Se todos somos emissores, e se nossas mensagens podem ser distribuídas para todos, então, todos somos passíveis de sermos atingidos por mensagens sem que tenhamos escolhido as fontes emissoras! É plausível a pergunta inevitável: “e agora José?”.
Ao olhar para o antes das redes sociais, a disseminação da informação unidirecional, era exercida por um cartel de meios tradicionais formado pelas mídias impressa, radiofônica e televisiva, onde os detentores do poder (privado e estatal) pautavam a sociedade política, cultural, moral e eticamente, pois sempre em obediência a seus interesses umbilicais. Éramos meros receptores, nada mais que uma esponja absorvente, sujeitos passivos ao conteúdo de um número limitado de fontes e diversidade de opiniões, pois na maior das vezes, estavam em total sintonia de discurso. Isto não existe mais. Tais emissores perderam o controle. O cartel foi desmontado. Um CADE transcendental, onipresente na nuvem, deu um basta no oligopólio ao abrir o mercado da comunicação bidirecional (multicast) para a participação de todos, cidadãos, empresas, instituições de todas as áreas e instâncias, e governos. A opinião dos meios tradicionais não só não vale mais como ganhou o rótulo de tendenciosa e manipuladora, o que faz dos veículos tradicionais receberem a avaliação de serem as instituições menos confiáveis hoje no mundo.
A primeira consequência foi a adoção, pela grande mídia, do discurso político em substituição ao relato dos fatos. Ou mais adequadamente colocado, o fim da relevância da investigação antes de noticiar o que quer que seja (repórter investigativo é espécie ameaçada de extinção). A história sobre o fato, as motivações, os agentes, a descrição do fato em si, e as consequências, não importam, só conta quem conta e como conta. A expressão da vez é a “narrativa sobre o fato” e como “narrativa” é julgamento subjetivo, parcial e, na maioria das vezes, emocional. O extrato resultante é o da sociedade que deixa de ser democrática – respeito à opinião adversa, para se tornar simplesmente uma sociedade “canceladora” (eu discordo, logo te cancelo).
Amanda e Loiola |
Um segundo aspecto é que passamos à condição de receptores involuntários de uma mixórdia de narrativas, cujo exemplo mais atual nos é dado pela COVID-19, onde ninguém sabe nada ou quase nada, mas todos se acham no direito e no dever de fazer “alguma coisa”. Nosso grandíssimo problema não é separar o joio do trigo, é reconhecer um e outro para poder separar uma coisa de outra. Para estabelecer uma “verdade”, mesmo sendo só a “minha verdade”, estamos entalados com “verdades” que se contrariam sobre um mesmo fato, uma mesma notícia, um mesmo problema. Recebo “estudos que comprovam” tanto o sim quanto o não sobre qualquer tema da vida!!! É patético ver uma Amanda Klein(1), pseudo-jornalista, no programa do Lacombe, na Rede TV. Ela “se acha” tanto dona da “verdade” a ponto de contestar, em postura arrogante, previsões de um estudioso de viroses, o médico Alessandro Loiola com uma exclamação em tom jocoso: “Diga doutor, o pseudo-jornalista senhor então tem uma bola de cristal!”.
Se nós, adultos, estamos com este colossal problema, que dizer de nossos filhos e netos que nem mesmo percebem o problema ainda? Dar celular ou não? Instalar (e configurar!) filtros de conteúdo ou não. Quantos minutos (ou horas?) lazer digital deve-se permitir. Como lidar com o bulliyng digital? Quem está se comunicando com eles é um avatar, um robô, um outro ser-humano, e ser for um, de que sociopatia é possível que ele sofra?
O "cara" do Fique em casa. |
A necessidade do “eu preciso postar”, me manifestar nas redes sociais, leva políticos ao exercício da leviandade, da pressa em tomar decisões intempestivas que irão afetar toda mais de 200 milhões de brasileiros. Eis os dois exemplos do que falo. Um ex-ministro da saúde do governo mandou que todos ficassem em casa e que só se dirigissem a hospitais depois de terem sintomas graves. Quantos terão morrido por essa insanidade? Um governador declara que vai obrigar toda a população do seu estado a se vacinar, lembrando que isto, sendo possível realizar, é jurisdição exclusiva do governo federal, e quando nem mesmo uma vacina existe e, se vier a existir, virá com um “erro de origem”, pois terá sido fabricada pela China, o país que criou o vírus e o distribuiu para o mundo!
O que estou apontando é o fato do poder de disseminação das redes sociais ter criado um senso geral de urgência. É uma corrida para ver quem ganha seus segundos de fama e nos envolve nas mais estapafúrdias e contraditórias afirmações. Personagens como Amanda e Gregório Duvivier (um pseudo-comediante) são estúpidos, mas recebem aplauso de uma cota de audiência, cujas cabeças entortam, ou reforçam o desvio, pois, por preguiçosas quanto à obtenção do saber, se deixam moldar mais facilmente. A História não terá lugar para eles.
Na
próxima semana trato de nossa nova condição como agentes da comunicação. Nem
emissor, nem receptor, agora somos todos Eceptores.
(1) Para assistir ao que relatei, basta assistir os primeiros minutos deste vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=-asWTIBThR0
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