Thomas Sowell completou 91 anos no dia 30 de junho p.p. É
americano, negro, economista, professor universitário, escritor com mais de 30
livros publicados. Um dos mais importantes filósofos do século XX. Não é
hipócrita, nem vitimista, e, portanto, contra ações “afirmativas”, como regimes
de cotas e outras proposições sociopatas que fingem ignorar a natureza humana. Neste início
de segunda década do século XXI, conhecer suas ideias e proposições, refletir
com suas reflexões, nos ajuda a iluminar a escuridão intelectual em que a “intelligentsia” mundial, em particular, obviamente, a
brasileira, quer nos ver subjugados. Não se deixar embromar por narrativas e identificar a hipocrisia dos personagens da cena política atual, se tornou vital para a manutenção de nossa saúde mental. Espero que esta coletânea seja mais uma contribuição para esse propósito.Bom
proveito!
HOMEM, HUMANIDADE, POVOS
O
homem é para o homem, um enigma.
A desigualdade é um traço comum a toda a
humanidade.
As
limitações morais do homem em geral e seu egocentrismo em particular não foram
lamentadas por Adam Smith nem vistas como coisas a serem modificadas. [Smith
tratou a tentativa de mudar a natureza humana tanto como vã quanto sem
sentido.]
Considerando
os limites inerentes dos seres humanos, a pessoa extraordinária (moral ou
intelectualmente) é extraordinária somente dentro de uma determinada área muito
restrita, talvez à custa de sérias deficiências em algum outro lugar, e pode
haver pontos cegos que não lhe permitam ver algumas coisas que são claramente
visíveis aos olhos de pessoas comuns.
Quando
“os povos” são invocados, os povos concretos tiveram, na realidade, pouco a
dizer a respeito das decisões tomadas. (...) Não tinham nem o grau de
conhecimento nem a responsabilidade pelas consequências, as quais acabaram
sendo desastrosas.
VISÕES
“O
que são ‘visões’? São as moldadoras silenciosas de nossos pensamentos. (...)
Uma visão tem um sentido de causalidade, ou seja, é mais como um palpite ou um
“instinto” do que um exercício de lógica ou de verificação factual.” (...) O
que faz uma visão ser uma visão não é sua abrangência, mas sua coerência.
Há
tantas visões quantos seres humanos (...) e mais de uma visão pode ser
compatível com um determinado fato.
Uma
visão modela nossa orientação teórica e não a teoria determina nossa visão.
(...) Fazemos praticamente qualquer coisa por nossas visões, exceto pensar a
respeito delas.
Visões
são somente a matéria-prima a partir da qual teorias são construídas e certas
hipóteses são deduzidas.
“Conflitos
de interesse predominam por períodos curtos, porém conflitos de visões dominam
a história.”
Para
a visão restrita [liberal], o que é moralmente fundamental é a fidelidade ao
dever de seu papel na vida. (...) Já na visão irrestrita [progressista], o
dever de uma pessoa é destinar o bem à humanidade.
A
capacidade de sustentar asserções sem evidências é outro sinal da força e persistência
das visões. (...) [Por esta razão] As visões são: (1) projeções simplificadas
da realidade; e (2) estão sujeitas a contradição por fatos (...).
A
manipulação dos números pode tornar quaisquer dados estatísticos consistentes
com determinada visão, e a manipulação de outros números ou até mesmo dos
mesmos números, vistos ou selecionados de forma diferente, pode produzir dados
consistentes com a visão oposta.
“As
visões são indispensáveis, mas perigosas porque nós as confundimos com a
própria realidade.”
RACISMO, AÇÕES AFIRMATIVAS, FAVORECIMENTO
Um
grupo étnico ou racial que enfatize o trabalho árduo, economize dinheiro e
busque uma boa formação acadêmica, geralmente prosperará, independentemente do
cenário político ou social. (...) Os negros estariam em melhor situação se
progredissem por seus próprios meios.
Os
indivíduos favorecidos por ações afirmativas (...) faz com que qualquer
conquista de um indivíduo pertencente a esse grupo pareça suspeita.
“Favorecer
um lado” provoca geralmente, a ambos os lados, uma situação futura pior, mesmo
que de maneiras distintas e em graus diversos.
Uma
das violações mais comuns dos padrões intelectuais pelos próprios intelectuais
é atribuir uma emoção (racismo, machismo, homofobia, xenofobia, etc.) àqueles
que detêm pontos de vista diferentes, em vez de responder a seus argumentos.
“A
era das ações afirmativas nos Estados Unidos assistiu ao favorecimento dos
negros mais afortunados, enquanto os menos afortunados perderam em termos de
suas participações nas rendas.”
EDUCAÇÃO, PAIS, IGUALDADE
As
escolas norte-americanas substituíram a educação pela doutrinação (...)
