Levamos 12 anos para descobrir um óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues. Talvez não tão óbvio assim, me atrevo dizer. Penso que não esperávamos pelo projeto petista de poder, pelo menos não na dimensão que o mensalão, tal como um bisturi a abrir um corpo em busca das entranhas, expôs as vísceras de um corporativismo levado a um grau não imaginado por nós, os crédulos.
Vejo hoje um Lula como refém de uma máquina que o engoliu como sobremesa. Veja a expressão dele ouvindo a opinião da Chauí sobre a classe média e provavelmente você irá concordar comigo. Quando o elegemos, nossas intenções eram as de buscar uma alternativa para um capitalismo globalizado que perdera totalmente o sentido de ética. Queríamos uma ideia nova e, na falta de qualquer outra, fomos de Lula.
Sabedores de que líderes políticos nos tempos atuais pouco podem fazer frente ao entrelaçamento dos interesses a nível mundial que tornam a máquina mais poderosa que seu operador, deveríamos nos ter perguntado quem seriam os que ocupariam as posições de engrenagens neste complexo sistema. É ser duro demais com nós mesmos?
Hoje vemos, por todos os cantos e mídias, uma atrasada percepção de que o país foi dominado por militantes do PT sem o mínimo preparo para o exercício de cargos públicos em qualquer instância. Restritos ao princípio de que a máquina só pode ser operada por militantes petistas, militantes estes, em sua maioria absoluta, carentes de formação para funções de governo, o PT se viu sem alternativa, a não ser a de se dobrar à realidade de sua falta de quadros.
Os exemplos da incompetência não precisam ser vasculhados, eles estão nas primeiras páginas dos jornais todos os dias (alguns listados aqui). Exemplo: o caso Petrobrás/Pasadena, as declarações diversas e controversas quanto à ameaça de falta de energia etc. Fico nesta postagem com o recente decreto da Dilma sobre "conselhos populares" que, além de politiqueira, é o exemplo da filosofia burro-petista.
A presidente, sob a alegação de "consolidar a participação social como método de governo", simplesmente editou um decreto, sem qualquer participação da sociedade - mais uma do estilo PT de "democracia up side down" - para "obrigar todos os órgãos da administração direta e indireta a criar estruturas a título de participação social". Você percebe o disparate? Além do contra-senso de um decreto que obriga a participação social e que implicará na implantação de uma gigantesca estrutura de consulta, o PT, em sua magnânima prepotência, é incapaz de olhar para o mundo e ver o que já existe sobre o assunto (este e qualquer outro), pois o PT precisa inventar a roda sempre, para não admitir que alguém já fez algo melhor. Exemplo: há décadas a Suíça faz consultas diretas à população, periodicamente, e com uma estrutura mínima.
Sou absolutamente a favor da consulta popular. Mais. Só entendo uma democracia para os tempos atuais se incluir em seu sistema os avanços tecnológicos obtidos nas áreas de comunicação e processamento de dados. Menos representação indireta e mais participação direta. Não é isso que este decreto de ocasião vai propiciar, porque não é isto que o PT deseja.
Encerrando, quero enviar uma mensagem para os que pensam em Eduardo Campos e Marina Silva como alternativas. Ambos são dissidentes do PT, melhor dizendo, ambos são dissidentes de José Dirceu e camarilha, mas ambos manterão a máquina petista para governar se eleitos, porque, além de concordarem com esta técnica, simplesmente não têm alternativa. O Brasil não precisa trocar Dilma por um outro nome, o Brasil precisa tirar o PT do poder.
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