Alguns trechos, para os que não recebem a revista.
P: O descontentamento no mundo islâmico com as charges com
Maomé, como as que foram publicadas pelo jornal francês Charlie Hebdo, torna
mais difícil uma colaboração dos moderados?
R: Não faz sentido que pessoas sejam assassinadas em um país
como a França para vingar um crime contra uma lei de blasfêmia que não é islâmica,
e sim islamista (relativo à vertente
política do Islã). O problema está nos vários regimes que sustentam a
ideologia islamista. Neles, qualquer um pode ser atacado se for acusado de
islamofóbico. Há um paradoxo muito grande.
P: Por que, então, há tantos governos baseados no Islã
político dentro e fora do Oriente Médio?
R: (...) Em cinco séculos de história legal do Império
Otmomano, houve apenas um caso de apedrejamento até a morte. Os atuais
governantes podem até apresentar seus motivos como religiosos, principalmente
os da Arábia Saudita, que se dizem guardiões das cidades sagradas de Meca e
Medina, mas a verdade é que não o são. Eles são meramente políticos
totalitários. [Eu diria “políticos psicopatas totalitários”.]
P: Muita gente achou que os protestos contra as ditaduras,
que ficaram conhecidos como Primavera Árabe, espalhariam democracias pelo
Oriente Médio. Por que isso não aconteceu?
R: (...) A população, é claro, fica menos capaz, menos
preparada, infantil, até. Quando surge uma oportunidade como a Primavera Árabe,
ela não sabe o que fazer. Não foi escrito nenhum manifesto político. Não
apareceu nenhuma ideia sobre como criar uma economia saudável. Foi uma revolta
emocional, não racional. O fracasso era o único desfecho possível.
P: A senhora é uma defensora de Israel, como se diz?
R: Quando viajo para Israel sempre fico um pouco triste. Não
encontrei a pluralidade que existe lá em nenhum país do Oriente Médio. Isso
inclui mulheres muçulmanas na direção de hospitais, cristãos israelenses na
corte suprema e judeus que foram perseguidos e banidos de outros países levando
vida digna. É daquela maneira que toda a região ao redor deveria ser.
P: Por há tanto antissemitismo no mundo islâmico?
R: Todo totalitarismo precisa de um inimigo central, que
possa ser considerado como “o outro” e leve a culpa pelos problemas da
sociedade. Esse sentimento transforma-se, quase sempre, em antissemitismo. Foi
assim com o comunismo, com o nazismo e é assim com o islamismo. Infelizmente,
lendo os livros de história, sabemos dos tipos de discriminação genocida que
essa espécie de sentimento pode produzir. Mas não só. Na realidade, a
perseguição aos cristãos não tem nada de diferente: todos são considerados
infiéis que merecem morrer.
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