[desviando-se do dever de] fazer com que os alunos sejam capazes de raciocinar
por si mesmo.
Depois
que os programas de “educação sexual” foram introduzidos nas escolas
norte-americanas na década de 1960, coube aos pais o trabalho de colher os
cacos e arrumar a bagunça sempre que uma filha adolescente aparecia grávida ou
um filho adolescente contraía uma doença venérea. Nenhum professor ou nenhuma professora
teve que arcar com as consequências de nada (...).
Professores
(...) expandem sua influência, seja por meio de doutrinação ideológica dos
alunos ou por sua manipulação psicológica com o intuito de alterar os valores
que esses estudantes receberam dos pais.
A
crença de que terceiros sabem mais que os outros (...) inclui impedir que as
crianças consolidem os valores recebidos pelos pais caso valores mais
“avançados” tenham a preferência daqueles que ensinam nas escolas e faculdades.
“Ser
compreensivo ou não julgar um jovem com um background culturalmente limitado
talvez pareça humano, mas pode ser o beijo da morte no que se refere a seu
futuro.”
Qualquer
um que pense que uma mãe não é importante para a criança, ou a criança para uma
mãe, não sabe nada sobre seres humanos. [negacionistas]
Nas
escolas e nas faculdades a intelligentsia
alterou o papel da educação, que é de equipar os alunos com o conhecimento e as
habilidades intelectuais para que possam avaliar as questões e alcançarem
independência mental, transformando a educação em processo de doutrinação, com
as conclusões já fornecidas pelo intelectual ungido.
Os
intelectuais dão às pessoas que já têm a desvantagem da pobreza outra
desvantagem adicional: a de que são vítimas.
É
compatível com a visão irrestrita [progressista]
promover fins igualitários por meios desiguais.
Partidários
da visão irrestrita [progressista] colocam a liberdade de expressão acima dos
direitos de propriedade.
INTELECTUAIS, “INTELLIGENTSIA”
[O
intelectual ungido] se coloca num patamar moral superior, como alguém
preocupado e misericordioso, promotor da paz no mundo, defensor dos oprimidos,
alguém que luta por preservar a beleza da natureza e salva o planeta da
poluição perpetrada por outros que não comungam a mesma consciência.
[Os
ungidos usam a técnica de] contornar a realidade [para implantar sua visão.]
Eles não se ajustam à realidade; é a realidade que deve se adaptar a eles.
[O
problema para os ungidos é que] a realidade teima em não cooperar. (...) [E a cada
dia] há menos lugares para se esconder de evidências cientificas.
[Para
o intelectual desconstrucionista] A plausibilidade ou não que uma nova idéia
incita depende do que (...) já tem incorporado como crença.
“Alguns
intelectuais tendem a gravitar em torno de instituições onde suas ideias
ficarão menos sujeitas aos perigos do descrédito factual.”
[Os
intelectuais ungidos] se furtam à responsabilidade e ao trabalho árduo de
aprender os fatos reais sobre pessoas reais vivendo num mundo real.
Quando
o conhecimento é (...) abrangente, (...) difundido de forma mais ampla, (...)
os intelectuais não têm vantagem preponderante sobre o homem comum. (...) Intelectuais
comportam uma mistura de conhecimentos precisos e vagas noções sobre as coisas.
[Na
Idade Média] Valores existentes pareciam ameaçados somente porque a visão em
que se baseavam parecia estar ameaçada – e não porque Copérnico e Galileu
propagassem valores alternativos. [É a ameaça à verdade de alguém que provoca a
reação irada.]
[As
elites educadas se legitimam] como guias superiores, declarando que têm o
direito de impor o que deve e não deve ser feito na sociedade [pois] estão
convencidas da superioridade de seu conhecimento e de suas virtudes, uma
fórmula certeira para o desastre.
A
confiança no conhecimento acadêmico superior pode ocultar, dos próprios membros
da elite, a extensão de sua ignorância e de seus equívocos. (...) [Os “ungidos”]
não percebem a necessidade de buscar informações factuais antes de expressar
sua indignação.
A
real e eficiente rotina de milhões de pessoas (...) dá pouca atenção às
supostas “barreiras” sociais tão alardeadas pelos integrantes da intelligentsia.
A
discrepância entre o real e o ideal sempre será julgada, pelos infalíveis
visionários intelectuais, como fracasso moral da sociedade.
Para
os intelectuais ungidos são os defeitos inerentes aos seres humanos que são os
problemas fundamentais. (...) A sociedade existente é amplamente discutida a
partir de suas insuficiências, as quais precisam ser corrigidas.
Um
“respeito decente pelas opiniões da humanidade” não tem hoje mais lugar num
mundo pautado pela visão do intelectual ungido.
