sábado, fevereiro 18, 2023

SHIBUYA OU LEVIATÃ

 

Eu não tenho um sonho como Martin Luther King Jr., mas tenho um desejo, o de manter um debate com um adepto de políticas socinistas[1]. Recuso-me a ofensas, lacrações e “não vou lhe responder” como ouvi de um bolsofóbico a uma pergunta simples que lhe fiz. Como meu dogma é “ninguém convence ninguém”, o propósito é o de tentar entender o que sustenta um indivíduo, informacionalmente[2] bem aquinhoado, defender com posturas radicais a negação, ou melhor, o descarte das características fundamentais do ser humano, em prol da construção de um modelo que propõe a transformação de todos nós em zumbis e posteriormente a criação destes novos seres em linha de montagem gerenciada pelo “grande Leviatã”, o Estado totalitário nas mãos dos psicopatas e seus baba-ovos úteis. E, em contrapartida, ter a oportunidade de apresentar de modo coerente os fatos e percepções que estão na base do modo como conduzo minha vida e de como entendo que as sociedades humanas devem ser administradas.

Imbuído, portanto, deste desejo, pretendo apresentar aqui algumas questões de lógica política, social, biológica e moral, basicamente. Aqueles que me lerem fica desde já lhes dado o direito e a liberdade de, via Whatsapp, por comentário aqui no blog, ou por mensagem de emeio, me enviar seus pensamentos, reflexões, questionamentos e contra-argumentos. Sem isso, isto não terá sentido dar continuidade com outras proposições além desta (veja aqui[3] normas básicas de conduta a serem observadas).

Vamos à primeira questão. A ideia central do socinismo é o poder do Estado sobre os cidadãos de segunda classe[4]. E eu tenho uma torturante dificuldade em imaginar uma fórmula que parta do princípio de que um punhado de indivíduos – cerca de 1% da população – tenha um aparato tal de conhecimento, “verdades”, que os habilita a impor regras aos demais, em todos os aspectos da vida, de como devem se conduzir! O busílis da questão é como conseguir que 99% de cidadãos de uma nação abram mão de suas percepções, convicções, características genéticas, valores adquiridos por educação familiar, muito disto oriundo de um autoaprendizado diário, para adotarem plena e completamente valores que, em alguma medida, são contrários às suas naturezas?

Se a natureza humana é diversa e única, se não existe nos atuais 8 bilhões de seres humanos dois que sejam iguais – esta não é uma constatação minha, mas da genética - no máximo podem haver dois semelhantes, divergentes em um certo conjunto de certezas individuais, por maior que sejam as convergências, como, e por quê, há indivíduos que creem poder normatizar o funcionamento do espírito humano que é condutor de nossas reações emocionais e atos consequentes?

Provavelmente alguns leitores hão de ter visto esta imagem de um cruzamento em frente à estação Shibuya do metrô de Tóquio. Ele é um dos dois mais movimentados do mundo.

 

Eu considero esta imagem o exemplo de como tudo na vida funciona, ou seja, é a liberdade de busca de interesses individuais diversos que se tem o melhor resultado final para todos. Um vídeo que encontrei mostra ainda melhor o que estou dizendo.


Perceba que, exceto o semáforo e as faixas de pedestres, não há qualquer regra sendo obedecida. Melhor dizendo, a regra é cada um por si, pelos interesses egocêntricos que transitam pela mente de cada um dos mais de 2 mil humanos naqueles momentos da travessia. Repare que há indivíduos em todos os sentidos e direções. Há um indivíduo que pedala transversalmente às faixas e boa parte nem mesmo caminha sobre elas. E apesar da luz vermelha ter acendido, ainda há indivíduos atravessando.

Isto mostrado vem a pergunta que deixo para os estatistas. Considerando que Shibuya é a síntese de como todos nós nos conduzimos ao longo de nossos milhões de minutos de vida, como seria o algoritmo para fazer com que cada indivíduo agisse apenas conforme os desejos do Estado? Como dizer para cada cidadão que eles precisam seguir um conjunto de regras impossíveis de serem memorizadas[5] e executadas conforme o desejo do “grande Leviatã”[6]?



[1] Lembrando: socinista é a denominação que uso para referenciar o pacote hipócrita das ideias socialistas – lado soft - e comunistas – lado hard - de subjugação da natureza humana.

[2] Estou procurando abolir o uso do qualificativo “culto” a quem quer que seja, eu incluso. Por tudo que vi/ouvi nestes últimos 5 anos, ganhei a convicção de que cultura é algo subjetivo, fluido, maleável e manipulável. Prefiro, então, trabalhar apenas com a quantidade de informação a que uma pessoa teve acesso e guardou em sua bagagem mental. Evidentemente, e aí está o problema, informação também é algo fluido, maleável e manipulável, mas não é subjetiva, a informação é ou não existe. À cultura pode receber uma avaliação de qualidade, a informação não, por mais que narrativas tentem e discursos usem referenciar “fontes confiáveis” como uma chancela para o que querem que outros acreditem. Toda informação tem em seu bojo um “interesse” particular em sua disseminação.

[3] Primeiro, palavrão usado como agressão, acusações morais ou intelectuais, humilhação, depreciação, ameaças de qualquer natureza, e manifestações de intolerância quanto a mim ou, eventualmente, quanto a terceiros, serão motivo para encerramento de troca de ideias e bloqueio ou filtragem quando tais recursos estiverem disponíveis. Segundo, as minhas argumentações serão postadas aqui no blog e sempre junto com a opinião que tiver dado motivo a ela. Entretanto, só identificarei o autor da mensagem a que estiver respondendo se eu tiver sido autorizado explicitamente a fazê-lo, do contrário farei referência apenas a “um leitor”. Terceiro, é preciso ter em mente que o objetivo é crescer intelectualmente, tanto no nível pessoal quanto no que possa contribuir para outros cidadãos.

[4] A divisão da população em duas categorias, os dominadores e os dominados, não é um privilégio do socinismo, qualquer sistema de administração de uma sociedade, por menor que ela seja, só existe enquanto há tal separação. A diferença é de forma, não de conteúdo.

[5] Experimente criar uma receita a ser obedecida a cada pedestre de modo a que todos cheguem ao final da travessia no tempo e local desejado.

[6] Uso aqui Leviatã no sentido dado por Thomas Hobbes, filósofo inglês, que em sua obra afirmava que a "guerra de todos contra todos" que caracteriza o "estado de natureza" só poderia ser superada por um governo central e autoritário. O governo central seria uma espécie de monstro - o Leviatã - que concentraria todo o poder em torno de si, e ordenando todas as decisões da sociedade. Fonte: Wikipedia.