quinta-feira, março 03, 2022

PARA O BEM DOS MEUS DESEJOS

"Quando o sol da cultura está baixo, até os anões lançam longas sombras."

Karl Kraus, dramaturgo, jornalista, ensaísta, aforista e poeta austríaco. 

 Assista este breve vídeo antes de ler o artigo.


Não tenho dúvida de que aqueles que imaginam existir uma alternativa estão praticando uma cegueira voluntária, tal como Étienne de Lá Boétie[1] visualizou a servidão de um povo em algum momento de sua História. Não fazem por mal, não fazem por burrice, nem mesmo por falta de informação. É tão somente uma recusa em enxergar fatos que possam provar que estão errados. É humano, pois reconhecer que se passou anos acreditando em uma mentira fere dolorosamente o orgulho. Poucos são aqueles que conseguem superar o sentimento de vergonha interior que isso causa.


Tal como em outros países, periodicamente somos convocados a exercer o direito, e no nosso caso, a obrigação de votar, mas aqui acontece um fenômeno que há muitos anos vemos no comportamento de eleitores que proclamam estarem cansados, frustrados, decepcionados com a política e os políticos. No dia da eleição, uns nem saem de casa, pois são os que “não gostam de política” e irão compor a taxa de abstenção (eles apenas esquecem que viverão sob as decisões dos que forem eleitos pelos que gostam). A outra parte até se dirige à seção eleitoral, mas imbuídos de uma rebeldia adolescente, ilógica e hipócrita. Entre estes, há os que se “eximem de responsabilidade” e votam em branco, ou anulam o voto digitando um número inexistente na lista de candidatos. No passado, quando escrevíamos o nome do candidato em uma cédula, alguns votavam em personagens fictícios como o “Cacareco”[2] em 1959. Com o fim das cédulas, os rebeldes passaram a dar o voto a personagens reais, mas folclóricos, como Tiririca, Juruna, e Alexandre Frota, o ator de filmes pornográficos, ou até mesmo em indivíduos de conhecida e extensa ficha corrida[3]. Neste 2022, depois de constatar que a aposta em 9Fingers é como comprar carro usado do “maior corrupto que este país já teve”, os perdedores inventaram uma terceira via - uma ideia-panaceia salvadora - na esperança de conseguirem enfiar na goela de quem possa estar com Tico & Teco em recesso e assim angariarem uma quantidade de votos que os elejam.

Feita esta necessária introdução, vamos à franqueza amarga e cínica de Ciro.

Em sua fala podemos identificar algumas informações absolutamente relevantes para avaliarmos o que está acontecendo especificamente no Brasil (abstraindo de fatores externos). A mais importante, obviamente, é a afirmação de que “temos de destruir Bolsonaro”. Nossas instituições estão tão absurdamente degradadas, apodrecidas, que um pré-candidato à presidência faz, este sim, um grave ataque aos princípios democráticas e o distribui em vídeo na Grande Rede sem que nenhuma entidade de governo ou privada, ou mesmo um cidadão de reconhecida credibilidade, venha a público rebater a absurda agressão a todos os cidadãos brasileiros. Este é o ponto, porque acusá-lo de estar promovendo um ataque ao Estado Democrático de Direito como, principalmente, nossos iluministros gostam de dizer, e pelo menos enquadrá-lo no “inquérito do fim-do-mundo”, não cabe, pois Ciro integra a lista dos possíveis escolhidos a sentar na terceira cadeira ou a entrar nas hostes de lambe-botas do decrépito, e claramente senil, 9Fingers, o “Sleeping Jo” dos trópicos. Nunca “na história deste país” vale tanto a regra do aos amigos todos os direitos e liberdades; aos inimigos a lei, e/ou a lacração, e/ou o cancelamento, e/ou a desmonetização, e/ou a prisão, ou tudo isso e mais umas bordoadas no cárcere.


Foto de comemoração do "acordão".
“Nós temos que destruir Bolsonaro” é o maior e mais claro ataque, este sim, às instituições democráticas. Maior até mesmo que o de Barroso ao criminalizar qualquer debate sobre a segurança das urnas eletrônicas. E quando ele usa o pronome “nós”, está querendo arrebanhar todas as vertentes do pensamento político que não se afinam com o liberalismo e o conservadorismo, ambos representados por Bolsonaro. Óbvio que fazem isso em proveito próprio! Tal construção fraseológica mostra o estado de total desespero dos perdedores de 2018, e é uma convocação para que todos se unam e, temporariamente, passem ao largo de todas as suas diferenças (afinal, é por um objetivo maior!). O que Ciro está vendendo é que 9Fingers está morto (só não deixam ele saber)[4] e, ipso facto[5], rei morto, rei posto, e “eu me apresento”. Na minha percepção, portanto, em prol da “destruição de Bolsonaro” está em processo um grande acordão, onde cada um (candidatos e partidos, a maioria abdicando de concorrer) irá apresentar/negociar suas “demandas” e, de acordo com as pesquisas, irá escolher quem concorrerá a que - na improvável vitória, todos serão aquinhoados com o atendimento ao que foi previamente estabelecido.