As
burocracias são frequentemente capazes de manipular as visões da intelligentsia para seus próprios
interesses (...).
IDEOLOGIA, CRENÇAS, FATOS
Os
homens não podem criar diretamente resultados sociais, mas somente processos
sociais.
Dedicação
a uma causa pode legitimamente implicar sacrifícios de interesses pessoais, mas
não sacrifícios da mente ou da consciência.
[Uma
ideologia] pode aniquilar totalmente as evidências.
Nada
parece ser mais difícil que buscar fatos ou argumentos contrários às nossas
certezas. (...) porque é mais sedutor se agarrar a certezas que moldam o mundo
segundo as nossas próprias convicções.
Quais
pressupostos fundamentais existem por trás das tão variadas visões ideológicas
de mundo em disputa nos tempos modernos?
Estamos
no âmbito de um “discurso de propaganda” pensado para deslocar o eixo das
coisas como são para as coisas como “devemos percebê-las”.
“A
manipulação retórica é capaz de fazer perguntas de uma forma que torna a
resposta desejada quase inevitável, qualquer que sejam os méritos ou deméritos
concretos da questão.”
Por
mais poderosa que a ideologia seja, ela não é onipotente. Fatos inevitáveis e
brutais (...) levaram muitos, simultaneamente, a abraçar ou abandonar uma
ideologia.
Na
política, pouco importa quão desastrosa uma política possa se tornar, desde que
as causas do desastre não sejam compreendidas pelo público eleitor. (...) [Os políticos] possuem todos
os incentivos para negar seus equívocos, uma vez que sua admissão pode condenar
toda uma carreira.
Muitos
entre a intelligentsia se consideram
agentes de “mudança”, um termo muito usado de forma leviana, como se as coisas
estivessem tão ruins que a mera e genérica “mudança” pudesse ser tomada como
uma mudança para melhor.
Os
intelectuais ungidos querem deter o privilégio exclusivo de decidir (...) quais
pequenos riscos as pessoas estariam proibidas de contrair e a quais riscos bem maiores
estão liberadas.
Os
intelectuais buscam (...) apropriar-se das decisões que deveriam ser tomadas
pelas pessoas diretamente envolvidas, as quais têm conhecimento e correm riscos
pessoais concretos (...).
Na
União Soviética [uma economia planejada e controlada pelo Estado] bens
encalhados se empilhavam nos depósitos, ao mesmo tempo em que terríveis
carências faziam as pessoas esperarem em longas filas por outros bens.
A
possibilidade de impor a vontade de alguém no comportamento de outras pessoas é
uma característica da visão irrestrita [progressista].
SOCIEDADE, DEMOCRACIA, GOVERNO, POLÍTICOS
“No
grande tabuleiro da sociedade humana, cada peça individual tem um princípio de
movimento próprio, inteiramente diferente daquele que a legislação possa
escolher impor sobre ela.”
“Na
política, pouco importa quão desastrosa uma política possa se tornar, desde que
as causas do desastre não sejam compreendidas pelo público eleitor.”
Se
as pessoas não querem uma coisa em particular, mesmo que a intelligentsia a considere desejável ou até imperativa, isso não é
uma dificuldade. Isso é democracia.
Ao
se conceber o conhecimento, tanto fragmentado quanto amplamente disperso, a
coordenação sistêmica entre muitos suplanta a sabedoria especial de poucos.
O
governo, enquanto entidade deliberadamente criada, pode agir com intenção e ser
moralmente julgado por seus atos, mas não a sociedade. (...) O governo (...)
não tem a onisciência de fato para prescrever resultados justos ou iguais.
O
problema primordial dos políticos não é trabalhar para o bem público, mas ser
eleito e permanecer no poder. (...) Os líderes das nações democráticas são
sempre obrigados a se deparar com a perspectiva das eleições, e a atmosfera em
que essas eleições são realizadas é de suma importância para os políticos que
buscam manter a carreira em andamento e o partido no comando.
Monitorar
o desejo de um grande número de resultados individuais costuma estar além das
capacidades de qualquer indivíduo ou conselho.
“Marx
e Engels (...) desconsideraram que o planejamento central seria uma perpétua
tentação para os detentores do poder político em dirigir a economia inteira
para a satisfação de seus próprios propósitos – incluindo o poder militar – ao
invés de deixá-la servir o interesse dos consumidores.”
Na
visão restrita [liberal] o controle deveria ser tão disperso quanto possível.
“O
marxismo deve ser julgado como a arrogância de imaginar que uma sociedade
inteira poderia ser construída a partir da base estabelecia pela visão de um
único homem, ao invés de envolver a experiência de milhões de pessoas pelas
gerações séculos afora.”
