Os
comentários de Aldous Huxley 15 anos depois.
Após o final da segunda guerra mundial, final dos anos 1940, Huxley escreve um prefácio que passa a ser incluso nas novas edições de sua obra “Admirável Mundo Novo” (de 1932), texto que no Brasil só foi traduzido e incluído a partir da edição de 1980 da Abril Cultural.
Ele começa admitindo a existência de erros, falhas literárias, defeitos e “pecados artísticos”, mas que consertá-los seria “vão e fútil”, mas sente a necessidade de avaliar as consequências do desenvolvimento tecnológico (na física, na química e na engenharia), fruto dos anos de guerra, que, em sua visão, trarão “uma série de mudanças econômicas e sociais de rapidez e totalidade sem precedentes”.
Huxley, naquele final da década de 1940, não fez previsões sobre invenções tecnológicas específicas, pois o que importaria seriam as mudanças sobre o comportamento dos seres humanos, a partir do uso de quaisquer que fossem tais tecnologias, para o objetivo utópico de “realizar a estabilidade social” pelas pessoas que “levam a cabo, por meios científicos, a última e pessoal revolução”.
Huxley é enfático quando prevê que “todos os padrões existentes da vida humana serão rompidos e novos padrões terão de ser improvisados”. Para ele, existiriam conflitos políticos que inevitavelmente levariam a uma concentração maior de poder e ao aumento do “controle governamental”. Tal nível de controle e de tendência a um estatismo mais veemente só poderia ser combatido, detido, com “um movimento popular em larga escala pela descentralização e a autonomia do poder”.
O Estado totalitário eficaz para Huxley, “seria aquele em que o executivo todo-poderoso” viesse a controlar “uma população de escravos” que não precisariam ser forçados a nada, “porque teriam amor à servidão”. E Huxley identifica os 3 principais agentes para esta tarefa de “convencimento”: "o ministério da propaganda, editores de jornais e professores" (o grigo é meu).
Huxley mirou no que pressentiu e acertou na mosca ao dizer que no “futuro serão amplos [os] inquéritos patrocinados pelo governo com a participação de políticos e cientistas que verificarão (...) o problema de fazer o povo amar a servidão”.
Para realizar essa revolução, Huxley lista 4 itens, dos quais ressalto o que indica a criação de “um sistema perfeitamente seguro de eugenia” de modo a “facilitar a tarefa dos administradores”.
Até a ideologia de gênero e a promiscuidade liberada foram previstos por Huxley ao dizer que “com a restrição da liberdade política e econômica (...) tende a crescer a liberdade sexual”.
Nunca uma Utopia foi tão insistentemente propagada quanto a de uma humanidade igualitária na cultura, no comportamento, na moral e na ética a que nós, neste 2021, estamos vivenciando. Huxley reconhece seu erro de previsão quando admite que “a Utopia está muito mais próxima de nós (...) do que há apenas quinze anos atrás”, ou seja, não está no futuro longínquo de 600 anos. Se ele achava “possível que o horror” nos alcançasse “dentro de apenas um século”, hoje, 70 e poucos anos depois desta sua previsão, esta, para nós já, é uma realidade vivenciada.
No último parágrafo do prefácio, Huxley não vê alternativa para o estatismo globalista. A partir desta sua visão, ele apresenta dois caminhos que a humanidade controlada terá como escolha: “certo número de totalitarismos nacionais e militarizados, (...) ou então um totalitarismo supranacional, proveniente do caos social (...) e desenvolvendo-se (...) como a tirania – [o] bem-estar da Utopia”.
Me utilizo deste prefácio de Huxley como introdução ao tema da próxima postagem, quando pretendo refletir sobre o futuro mais imediato da guerra ideológica que o mundo ocidental está envolvido, mas que, nós, brasileiros, estamos assistindo no dia-a-dia intensamente.
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