"A estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem."
Atribuído a autores diversos.
Por mais de 40 anos fui publicitário e, tendo criado uma agência, empresário no setor de propaganda. Em várias oportunidades demandadas por clientes, me envolvi direta ou indiretamente com pesquisas (de preferência de marcas, produtos, serviços, de opinião, de intenção de voto etc, tanto quantitativas quanto qualitativas) mas, para deixar claro, nunca trabalhei em uma empresa ou instituto dedicado a elaborá-las, executá-las e tabulá-las. Fui, portanto, mandatário ou representante de cliente para atuar no processo de busca de informações que o ajudassem a tomar decisões.
É da perspectiva de observador, portanto, que trago para reflexão este tema porque será relevante daqui até outubro de 2022 (se tudo correr democraticamente bem, é o que espero), mas já agora, depois da ação do ministro PT-Fachin tornando "o sapo barbudo" elegível, já surgem as primeiras "pesquitas", "pesquisas esquisitas" de intenção de voto, cujo resultado depende da intenção do "patrocinador". Isto é o que vou procurar mostrar com o intuito de ajudá-lo a avaliar o que é reportado, principalmente, na "grande mídia".
Para "começar os trabalhos" (expressão usada em encontros de amigos bebedores), vejam estas "manchetes" (ordenado das mais recentes para as mais antigas):
O Noblat, jornalista esquerda caviar, se arriscou a fazer uma pesquisa em seu blog. Me chegaram 2 prints e eu não sei em qual "verdade" acreditar. A que está datada como sendo de 21/6/21, mostra cerca de 28 mil votantes. Já a de 20 (um dia antes) mostra cerca de 92 mil!!!! Sei não.
Acresça estes 5 resultados que obtive em uma pesquisa no novo pai dos burros. Creio que você já há de concordar comigo que, dada as leves diferenças entre cada manchete, elas parecem revelar o desejo inconfesso (?) dos editores.
Prepare-se, portanto, para classificar como... questionáveis os resultados de TODAS as futuras "pesquitas" que vierem a chegar até você por QUALQUER meio, seja imprensa tradicional, seja mídia digital. Eu disse, TODAS, não estou me referindo apenas às pesquisas de intenção de voto, estas apenas vão ficar em evidência pelos próximos 18 meses, mas pululam em profusão por todas as fontes, desde as relativas à saúde, até as que preveem o futuro de acordo com o passado, os astros, os deuses ou sei lá o quê.
Acontece que pesquisas são feitas, muitas vezes, para confirmar o que já se desconfia, ou, muito frequentemente, para corroborar argumentos prévios elaborados por executivos preocupados em defender seus empregos e gordos salários.
Existem várias etapas entre a intenção de fazer uma pesquisa e a conclusão a que se chega. A maioria delas sujeita a "erros" involuntários ou não, começando pelo briefing. Esta etapa tem por objetivo gerar um documento que identifica quem deve ser pesquisado (nível de instrução, faixa etária, classe de renda etc.), qual o tamanho da amostra, onde pesquisar, o que deve ser pesquisado e qual o nível de profundidade da investigação. Esta primeira etapa, portanto, está sob a ótica, avaliação e premissas da entidade que toma a iniciativa do trabalho: o "Cliente".
A segunda, consequentemente, é a elaboração do questionário onde se definem as perguntas e as alternativas de resposta (quando esta não é "aberta"). Para executá-la, é fundamental contar com um profissional de experiência comprovada e, mesmo assim, é tarefa extremamente delicada, pois lhe é exigida uma atitude moral de distanciamento para não levá-lo a direcionar questões para resultar no que o contratante quer ouvir. Além disso, sendo a língua extremamente maleável, proporciona "cascas de banana" a cada novo par de pergunta-resposta a ser definido(1). Tem mais. A própria ordem tanto das perguntas quanto das respostas também devem ser considerada pois, por exemplo, a pressa/impaciência do entrevistado poderá levá-lo a responder qualquer coisa, apenas para se livrar do "incômodo mais rapidamente.
A terceira etapa é a realização efetiva. É o trabalho de campo que será feito por pessoas, seres humanos, motivados ou imotivados, totalmente frios e isentos no momento da entrevista, ou compromissados com ideias que deseja ver "comprovadas". Tem mais. Fatores como o momento em que a pessoa é abordada, o ambiente em que ela está, seu ânimo, sua paciência, também afetarão o resultado. Dá para perceber que uma pesquisa perfeita, totalmente objetiva, isenta de qualquer viés, é bastante... difícil de se obter. Para ser completamente honesta, pelo menos, há que se contar com profissionais de ilibada reputação.
Terminada a coleta, chega-se à etapa de tabulação das respostas obtidas. Como tudo hoje é feito de modo digital e por programas que apenas computam totais e calculam porcentagens, a tarefa é exclusivamente matemática, e considerando que contra números não há argumento, não há muito o que temer. Já a etapa de análise/interpretação dos números tabulados, pode gerar distorções quanto ao efetivamente observado, dado que se pode sempre adicionar "projeções", "deduções", que não necessariamente a pesquisa revela. Lembremos que a verificação realizada pela pesquisa se refere apenas a um momento específico no tempo. Exemplo: digamos que ao comparar duas pesquisas iguais, com intervalo, digamos de um mês, uma determinada resposta tenha dado um índice de 35% na primeira e 37% na segunda. Não seria nenhum absurdo, a conclusão de que "há uma clara tendência de crescimento" em um específico item pesquisado. Não é absurdo, eu disse, mas é uma hipótese, não uma fato real, pois o resultado pode estar dentro da margem de erro, erro este que poderá ser revelado numa próxima verificação quando o índice poderá vir a ser de, digamos, 33%!!! Tal "constatação" de tendência poderia estar sendo justificada por interesse de proclamar uma sonhada realidade futura. E é aí que, como se diz, mora o perigo.
Portanto, o aforismo citado no início deste artigo, cabe, perfeitamente, para a pesquisa se houver "interesses" escusos envolvidos. Lembremos que os números finais resultantes de um processo de pesquisa, principalmente, eleitoral, serão usados como estatísticas de opinião pela mídia e pelo público/audiência atingido. Como diria uma pessoa querida sempre que quer ver seus argumentos aprovados: "A estatística já provou que...".
Portanto, meu leitor, fique esperto! Fique com suas próprias percepções do que acontece na política e cheque nos atos de seus possíveis candidatos a coerência com seus discursos.
Quanto a "pesquitas", lembre-se dos muitos micos que institutos de pesquisa já pagaram em eleições passadas, talvez por tentarem "torturar os números", ou talvez só por simples incompetência.
(1) Você já deve ter se deparado com o que uma vírgula no lugar errado pode fazer!
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