quinta-feira, junho 15, 2023

NÃO É POR VOCÊ, MANÉ, É PELO PHODER!

 

Há em cada Estado uma margem de obediência que se ganha apenas

através do uso da força ou através da ameaça do uso da força.”

 Bertran de Jouvenel,  filósofo, politólogo, economista e diplomata francês

 

A história da sociedade humana é a história da relação entre os que buscaram o poder e os que a eles se submeteram por proteção à vida. A evolução desde nossos ancestrais primatas até o homo sapiens moderno pelas graças do mecanismo da seleção natural, resultou em uma espécie frágil e dependente de proteção. Humanos levam mais de 12 meses para se firmaram sobre duas pernas e levam vários anos para serem capazes de se autossustentarem.

Sou crítico dos que agitam a bandeira da liberdade como o maior valor do ser humano. Não, não é. Liberdade é um valor necessário para relações sadias e produtivas entre os membros das “tribos” e entre as tribos. O maior valor para um ser, particularmente o humano, mas não só, é o da preservação da vida. A quase totalidade dos humanos [1]  abre mão de sua liberdade num piscar de olhos se tal renúncia garantir, ou pelo menos, prometer lhe preservar a vida. A maioria de nós, certa e rapidamente, abrirá mão da liberdade – qualquer que seja ela – para manter a vida, seja a própria, seja a de alguém que ama, seja até mesmo a título de uma suposta defesa de uma pátria que só existe no papel e na imaginação.

Com o advento do trabalho e das interrelações a ele inerentes, a prioridade quanto a “preservar a vida” passou a abranger, para cada indivíduo, a manutenção das circunstâncias que lhe são benéficas, de eventuais privilégios, enfim, de seu “status quo”. É esta premissa de preservação da vida que justifica uma pessoa não se arriscar a se demitir de um emprego que lhe faz mal física ou mentalmente; de funcionários públicos se rebelarem quando da ameaça de perda de “direitos adquiridos”; é a razão de profissionais, especialmente jornalistas, adequarem suas opiniões públicas – e mesmo privadas -, à opinião de seu empregador; e, sob o mesmo mote, políticos que, depois de eleitos, abandonam suas “convicções” e seus eleitores em prol de um padrão de vida que jamais terão em outra condição.

Antes de continuar preciso explicar a diferença de significado entre “poder” e “phoder”, grafia que venho também usando há algum tempo. O Poder, como entidade, é legítimo e absolutamente necessário em todas as atividades da vida em sociedade. Poder, em sua essência, é a capacidade de fazer, de liderar, de comandar, de ensinar. Um cirurgião tem a capacidade de realizar uma intervenção de cura; um administrador tem a de liderar diferentes profissionais para o atingimento de metas; o general a de comandar um exército em uma batalha em obediência a uma estratégia de defesa previamente definida; e pais e professores têm, em conjunto, a nobilíssima tarefa de formar crianças para uma vida adulta sadia. Quando uso, portanto, poder, estou me referindo a uma instituição necessária à continuidade do funcionamento da humanidade como é hoje. Entretanto, o poder, em todas as circunstâncias, não só nas acima citadas, é exercido por diferentes humanos, providos de diferentes genéticas que regulam suas ações e reações, seus desejos e instintos, seus corpos e suas mentes. A psicopatia, um distúrbio da mente que se define pela insensibilidade e falta total de empatia com o outro, todos os outros, permite a um cirurgião ser um assassino frio, um administrador ser um corruptor em busca de objetivos escusos; um general sacrificar milhares – até milhões – de jovens por puro desejo de conquista de território; pais a impingirem castigos cruéis, e professores a substituírem formação de jovens para a vida por lavagem cerebral a partir de seus desejos de imposição de uma verdade ideológica. É sempre a este exercício doentio, patológico, que denomino de “phoder”, pois sua única intenção é realizar o que preciso for exclusivamente em benefício próprio, independente de quanto prejuízo e sofrimento provoque em outros.

Afirmei que a história da humanidade pode ser contada pela história do poder, mas, muito mais pelo “phoder” do que pelo poder. Na realidade, a história da humanidade foi conduzida sob uma relação sadomasoquista. No lado “sado” uma minoria tirânica disposta a tudo para se manter no topo da pirâmide. No lado “maso” um rebanho de crentes e medrosos, ambos submissos em função da preservação de suas vidas.

Todo este blá-blá-blá até aqui é só para tentar mostrar aos inocentes úteis que não é direita ou esquerda, não é democracia ou ditadura, não é exército ou salvador da pátria, não é pobre ou rico, não é Estado ou mercado. É só “phoder”, mané!

Ok, quem sou eu para fazer tal afirmação!?

Pois bem. Leia o livro “Democracia, o Deus que falhou”, de Hans-Hermann Hope. Não tem paciência, tem preguiça, não tem dinheiro? Ok. Então acesse o extrato  que fiz  [2] . De qualquer forma, mesmo que você não venha a concordar comigo, sua visão de como a banda toca o mundo, vai, no mínimo, mudar muito (depois me conta!).

Aceitando ou não essa minha indicação de leitura, você precisa assistir o documentário “O Grande Despertar”, de Mikki Willis  [3] . Por si só é arrasador e desmantelador das narrativas políticas atuais, mas combinado com “o Deus que falhou”, vai detonar sua visão idealista do mundo, esteja você identificado com ideias à direita ou à esquerda.

Espero ter oferecido algo para seu crescimento intelectual. Para quando você ouvir a expressão “para o bem da sociedade”, e outras similares, você saia correndo.

Vou chegando ao final citando duas falas do documentário:

“A verdadeira mudança lá fora, começa com a verdadeira mudança interior”.

Esta outra se refere aos americanos, mas cabe a nós: “Hoje, somos verdadeiramente um povo privilegiado, numa terra privilegiada. Mas com as bênçãos vêm as responsabilidades, e com as responsabilidades vêm os riscos. O desafio do nosso tempo é que devemos aceitar ambas as atribuições, das nossas bênçãos e os riscos envolvidos em defendê-las, por nós mesmos e pelas gerações futuras, e devemos fazê-lo sem hesitação se quisermos ser beneficiários dignos daquela preciosa herança de liberdade que nos foi transmitida através dos sacrifícios épicos daqueles que partiram antes.”

Encerro com George Orwell, o mais referenciado futurólogo e premonitório:

“A forma mais eficaz para destruir as pessoas, é negar e obliterar a sua própria compreensão da sua história.”

 

1  – Há, evidentemente, uma certa cota de heróis, aqueles que se arriscam a perder a vida em benefício de outro ou de uma causa, mas estes são uma parcela muito pequena.

2 – A leitura do extrato não substitui a leitura integral da obra. Quaisquer conclusões e inferências feitas pelo leitor é de sua exclusiva e inteira responsabilidade. 

3 – Acesse o filme neste link (duração de 1h41m): https://rumble.com/v2sw69g-filme-the-great-awakening-2023.html


Esta crônica de Ernesto Lacombe é uma cereja para este bolo de "phoder".