quarta-feira, agosto 25, 2021

1 FATO 3 NARRATIVAS

"O conhecimento do assunto em um debate é desnecessário, porque toda opinião é falsa e as palavras não tem nenhum significado fixo, pois servem apenas para lisonjear e persuadir." 

Geórgias de Leontinos (-487/-376)

“De que nos serve entender as coisas se com isso nos tornamos mais covardes, se esse conhecimento nos tira o repouso e a tranquilidade de que gozaríamos sem ele, se nos reduz a condição pior que a do porco?” 

Pirro (-318 a -272)


No domingo, 22/8/21, apareceu a notícia de que um acampamento de pessoas começara ser montado nos gramados da esplanada dos ministérios em Brasília. Vamos ver como o fato foi relatado nas redes sociais.

O website Brasil de Fato, apresentou a seguinte chamada:


Quem primeiro teve conhecimento do fato através deste veículo, soube então que se tratava de uma manifestação de indígenas com objetivo e datas de início e encerramento definidos. Eu só fui ver esta publicação agora que me disponho a fazer esta postagem, até então o que soube foi no dia 23, quando recebi em meu zap este vídeo:


Nele, portanto, fiquei "sabendo" que os apoiadores de Bolsonaro, inclusive indígenas, já estavam começando a chegar para a manifestação de 7 de setembro. Quase nada desta frase foi dita no vídeo, mas é  uma dedução lógica que, como eu, qualquer um que o assistiu também a fez, mesmo que alguém tenha ouvido um soprozinho estranho no ouvido. Ou, como eu, tenha recebido no domingo, um zap com um pdf falando tudo sobre a manifestação, inclusive sobre barracas, o que me ajudou a acreditar na versão. Veja:


Para o final do mesmo dia recebo, também no zap, um vídeo do canal "Questione-se" do qual extraí apenas uma pequena parte só para o interesse desta postagem mas que você pode ter a íntegra aqui.

Shiii!!! Fui enganado!!! É a esquerda que está usando os índios e outros militantes para ocupar o espaço que a direita pretende ocupar no 7 de setembro!!! Os caras são "phodas" mesmo!!! O que fiz eu? Claro, apertei o compartilhar até com um certo sentimento de culpa pelo envio anterior!!!

Acontece que no final da noite do mesmo dia, recebo um outro vídeo, para o qual também fiz uma edição, mas cuja íntegra você pode ver aqui.


Êta sô!!! Agora é que ficou tudo escuro mesmo! Mas as barracas estavam lá, eu vi "com esses olhos que as redes sociais tentam ofuscar", elas estavam lá!!! Aí vem o tal do Ariston me dizer que foi lá checar e as barracas sumiram!!! Todinhas? Nenhumazinha pra servir de prova, indício, suposição!!!

Então hoje, 25, voltei a pesquisar e encontrei esta notícia que confirma a intenção do acampamento mas não resolve a questão de quando ele começou a ser instalado.


CONCLUSÕES

1 - Um fato é verdadeiro: indígenas acamparam no gramado da esplanada dos ministérios.

2 - A manchete do Brasil de Fato, do dia 22, domingo, parece estar correta desde que falso o terceiro vídeo.

2 - A pessoa que fez o primeiro vídeo, provavelmente na manhã de segunda-feira, interpretou erradamente o que estava vendo/acontecendo, gravou afirmações falsas, mas como todo bom internauta destro no botão "compartilhar", distribuiu para seus contatos, cujos destinatários "compartilharam" com seus contatos, que por sua vez... Over and over again.

3 - No vídeo 2, o blogueiro "bolsonarista", em sua ânsia de mostrar as táticas da esquerda, monta uma narrativa a seu gosto e em oposição ao vídeo 1.

4 - No vídeo 3, o Ariston mostra a esplanada vazia na noite de domingo para segunda (ele afirma que é esse o dia), o que nos faz imaginar que os índios só chegaram na manhã de segunda.

5 - Na manchete da Agência Brasil (um braço da Empresa Brasil de Comunicação) que imaginamos ser correta na divulgação de notícias, confirma que há sim um acampamento de indígenas em favor de que o STF defina a data de promulgação da Constituição como "marco temporal" para a demarcação de terras.

6 - A ignorância, o desconhecimento, aliados ao desejo urgente de aparecer "bem na fita" do compartilhamento de qualquer coisa, traz o inferno que até então ficava no centro da Terra (é onde dizem que fica) para a tona de nossa vida cotidiana. Não se trata mais de que "todo cuidado é pouco", todo cuidado não significa garantia alguma de que a notícia  que você está recebendo tem compromisso com a realidade do fato.

Estamos aprendendo enquanto sofremos as dores do crescimento. Por mais que nos policiemos (eu tento o tempo todo não me deixar levar, mas mesmo assim...), vamos cometer erros até mesmo grosseiros.

Antes da digitrônica, um sujeito do mal fazia das suas contra uma pessoa, uma família, um pequeno grupo, uma empresa e, em casos extremos, contra parte da população de uma cidade, como foi Oklahoma, Torres Gêmeas, Paris etc. Hoje, este sujeito do mal, pode atacar uma enorme parcela da humanidade apenas divulgando uma imagem, uma notícia, que nem precisa ser real (ele mesmo pode criá-la) e divulgá-la nas redes sociais internet a fora. Ou então hackear computadores e/ou sequestrar seus conteúdos, principalmente de empresas, e isto em escala planetária.  Antes, portanto, o mal existia, foi só a abrangência e a intensidade do dano que mudou. O que pode nos servir de algum consolo, é que tal poder também pode ser usado pelos bons. 

Antes de dar seu clique em "compartilhar", pense, espere, aguarde. A besteira que podemos fazer hoje, pode esperar até amanhã. Quem sabe descobrimos, nesse intervalo, alguma razão para não cometê-la?

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