Em setembro de 2015, no programa Milênio da Globonews, Silio Boccanera entrevistou Dan Hough, cientista político que dirige o Centro de Estudo da Corrupção na Universidade de Sussex, na Inglaterra.
Apenas por uma questão de contextualização da corrupção no mundo, cito que o Brasil ocupa, na lista feita em 2014 pela ONG Transparência Internacional (antes das revelações sobre a Petrobras) quanto à percepção de corrupção, a 69ª posição entre 174 países avaliados. Nesta lista os dois últimos lugares (os mais sujos) são ocupados pela Coreia do Norte e pela Somália, enquanto os dois primeiros (os mais limpos) são a Dinamarca e a Nova Zelândia.
Vejam o que considerei de mais relevantes:
Silio Boccanera: "Qual o principal erro de avaliação sobre a corrupção? O que há sobre a corrupção que as pessoas não costumam entender corretamente?"
Dan Hough: "Eu penso que muita gente não entende que para algumas pessoas a corrupção infelizmente é algo que precisam fazer. Não necessariamente querem fazer, mas muitas vezes se vêem em situação em que a corrupção ajuda na solução de um problema."
"Esse pode ser o caso de uma companhia ocidental que conclui não ter escolha senão fazer pagamentos de facilidades, como alguns dizem, mas pode ser alguém muito mais pobre que vive num país africano e só quer que o filho entre numa boa escola. Ou seja, a corrupção nem sempre é um crime que se escolha, mas sim um crime que vem da necessidade."
"Devo lembrar que são necessários dois para dançar um tango. Normalmente há uma história a ser contada por cada um dos lados.Tem aquele que quer o suborno e aquele que oferece o suborno. A natureza desse relacionamento tem a ver com o contexto. Muda de lugar para lugar. Empresários sempre dirão que não tiveram escolha. (...) E o setor privado sempre reagiu negativamente a coisas ligadas à Lei Britânica do Suborno que entrou em vigor em 2010. Argumentam que faz aumentar a burocracia, eleva os custos, e é uma ameaça aos contratos. As evidências não são assim tão conclusivas. As empresas britânicas ainda são muito competitivas no mundo mesmo com o país tendo a mais conhecida e mais temida legislação contra suborno no mundo."
Dan faz ainda ao longo da entrevista as seguintes afirmações:
"Corrupção é sempre o que o outro faz."
"É necessário um tempo enorme para tirar a corrupção do sistema."
"Em qualquer lugar que haja muito dinheiro a ganhar, ou prestigio a angariar, poder a conquistar, e é bom lembrar que nem sempre corrupção tem a ver com dinheiro, ela pode estar ligada a prestígio, aparecer bem. Onde quer que isto esteja em questão, vamos encontrar gente que com os devidos incentivos, está disposta a encontrar atalhos, a fazer com que as coisas aconteçam em seu interesse de forma inapropriada."
E quando Silio Boccanera pergunta sobre a forma mais eficiente de combater a corrupção, Dan Hough responde assim:
"Depende das variáveis locais, mas alguns aspectos são universais: Transparência e instituições fortes são elementos chaves. (...) Sempre existiu corrupção e não vai desaparecer pois é parte da condição humana. Se o objetivo é erradicar a corrupção vamos falhar. Mas se não vamos acertar completamente nunca, precisamos acertar mais."
Esmiuçar a notícia, ler as entrelinhas, iluminar o obscuro. Revelar as intenções da mídia, de políticos e de outros de vida pública, para iludir incautos em proveito próprio. Expor a hipocrisia que nos cerca e envolve, nos cega e conduz, e nos ajuda a tocar a vida de um jeito "me engana que eu gosto".
quinta-feira, setembro 17, 2015
ALICERCES DA CORRUPÇÃO - VIII
Palavras-chave:
burocracia,
Coreia do Norte,
corrupção,
crime,
Dan Hough,
Dinamarca,
dinheiro,
escolha,
humano,
instituições,
lei,
poder,
prestígio,
Silio Boccanera,
Somália,
suborno,
transparência
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