o "fique em casa", inclusive os alunos em idade escolar, e agora defende a volta às aulas!!! 

Se a mentira ufológica foi um “must” dos anos 1950, “fake news” será um dos “trending topics” dos anos 2020. Não entre nessa, pois cada acusação ou rotulagem de qualquer notícia como "fake" que alguém faça, está colocando uma gota num copo que, inevitavelmente, vai transbordar. Só ainda não se sabe quando.

O que se passa, portanto, no mundo, é o questionamento que uma geração faz sobre os valores da sociedade ocidental construídos pós revolução industrial, duas guerras mundiais com dezenas de milhões mortos, algumas pandemias, um risco de guerra nuclear, fantásticas descobertas que duplicaram a expectativa de vida em 70 anos, e um pacote de soluções tecnológicas que melhoraram incrivelmente os índices de qualidade de vida em todo o mundo.  Tal geração de ignorantes da história compõem um movimento sem líderes buscando direção e unidade onde só há fragmentação de causas de minorias cujos anseios não são comuns e por isso não ganham liga, não se "colam". Sobra apenas um inconsistente discurso da "discriminação" que usa a discriminação para encontrar "culpados" de suas fraquezas psicológicas. Isto nada mais é do que a prática do "dividir, enfraquecer, dominar" (3). Para estes, a digitrônica veio a calhar. Fazendo de cada cidadão um produtor e distribuidor de informação (falsa, mentirosa, verdadeira, interesseira etc.) virou de ponta cabeça o mundo das grandes corporações de mídia. Permitindo tal distribuição e o "feedback" instantâneo, as consequências das notícias deixaram de habitar o admirável mundo da manipulação da opinião pública. Neste ambiente, tal como o Corona-vírus, o contágio se dá por clique-contato e a infecção intelectual varia desde a não percepção de sintomas até a internação em UTI, prévia da falência dos neurônios. Mas se não tem líderes, a Grande Rede está repleta de "celebridades" apoiadoras, uma elite que viveu (e vive) às custas de fontes de renda herdadas de seus ascendentes ou do Estado protetor, onde o uso da máscara de "humanitário" progressista é de uso obrigatório, pois esconde a hipocrisia das intenções só admitidas entre quatro paredes da Champs-Elysées. Não há proposição, apenas contraposição. Não querem construir, apenas destruir para ver no que vai dar. Mas é só dar uma olhada na história para se certificar e prever que quem vai pagar pela insanidade psiconeurótica dessa turma, serão os milhões de cidadãos-ovelhas que serão usados como bucha de canhão. Cruzo os dedos para que antes dessa hora tenhamos ganho, tal como desejado em relação ao Corona, imunização de rebanho.

Exposto isto, abandono eu, e sugiro que você abandone também, a utilização da mentira “fake news”, e utilize somente nossa tupiniquim “falsidade”. Com esta atitude fica mais fácil identificar o que realmente está acontecendo, imaginar o que pode vir a acontecer e se posicionar quanto ao que se vai fazer.

Espero, mais uma vez, tê-lo ajudado a evoluir em sua percepção sobre o que nos espera, e, adicionalmente, enxergar com certa dose de saudade como era nosso maravilhoso mundo velho!

(1) Atenção: ninguém sabe até agora (nov/20) quem são os responsáveis por trás desta "entidade" que emite lacrações de modo absolutamente anônimo, o que é proibido pela Constituição, e, no entanto, não foram incomodados pelo STF: https://twitter.com/slpng_giants_pt. Dê uma olhada nesta matéria da Gazeta do Povo.

(2) Agência Lupa, ligada à Folha, se intitula "a primeira agência fact-checking do Brasil" https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/

(3) Para uma ideia clara do que isto significa assista aos 3 episódios da série "As grandes minorias" produzidos pelo movimento Brasil Paralelo. Aqui o primeiro capítulo, "Os Antifascistas". Não faça isto depois de se alimentar pois o risco de vomitar é alto.