O que também precisa ser analisado, é a frase complementar “se não ele fica aí 8 anos!!!”. Esse é o desespero: ficar mais 4 anos à mingua, quiçá mais possíveis 8 anos! Eles precisam destruir Bolsonaro. É questão de vida ou hibernação por mais 12 anos! O instituto da  alternância de poder defendido por alguns democratas, significa para Ciro um “teatro das tesouras”, onde agora é minha vez, depois você, e depois eu “traveiz”. Repito, não se surpreenda se fizerem de tudo para acabar com a reeleição via um casuísmo qualquer a partir de já. Depois eles desfazem o feito. Tenho a impressão que estão até dando uns caraminguás para quem trouxer ideias para impedir Bolsonaro de ser candidato. Tentaram atribuir irregularidades na campanha da chapa Bolsonaro/Mourão; tentaram a CPI da COVID; impetraram mais de uma centena de pedidos de impeachment;  nada colou. Até aqui.

A intenção de votar numa terceira via, portanto, é brincar com as consequências de um regime corrupto-socinista. Alguém pode argumentar que nos quase 30 anos de regime liderado pela esquerda não foi tão ruim assim. Na superfície, com certeza. Na profundidade sequestraram a nação para satisfazer desejos próprios e você só está se dando conta agora. Foi um trabalho de profissionais do crime organizado, cujo único intelectual que denunciou o estrago que estavam fazendo na cultura foi Olavo de Carvalho[6]. É preciso entender que a geração que está em idade para chegar ao poder político foi “cultivada”, “prostituída” no “atrasismo”[7] das ideias do presidiário Gramsci, hoje um defunto exaltado no Brasil e... sei lá mais onde!. PSDB e PT sabiam o que estavam fazendo, no que estavam investindo (Olavo ressaltou que para eles "é mais importante solapar as bases morais e culturais do adversário do que ganhar votos"). Revolução do pensamento se faz dominando a cultura, no silêncio pra ninguém perceber. Os “produtos” humanos desta fábrica já estão aí, prontos e mal acabados,  agora precisam ir a mercado a preços módicos. Só isso. 

Encerrando, quero aproveitar para tratar um pouco da questão do controle da mídia insistentemente proclamado por 9Fingers, para desespero da claque petista. Controlar  que é dito ao povo sempre foi central para os governantes, mas depois do advento da era digitrônica, gerenciar/censurar a profusão de conteúdo e canais se tornou um processo sofisticadíssimo. Nós estamos muito assanhadinhos com o “poder de fala” que adquirimos. Quando tudo pode ser não só questionado, mas imediatamente questionado e propagado, controlar todas as mídias quanto ao que pode ou não pode ser falado, deve ou não deve ser publicado, é instrumento essencial para a permanência no phoder. “Malditas sejam as redes sociais”, vociferam os desejosos de poder absoluto. Os grandes players do mercado da comunicação no Brasil estão calados frente às ameaças de 9Fingers pelo simples fato de que pouco importa o que publicam, o que eles querem é o dinheiro do Estado, seja o dono do veículo, seja o profissional das redações. Esse negócio de liberdade de opinião é falácia para embalar povo, veículos de comunicação se lixam pra isso. Basta lembrar os quase 200 jornalistas da Folha que assinaram uma “carta aberta à direção”[8] pedindo a censura do que não querem ver publicado, como as opiniões expressas em um artigo do historiador Antonio Risério, que lembrou o óbvio: existem negros que praticam racismo contra brancos! E neste exemplo real se revela o cruel mundo que se avizinha: jornalistas não se importam em vir a ser censurados pelo Estado, pois entendem ganhar aval para censurarem o que bem desejarem, para o bem de $eus$ desejos.

É isso. Fique mais atento e, se for o caso, coragem para reconhecer eventuais avaliações erradas passadas.


2022! 2 passos à frente, nem 1 passo atrás!


[1] Conheça aqui o “Discurso da Servidão Voluntária”.

[2] Saiba quem foi neste link.

[3] Em 2018, foram cerca de 147 milhões de eleitores, sendo que na eleição para presidente só foram computados votos de 73% deles. 40 milhões de eleitores, de algum modo, não exerceram o voto.

[4] Se você não concorda com essa minha percepção, veja este pequeno vídeo.

[5] Expressão latina que significa “como consequência natural desse fato”.

[6] Em “A Nova Era e a Revolução Cultural” ele diz: “Um grupo de ativistas sem escrúpulos apropriou-se dos meios de difusão cultural para fazer deles o trampolim de suas ambições políticas, fechando os canais por onde pudessem fazer-se ouvir as vozes adversárias e impondo a todo o País a farsa gramsciana da “hegemonia”.

[7] Essa é minha proposta para rotular mais apropriadamente a filosofia da esquerda que se autodefiniu como “progressista” quando o pacote de ideias que apregoam só resultariam, se implantada, num grande atraso civilizacional.

[8] Acesse esta matéria do Jornal da Cidade sobre o evento.

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LEMBRE-SE: 

O objetivo principal deste blog é expor a hipocrisia que nos cerca e envolve, nos cega e conduz, e nos ajuda a tocar a vida de um jeito "me engana que eu gosto".

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