quinta-feira, novembro 09, 2023

RAIZ DA BARBÁRIE

Os relatos postados nas redes sociais por quem assistiu a vídeos das atrocidades do Hamas, foram o mote para o texto a seguir, interrompendo a sequência "Extirpando a Democracia". Retomo na próxima semana.

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(Se preferir ouça o áudio: Raiz da Barbárie)

Sou um ser humano que já está de saída, como digo para os amigos, 

e que hoje está se perguntando: 

que civilização deixaremos para nossos descendentes?


Que ninguém fique perplexo com a barbárie do Hamas! Qual é a novidade? Há quantos anos eles vêm declarando abertamente que sua existência tem um único propósito: a aniquilação do Estado de Israel e acabar com o povo judeu. Há quantos anos eles vêm dizendo isso? Uma declaração atribuída a Benjamim Netaniahu tal intento foi exposto da seguinte forma: “se o Hamas depuser as armas, acaba a guerra, mas se Israel baixar as armas, Israel acaba”. Ressumo tão mais claro impossível. O que há de incompreensível no que estamos assistindo se nada acontece do nada? Se tudo é uma escalada em um “monte improvável? Por que temos a tendência de achar que o humanamente impensável jamais se realizará? O que nós estamos assistindo é a realização de um desejo, a concretização de uma promessa.

É preciso que percebamos a fragilidade da mente humana, do psicológico humano. A realidade desta nossa fragilidade é claramente expressa quando recorremos a entidades transcendentais, metafísicas, supra-humanas, usando expressões como “Deus nos ajude”, ou “vou entregar para Deus”, ou apostando em personalidades esdrúxulas prometedores de um idealizado paraíso futuro. Em nosso cotidiano estamos constantemente desejando que “alguém” nos salve, nos ajude, resolva por nós quando nos sentimos impotentes frente a fatos da vida. Nossa fragilidade nos coloca à mercê de um poder que faz de nós o que esse poder quiser. Quem não há de se imaginar em uma situação em que a ação do poder sobre si o torne incapaz de reagir, de resistir, de se rebelar? Mais do que isso, uma situação em que se veja obrigado a fazer o que jamais imaginaria capaz de fazer! Por sobrevivência de nós mesmos ou de outros seres de nossa mais profunda estima, somos capazes de submeter nossa integridade moral e cometer inimagináveis atrocidades. Quem se considera imune a tal, nega a natureza humana. Os bárbaros, sanguinários assassinos do Hamas, são indivíduos como eu e você. Foram e são jovens tão humanos como eu e você, apenas se tornaram no que são como resultado da manipulação das palavras e ideias feitas por indivíduos de mentes neurologicamente doentes. Os pais que aplaudem a ação do filho que barbarizou judeus bebês, crianças, mulheres, idosos, demonstra que também não são imunes a se tornarem demoníacos se a pressão for adequada e na intensidade apropriada.

Sim, nós somos capazes de ser como eles, basta sermos colocados nas circunstâncias certas, pois como percebeu o pensador espanhol, Ortega y Gasset, “o homem é o homem e suas circunstâncias” e, portanto, é só uma questão de criar as circunstâncias certas para atingir objetivos e interesses de qualquer natureza. A credulidade - a propensão de acreditar em qualquer coisa que atenda os seus sonhos, as suas utopias e, principalmente, seus medos -,  é algo que afasta os jovens do trabalho e desconforto de ter que refletir e buscar outras possibilidades. Mas para que tenha efeito, é preciso que o indivíduo entre no estado que chamo de “a arrogância da ignorância”. E é na juventude que ela tem sua maior expressão. É quando não sabemos nada, que mais precisamos de quem nos dê certezas. E é na escola fundamental que as mentes são bloqueadas do livre pensar e os dogmas do demônio são cirurgicamente implantados na fresca mente juvenil. E hoje inocentemente nos perguntamos: como o inferno se fez presente!?

Com a maturidade e as experiências de vida, a maioria de nós adquire uma “casca grossa” e com ela nos tornamos menos crédulos de tudo.  Há, portanto, uma diferença entre o jovem e o adulto mais experiente, mais calejado. Esta diferença é a capacidade de perceber as ameaças contidas nas intenções que definem as ações dos que estão no poder. É quando a maioria de nós já deixou os sonhos e as utopias onde elas devem ficar: nos sonhos e nas utopias.

Tenho procurado mostrar em meus últimos textos que a história da civilização humana é a história do poder e da servidão. E essa história é a história da fragilidade humana presente em nós desde sempre. O crescimento populacional exige a cada dia mais empenho em encontrarmos soluções que viabilizem a convivência de tantos indivíduos diferentes e únicos em uma sociedade razoavelmente harmônica.

Finalizando, deixo um chamado à reflexão daqueles que hoje apoiam ideologias que negam o fundamento da natureza humana: o direito à liberdade de viver em obediência às suas próprias características naturais. É como em uma escada: para se chegar ao alto, temos que começar do primeiro degrau. O que acontece na Palestina de hoje teve um começo simples: um pequeno grupo assumiu o poder político e subiu no primeiro degrau proclamando ter a verdade. No próximo degrau atribuiu aos que discordavam, a condição de serem agentes do mal. Um pouco mais acima, propagou que o mal deveria ser extirpado e para tanto “eles” deveriam ser eliminados. A Palestina de hoje não surgiu do nada, e nada tem a ver com o “povo” palestino. Para chegar a este ápice, houve que se começar pelo degrau mais baixo, sem que ninguém percebesse.

Espero que tudo isso sirva para que as pessoas que creem em uma verdade única e absoluta, uma “solução” para a  humanidade que lhes evite o incômodo e a dificuldade em lidar com a verdade do outro, percebam que a raiz da barbárie está exatamente esta não aceitação da natureza humana que exige a aceitação e o respeito de todos, sem o que não há e não haverá humanidade possível. É esse jogo das diferenças que fez com que a civilização evoluísse e se afastasse gradativamente da barbárie. É um jogo onde alguém propõe, outros dispõem e outros contrapõem. É isto que tudo realiza, que faz com que sempre se vá em direção ao melhor para todos.

São as circunstâncias do universo que fazem as circunstâncias de nossas vidas.

Sou um ser humano que já está de saída, como digo para os amigos, e hoje me pergunto que civilização deixaremos para nossos descendentes?







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