Livro  https/ecclesiae.com.br/inquerito-do-fim-do-mAuiundo


Olha só quem está em primeiríssimo lugar!!!

Mas esta é uma coisa que a "patota" quer evitar a todo custo! 

Este texto contribuiu para aprimorar sua visão sobre o tema? Se você tem um comentário, uma sugestão ou uma crítica a fazer, você pode usar o formulário de cpntato aí ao lado, ou, se souber, meu whatsapp particular.  Por importante, serei grato pelo seu feedback.

sexta-feira, novembro 20, 2020

MUNDO NOVO, ADMIRÁVEL OU ABOMINÁVEL? – O FUTURO


A existência de uma ditadura depende da ignorância da massa.

Ryszard Kapuscinski, jornalista polonês


Não tenho bola de cristal, não sou vidente, nem profeta do apocalipse. Vejo o presente, e com a vivência e mínimo conhecimento histórico, faço cá minhas deduções. O que percebo é um futuro que, se não for negro, se avizinha com contornos cinzentos.

O FUTURO NAS REDES SOCIAIS

Uma tecnologia imaginada para ser libertadora é hoje uma ferramenta castradora do direito à livre manifestação de opinião, e manipuladora da “verdade” para atingir objetivos econômicos e políticos tanto de indivíduos quanto das oligarquias, independente das ideologias, dos regimes políticos e do nível de psicopatia de quem dela faz uso. A quantidade e a intensidade das arbitrariedades estão em plena escalada. De indivíduos postando nas redes sociais ataques grotescos a quem emite opinião divergente, a ministros da suprema corte criando um inquérito “das fake news” que só reprime aqueles alinhados com o presidente da república, passando pela absurda censura promovida pelas próprias plataformas motivadas pelo medo de possíveis ações de uma justiça que tem olhos bem abertos para a proteção de seu próprio umbigo. Como escalada não vai parar por aqui. Não me arvoro determinar como isso acabará, mas uma tendência só arrefece quando atinge um ponto tal de saturação que dá razão, incentivo e momento para uma tendência contrária se mostrar viável.

Para ilustrar a nuvem de confusão que paira nos neurônios de dirigentes ao redor do mundo, vejam o que vi. Ao acessar um conteúdo no site da Folha, me deparei com um banner com a seguinte mensagem: “Vamos combater as notícias falsas. Para vencermos isso juntos, o Whatsapp, 1, limita o compartilhamento de mensagens altamente encaminhadas, 2, mostra quando uma notícia é encaminhada, 3, limita o número de participantes nos grupos”. Aguarde para breve a ação 4, 5... Não existe lei, apenas o aplicativo só aceita que você se comporte do jeito que eles (dirigentes) querem. Releia prestando muita atenção! O que considerávamos ser uma questão técnica é reconhecido publicamente pela plataforma como ações que visam impedir ou limitar a liberdade de expressão e opinião. O motivo declarado é “combater as notícias falsas”!!! Afora o fato de “notícia falsa” ser sempre aquela que vai contra os interesses do julgador, independente de o fato abordado ser falso ou não, para a dita plataforma TODA notícia, ou melhor, TODA mensagem distribuída nela é falsa, bastando considerar que as restrições valem para TODAS as mensagens!!! (1)

SEGURANÇA NO USO DA TECNOLOGA DIGITRÔNICA

Você já percebeu como se tornaram corriqueiras as tentativas de invasão de celular? E as invasões em computadores? E o sequestro de dados para posterior pedido de resgate? E quantos desses casos você tem visto as polícias chegarem aos autores e a justiça os condenar? O número de ataques para roubo de dados bancários cresceu 43% no primeiro semestre de 2020!!!  Se a impunidade é o combustível da criminalidade, que nível de caos o sistema financeiro terá que atingir para que algo (que algo?) seja feito?

AINDA HÁ SENTIDO NO CONCEITO DE PRIVACIDADE?