Sowell identifica 5 axiomas:
1 - problemas sociais existem [porque os
ignorantes] não têm o conhecimento que os ungidos têm;
2 - desprezo por soluções descentralizadas
(...) que sobreviveram a processos de aprendizado por tentativas e erros;
3 - condenação moral dos ignorantes pelos
resultados não desejados pelos ungidos;
4 - os problemas podem ser evitados pela
imposição da visão superior dos ungidos;
5 - as resistências contra as políticas dos
ungidos se dão pelas limitações morais e intelectuais dos oponentes, não pelas
leituras diferentes de evidencia complexa e inconclusiva.
Os 4 estágios típicos desse padrão
ideológico são:
1 – uma crise é identificada;
2 – é proposta uma solução “definitiva” para
o problema;
3 – constatação de resultados opostos aos
desejados;
4 – e, por fim, a reação envolve afirmar
que, se não fossem pelas políticas adotadas, os resultados seriam ainda piores.
Todo
mundo é progressista segundo sua própria ótica.
[Os
promotores do planejamento econômico centralizado] Em vez de confiarem nas
interações sistêmicas dos mercados (...) preferem a imposição da visão da
elite.
PROPRIEDADE, CAPITALISMO, LIBERDADE
“O
que se observa é que aqueles países cujos inputs envolvem menos trabalho e mais
empreendimento tendem a ter, em larga escala, mais altos padrões de vida,
incluindo horas de serviço mais curtas.”
Exemplo
de observação distorcida: o capitalismo tornou os trabalhadores mais pobres
como se eles tivessem sido mais prósperos antes.
Os
benefícios econômicos para a sociedade não foram buscados intencionalmente
pelos indivíduos, mas surgiram sistematicamente de interações do mercado, sob
pressões da concorrência e impulsionados pela motivação do ganho individual.
O
fato é que a riqueza é produzida. Ela não é um simples fator natural já dado.
Milhões de sujeitos são pagos segundo o valor atribuído ao que produzem e isso
é feito subjetivamente, por milhões de outros indivíduos.
O
conceito básico de liberdade, como não se sujeitar às restrições impostas por
outras pessoas, e o conceito de poder, como habilidade de restringir as opções
mantidas por outros, ficaram, ambos, de cabeça para baixo em alguns dos
“reempacotamentos” [verbais] que sofreram nas mãos dos intelectuais que
discutem assuntos econômicos.
Os
direitos de propriedade são barreiras legais contra políticos, juizes e
burocratas que arbitrariamente buscam se apropriar do patrimônio de alguns
seres humanos, transferindo-os para outros.
JUSTIÇA
Por
vezes, a “dificuldade” em se mudar as leis e especialmente a dificuldade em se
criar emendas constitucionais é invocada como razão para justificar por que os juízes devem se tornar os agentes que aceleram as mudanças.
O
ativismo judicial é um cheque em branco no qual se pode explorar qualquer
direção, em qualquer questão dependendo das predileções de cada juiz em
particular.
As
elites intelectuais anseiam ampliar sua esfera de influência de poder decisório
usando os tribunais como meio.
As
batalhas políticas diárias são um pot-pourri de interesses específicos, emoções
coletivas, conflitos de personalidade, corrupção e vários outros fatores.
Fundamentalmente
para o conceito de justiça social é a noção de que indivíduos têm direito a
alguma parte da riqueza produzida por uma sociedade simplesmente por serem
membros daquela sociedade, independentemente de quaisquer contribuições
individuais feitas ou não para a produção de tal riqueza.
TECNOLOGIA, MÍDIA, JORNALISMO, DIGITRÔNICA
As
maravilhas tecnológicas modernas trouxeram pouca melhora para o que o rico já
tinha, porém revolucionaram muito as vidas das massas.
É
necessário somente que aqueles que têm o poder de filtrar as informações, seja
no papel de jornalistas, editores, professores, acadêmicos ou produtores e
diretores de filmes, decidam que há certos aspectos da realidade que as massas
“não compreenderiam corretamente” e que um senso de responsabilidade social
clama, por parte dos que detêm o poder de filtragem, pela supressão de alguns
dados.
A
influência dos intelectuais sobre o curso dos eventos na sociedade em geral,
por meio de sua influência sobre o grande público, era menor do que hoje
porque, na maioria dos paises em outros tempos, o público em geral exercia
muito pouca influência na condução das políticas nacionais. [Esta era a
realidade que a digitrônica mudou radicalmente.]
Fatos
simplesmente não parecem importar para mitos na mídia, uma vez que eles têm um
estereótipo fixo em suas mentes.
[Quando
se trata de jornalismo] Em última instância (...) o importante é ser honesto
com o leitor, o qual, afinal de contas, não pagou para aprender sobre o
psiquismo ou a ideologia do escritor, mas para adquirir algum conhecimento real
sobre o mundo.