quinta-feira, janeiro 13, 2022

A LIBERDADE NÃO É UM DIREITO!

Tenho a desconfiança de que nunca se falou tanto em liberdade como neste início de século XXI, e quando um tema pertence a uma pauta política, cultural, comportamental, é, fatalmente, porque está se discutindo o que está em falta ou cuja existência está ameaçada. E o que me incomoda, é o fato de liberdade ser tratada como um direito a ser concedido, por alguém ou instituição, ou conquistado, por mérito ou sorteio!! Não é. 

Liberdade é uma condição genética de todo e qualquer ser, do unicelular ao mais complexo que possa existir sobre este planeta que chamamos Terra. Sob esta constatação, o exercício de liberdade é a essência dos seres vivos. Antes de existir qualquer outra característica, a liberdade existe como consequência da concepção de um ser, seja da flora ou da fauna, ambiente este ao qual pertencemos como uma espécie especial.

Uma planta é livre sem uma folha e continua a ser planta. Um pássaro é livre sem uma pena e continua a ser pássaro. Um mamífero é livre sem uma pata e continua a ser um mamífero. Um humano é livre sem qualquer de seus membros ou sentidos, mas tire de qualquer deles a liberdade, e a existência deixa de ter razão, sentido, significado. 

Pode-se conceituar a honestidade frente a desonestidade. A moralidade frente a amoralidade. A amizade frente a inimizade. Mas à liberdade nenhum conceito há que se lhe oponha. Não há nada que possa assumir a condição de "desliberdade", "aliberdade", ou "iliberdade". Liberdade simplesmente é o exercício da existência. Deixamos de ser viventes, portanto, se, por quaisquer meios, a liberdade é suprimida.

Se uma planta não pode crescer, morre. Se um pássaro não pode voar, morre. Se um animal de qualquer espécie, incluso a humana, não pode se desenvolver, morre. Se não podemos existir em nossa plenitude de seres vivos, então...

Diga-me você. Um preso em um campo de concentração teve sua liberdade retirada? Se você acha que sim, me diga então por qual método ele se conduziu enquanto lá esteve? Se você acha que sim, o que o fez agir como agiu quando ele os portões se abriram? Ou será apenas que ela apenas se expandiu com a perspectiva de prazer e felicidade? Só é possível eliminar a liberdade eliminando o indivíduo.

A existência de todos os seres é uma sequência infindável de estímulo e resposta. Theodore Dalrymple (1949/...) observou que entre os dois momentos "o homem tem a liberdade de escolha". Sempre. Não importa o que lhe tentem impor, a liberdade é o que lhe confere, inclusive, a escolha de submeter.

A filosofia grega - conjunto de ideias geradas pelos tantos pensadores que viveram naquela região mais ou menos entre os séculos 400 a.C. e 400 d.C. - até hoje nos dá referências para o entendimento do que somos e fazemos. Entretanto, sendo a sociedade grega naquela época fundamentalmente escravocrata, elaboraram uma filosofia da natureza deixando a liberdade como algo fora da natureza humana. Razoável tal consideração há 2 mil anos, não mais.

O que procurei mostrar até aqui é que há um conceito de liberdade que não pode ser discutido em qualquer instância pois é um princípio "para a vida". Ele surge "com" o surgimento da vida e vigorou intacto, indiscutível, até que surgiram as primeiras comunidades produtoras agrícolas, quando, por conveniência do sistema de trocas (estou simplificando para facilitar), surge o direito de propriedade, a necessidade de um campo para a arbitragem dos conflitos e uma hierarquia de poder (ainda simplificando). A partir de então, o conceito de liberdade precisa ser trazido para fora do indivíduo para integrar um conjunto de regras limitadoras para o seu exercício. A consequência inevitável é a opressão a ser exercida pelo poder instalado, sendo ele conquistado ou delegado. Passa a ter relevância a discussão e a normatização de dois principais tipos de liberdade: a "liberdade de ir e vir" e a "liberdade de expressão".

E é nestes últimos 2 séculos, quando a comunicação entre "tribos" se torna muito mais dinâmica graças à revolução industrial e à revolução tecnológica mais recente, quando algumas formulações aparecem. Como a de Rémi Brague (1947/...), filósofo francês, quando foi assertivo ao dizer que a "filosofia consiste em afirmar a liberdade e em sustentá-la com todas as suas consequências", caso contrário, digo eu, é a morte, se não física, existencial com certeza.

Frédéric Bastiat (1801/1850), economista e jornalista francês, propôs que "a lei deve proteger o indivíduo, a liberdade e a propriedade". Penso que teria dito mais apropriadamente que a lei deve proteger a liberdade para que ele possa prosperar, pois, fazendo paridade com o que já disse acima, o homem existe sem a propriedade. 

E enquanto Nélson Rodrigues (1912/1980), jornalista, escritor, "grita" que “a liberdade é mais importante que o pão”, Friedrich Hayek (1899/1992), filósofo austríaco, economista, se convenceu de que "uma política de liberdade para o indivíduo é a única política que de fato conduz ao progresso".

Encerrando. Eu me pergunto qual o ganho para a humanidade a ser obtido de regimes conduzidos por uma pequena oligarquia tirânica que deseja implantar o cerceamento das liberdades - qualquer liberdade - de todo o restante dos indivíduos para submetê-los a uma servidão involuntária sem direito à vida?

Liberdade, por fim, é a própria expressão da vida.


P.S.: Escrevi e publiquei este texto no dia 13 de janeiro. Hoje, 17, assisti à crônica de Alexandre Garcia de ontem 16. Assista a um trecho da abertura onde ele faz homenagem a Thiago de Melo, amazonense, poeta falecido em 11 de janeiro, aos 96 anos.


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LEMBRE-SE: 

O objetivo principal deste blog é expor a hipocrisia que nos cerca e envolve, nos cega e conduz, e nos ajuda a tocar a vida de um jeito "me engana que eu gosto".

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