Não creio. Sou mais por considerar que privacidade pertenceu ao mundo analógico quando palavras como discrição, recato, humildade, proteção da intimidade, eram valores aplaudidos e copiados. Se na segunda metade do século XX, o auge era ter seus 15 minutos de fama, o êxtase nesta primeira metade do XXI já é ter “seguidores” (meu neto me confessou ontem que já tem 5!!!). Isso à custa de expor boa parcela de sua intimidade, deixar a humildade para os fracos e exaltar seus feitos, por menos relevantes que sejam. Sempre haverá uns tantos para lhe dar umas bajuladas, umas escovadas no ego e uns necessários “likes”.

O COMÉRCIO ELETRÔNICO

Enquanto o comércio eletrônico cresceu e ainda cresce na pantrônica, a parte da classe média oriunda do pequeno comércio está sendo dizimada. O  hábito de comprar pela Rede é cada dia mais praticado. No futuro não será mais necessária uma pandemia para nos trancafiar em casa, vai ser uma opção voluntária. Tudo pelo whatsapp, transportado por Uber Eats, pago com Betoni e via Pix! Espelho meu, há um ser mais digital do que eu!?

AS MÍDIAS TRADICIONAIS

Perderam seu poder. Num processo de negação pela morte anunciada, manipulam e distorcem os fatos numa tentativa desesperada de enganar uma audiência em declínio(2).  O tempo encurtou para tudo. Não temos mais tempo/saco para ler e as revistas e os jornais impressos veem suas tiragens despencarem vertiginosamente (bancas fecham ou viram lojinha de bugigangas). Queremos informação rápida, mastigada, sintetizada, e isso é o que obtemos tanto nas redes sociais quanto nos canais do Youtube. A Netflix me entrega via Smart TV, filmes, séries e documentários muito superiores às “antigas” novelas da rede Goebles. Sair de casa pra quê? Correr o risco de ser assaltado por algum excluído da digitrônica? Tô fora!

O HOME OFFICE

O espaço encurtou para os profissionais qualificados. Eles não precisam mais de salas, mesas, cadeiras, secretárias, contínuos, pois muito pode ser feito pelo computador no sofá de suas casas, ao som das arruaças das crianças e dos reclamos da mulher, quando as há. Quando não, fiquemos na companhia de uma obrigatória solidão tediosa. O home office, se não vai ficar do jeito e intensidade que está, veio para ficar. Se arrumar, pegar o buzão ou enfrentar um engarrafamento, andar uns quarteirões, dar alguns bons dias, trabalhar no convívio com os pares, chefes e subordinados, e “discutir o futebol”, será exclusividade dos menos qualificados.

ENSINO

Vou pular as questões "escola sem partido" e "ideologia de gênero" por imbecís de mais que são por si só. Atentemos apenas para o conteúdo curricular que já vem sendo questionado há muito tempo. Com a digitrônica, o ensino (abrangendo o professor, o aluno, o conteúdo e a disciplina) tal como até aqui, morreu, só ainda não contaram para o corpo docente, principalmente dos vinculados ao Estado, por causa do risco de uma rebelião por ameaça de perda de privilégios. Existem apenas duas matérias a serem aprendidas: língua pátria e posturas e cuidados no trato com a digitrônica. O resto, se aprende pesquisando, clicando e copiando quando a necessidade exigir.

DEMOCRACIA EM CRISE INTESTINAL

A democracia analógica derrete enquanto nada é proposto como alternativa. Minorias se multiplicam por todos os lados ocupando os espaços que uma maioria desarticulada não encontra seu ponto de unificação. Estamos nos confrontando com uma sociedade do mimimi – a moda pós a do politicamente correto. Jovens de iPhone clamam por uma igualdade di direitos que significa reivindicar uma igualdade de privilégios sem custo, caídos do céu, ou vindos da “nuvem”, ou, em última instância, usurpado de quem ralou para conquista-la (3). Só não dizem quem paga a conta, pois imaginam que “vaca dá leite” (4). Em síntese, não há como a democracia, tal como estruturada até aqui, conseguir se sustentar sob o ataque da dinâmica da comunicação digitrônica.

Não sei como será o futuro, mas não gosto de imaginar a evolução do que vejo neste meu presente. Não por mim, que não estarei mais por aqui, mas meu coração fica pequenininho quando penso nos filhos e netos de todos nós.

Deixo agora você com seus ícones, teclas e toques a pensar num futuro quase presente. De minha parte penso que não será abominável porque o ser humano é absolutamente resiliente, por esta característica é que eu e você existimos, mas temo, sinceramente, que não será admirável.

(1) Em Admirável Mundo Novo, há um diálogo em que o personagem Diretor afirma que o segredo para a felicidade e virtude dos cidadãos é “fazer as pessoas amarem o destino social do qual não podem escapar”.

(2) Sobre inversão de fatos lembro Bonner e Maju. 

(3) “No final, tudo se resume ao mesmo objetivo: um grupo querendo viver à custa do outro; um grupo querendo confiscar a renda do outro; um grupo querendo tolher a liberdade do outro em prol de seus "direitos".” Lew Rockwell, é chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute.

(4) Assista este trecho de uma palestra do Mário Sérgio Cortella.

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quinta-feira, novembro 12, 2020

MUNDO NOVO, ADMIRÁVEL OU ABOMINÁVEL? – A FASE PANTRÔNICA


A pandemia da COVID-19 introduziu, no processo de desenvolvimento da digitrônica, uma variável nova, não esperada, de amplitude global, e com um poder de transformação social e econômico ainda não dimensionado corretamente. Desconsideremos a origem do vírus, as razões que o levaram a se expandir e todas as teorias de conspiração. Vamos partir de um olhar sobre a inter-relação entre a digitrônica e esta pandemia, para chegar à projeção de um futuro próximo onde se imagina virmos a adotar novos padrões de comportamento na condução de nossas vidas.

Alguém estimou recentemente que a pandemia acelerou o processo de expansão dos padrões digitrônicos em pelo menos 5 anos. É provável. A aceleração provocada pela velocidade de propagação do vírus, associada ao total desconhecimento sobre seus efeitos e inexistência de tratamento, trouxe para o debate em rede gente de todos os lados, nível de formação/conhecimento, matizes de pensamento, posicionamento político, correntes de pesquisa etc.

O surgimento de “youtubers” nestes últimos 8 meses foi explosivo. Em muitas áreas. O confinamento nos tirou dos espaços - praças, ruas, trabalho, bares, futebol etc. - onde nos reuníamos para nos informar, opinar e protestar, e nos limitou a uma tela – de celular, notebook, computador e/ou televisão –, apresentando um rosto, muitas vezes desconhecido até então, com o qual passamos a dialogar, discutir, e tomar como fonte primária de informação.

A pantrônica é a fase da digitrônica em que nos foi proposto/imposto um mundo confinado entre nossas próprias 4 paredes, condenados a um não-viver, sentenciados sem sentença, sem recurso, e sem um “Supremo” que nos salve. A pantrônica nos colocou em quarentena indeterminada e trabalhando em nossas instalações caseiras (e precárias para a maioria dos brasileiros), junto com nossos filhos apartados do acesso à formação e ao conhecimento, num convívio novo e difícil para pais e filhos. Ela nos tirou beijos, abraços, carícias, cumprimentos, inter-relações e proximidade. Se aumentou o convívio matrimonial, expôs rusgas, diferenças, desavenças, aumentou o número de divórcios, de suicídios e de agressões físicas. 

Por conta e ordem de governadores e prefeitos, boa parte da classe média formada pelos comerciantes de pequeno e médio porte ruiu, faliu, e, tendo dilapidado um patrimônio amealhado por anos, migrou para um ou mais degraus abaixo na escala socioeconômica. Destruiu quase que totalmente um setor inteiro, o de viagens (a trabalho e turismo). Consequentemente, os gigantes da indústria da aviação devem estar às voltas tentando descobrir para onde ir. Você já parou para imaginar quando vai ser preciso construir novos aviões tendo milhares parados em solo e demandando manutenção? Para não acusá-los de não serem equânimes, e já que não faziam mesmo parte da "força de trabalho" formal, jogaram a quase totalidade dos trabalhos informais nos programas assistenciais do governo federal. Nem catador de latinha ficou de fora.

A pantrônica expôs de um modo chocante a hipocrisia dos políticos, seus interesses escusos, a crueldade da corrupção que não arrefece nem quando se trata da saúde dos cidadãos, evidenciou a “guerra” entre nações e a intolerância religiosa perigosa e assustadoramente crescente.

A pantrônica nos oprimiu. Aos reagentes à detenção involuntária, por desobediência civil ou por necessidade de sobrevivência, nos impingiu o uso de uma máscara ineficaz quanto à proteção de nos infectarmos, mas que cumpre o papel de nos lembrar segundo a segundo que somos manipulados por um poder disseminado, distribuído por cidadãos cooptados pelo medo. Pelo medo, me sinto no direito de apontar o dedo, ou a voz, para aquele que não a está usando. Pelo medo de ser acusado como responsável por alguém ser contaminado, dirigentes de empresas contratam “fiscais da moral do comportamento social” para se postarem nas portas de suas instalações armados de spray com álcool e medidor de temperatura (ai de você se se negar a ser submetido!).

A pantrônica colocou nos “trading topics” das discussões políticas o que há décadas é discutido sem que se tenha um consenso: a renda mínima para a população dos excluídos da vida econômica moderna. Não só. As pessoas não tendo coisa melhor para fazer no enclausuramento forçado, voltaram debater sobre escola sem partido, ideologia de gênero fora e dentro das escolas, cotas raciais para tudo etc.

A pantrônica não vai terminar tão cedo por mais cedo que se tenha uma vacina amplamente testada, eficaz e segura. É só você fazer um exercício básico. Comece imaginando quando se iniciará um processo de retrocesso nas medidas autoritárias a que estamos submetidos. Depois, tende desenhar um plano para tal desarticulação (lembre-se das idas e vindas que já estamos assistindo em muitas cidades) e acrescente aquela variavelzinha sempre incômoda: o tempo. Não pare por aí. Vá juntando um fato científico aqui outro ali, para descobrir que imunizar 7,5 bilhões de indivíduos vai levar certo tempinho. E acrescente a cerejinha do “cupcake”: os debates acirrados sobre a aplicação voluntária ou compulsória da “vachina” ou que outro rótulo ela venha ganhar.

Finalizando. A “combo” promocional China-vírus-disseminação-políticos-pseudocientistas-medo-de-morrer, vai levar muitos anos para sair de oferta. Façam suas apostas.

Na próxima semana (acho que finalizo esta série) trato, finalmente, de como poderá vir a ser um mundo possível próximo: admirável ou abominável?

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sexta-feira, novembro 06, 2020

MUNDO NOVO, ADMIRÁVEL OU ABOMINÁVEL? - O ECEPTOR (complemento)

No mundo analógico e desconectado, éramos hora emissores, hora receptores. No mundo digitrônico somos simultaneamente ambos, pois, na maioria das vezes, não há espaço temporal entre uma condição e outra. Quando clico num link com o objetivo de obter uma informação, a mesma ação está sendo armazenada para todo o sempre em um ou vários bancos de dados sediados sabe-se lá onde, informando para outrem uma preferência minha (a sexual em particular), uma característica, um desejo, meu provável posicionamento político etc., e tudo isto para ser avaliado por um algoritmo a serviço de interesses futuros daquele tal “outrem”. Isto aconteceu só porque dei um clique no mouse!!!??? Muito menos que isso. Agora basta ser um vivente digital em alguma medida (ter um celular, um notebook etc.) para que sua, até recentemente, tão valiosa privacidade vá para as cucuias nos servidores na nuvem. Privacidade? Esquece, isto num futuro não tão longínquo vai ser considerado coisa da "pré-história digitrônica".    

Como eceptores, estamos deixando de ser cidadãos como entendido até então. Cidadão deixa de ter um significado político, aquele que atua na sociedade como agente crítico e reivindicador de direitos, e passa a ser aquele que tem seus dados armazenados na nuvem. Se você acha que estou exagerando, lembro que agora, para o Estado, só existe quem ele pode enxergar, atingir através da tecnologia digital. O indivíduo que ainda vive no analógico simplesmente deixou de existir, ou virou “alma penada”, “walking dead”. É muito difícil e caro chegar até ele. Saber suas opiniões. Identificar suas necessidades. Políticas públicas agora são definidas a partir de uma estatística sobre o que é postado nas redes sociais: top 5, top 10, “likes”, “dislikes” e “trending topics”, cancelamentos e lacrações.

O poder, antes oligárquico, se tornou anárquico. Temos todos uma cota de poder, individual ou coletivamente. Quando postando, posso criticar qualquer um, sobre qualquer assunto, usando qualquer tom, ignorando as consequências do que e como o faço. Revestido de uma capa preta, posso determinar que alguém seja preso pelo simples motivo de que não gostei do que alguém disse sobre mim. Como Supremo, posso determinar que uma plataforma de rede social elimine mundialmente todo o conteúdo publicado por um desafeto “da minha instituição”. E se a plataforma se negar, ameaço-a com multas diárias e de impedi-la de atuar no país. Mas nem precisa do "Supremo". A própria plataforma digital pode se arvorar direitos de censura, bloqueio e eliminação , bastando que o CEO da ocasião (ou mesmo o PLH, Programador Lacrador da Hora) achar que fere suas susceptibilidades, de sua comunidade religiosa ou política, ou, até mesmo, interesses particulares. Ou, como fez o Whatsapp, simplesmente impedir que você compartilhe o que quer que seja com mais de 5 destinatários!!!

Como eceptores, podemos nos contrapor a qualquer opinião, de qualquer origem, com qualquer nível de intensidade e ênfase, a tudo e a todos instantaneamente. A opinião do especialista (em qualquer área do conhecimento) é contestada pelo leigo, ignorante, com a força de um “acho” ou da referência a um estudo fajuto qualquer que "alguém" postou no Facebook. E a opinião moderado passou a ser vista como sendo de um “passador de pano” e merecedor dos imediatos ataques raivosos de militantes, engajados ou simpatizantes. Isto sem nenhuma necessidade de aprofundamento de argumentos. Tudo é “resolvido” com uma dialética absolutamente superficial, rasteira e pobre de argumentos. 

O lembrete de “você está sendo manipulado” tinha sentido na era analógica quando principalmente os governos utilizavam a “grande mídia” para manipular o voto e tentar direcionar a vontade popular para seus objetivos. Agora é apenas motivo de riso. Antes você ainda tinha a possibilidade de, ao ser lembrado, se esquivar, reagir, contestar, processar, etc. etc. etc. Todos esses direitos não existem mais. A prova é o inquérito sigiloso das “fake news” ou “inquérito do fim-do-mundo” conduzido pelo “sinistro” Alexandre de Moraes que mandou prender sem acusação, apreendeu instrumentos de trabalho, impediu acesso dos advogados aos autos, não dá satisfação a ninguém e, sem ficar vermelho, confronta a Constituição e todos os direitos consagrados e normatizados pelo arcabouço de nossas leis.

Ah! Você vai exclamar, mas agora nós temos acesso a muito mais informações, a muitas fontes de diferentes opiniões, e isto nos dá um poder que nunca tivemos. Correto. Só tem um pequeno detalhe. Ai de você se não se comportar direitinho.


Na próxima semana, adiciono a pandemia da COVID-19 e analiso este período intermediário ao qual vou me referir como a fase da pantrônica. Até lá.