Os relatos postados nas redes sociais por quem assistiu a vídeos das atrocidades do Hamas, foram o mote para o texto a seguir, interrompendo a sequência "Extirpando a Democracia". Retomo na próxima semana.
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(Se preferir ouça o áudio: Raiz da Barbárie)
Sou um ser humano que já está de saída, como digo para os amigos,
e que hoje está se perguntando:
que civilização deixaremos para nossos descendentes?
Que ninguém fique
perplexo com a barbárie do Hamas! Qual é a novidade? Há quantos anos eles vêm declarando
abertamente que sua existência tem um único propósito: a aniquilação do Estado
de Israel e acabar com o povo judeu. Há quantos anos eles vêm dizendo isso? Uma
declaração atribuída a Benjamim Netaniahu tal intento foi exposto da seguinte
forma: “se o Hamas depuser as armas, acaba a guerra, mas se Israel baixar
as armas, Israel acaba”. Ressumo tão mais claro impossível. O que há de
incompreensível no que estamos assistindo se nada acontece do nada? Se tudo é
uma escalada em um “monte improvável? Por que temos a tendência de achar que o humanamente
impensável jamais se realizará? O que nós estamos assistindo é a realização de
um desejo, a concretização de uma promessa.
É preciso
que percebamos a fragilidade da mente humana, do psicológico humano. A
realidade desta nossa fragilidade é claramente expressa quando recorremos a
entidades transcendentais, metafísicas, supra-humanas, usando expressões como “Deus
nos ajude”, ou “vou entregar para Deus”, ou apostando em personalidades esdrúxulas
prometedores de um idealizado paraíso futuro. Em nosso cotidiano estamos
constantemente desejando que “alguém” nos salve, nos ajude, resolva por nós quando
nos sentimos impotentes frente a fatos da vida. Nossa fragilidade nos coloca à mercê
de um poder que faz de nós o que esse poder quiser. Quem não há de se imaginar em
uma situação em que a ação do poder sobre si o torne incapaz de reagir, de
resistir, de se rebelar? Mais do que isso, uma situação em que se veja obrigado
a fazer o que jamais imaginaria capaz de fazer! Por sobrevivência de nós mesmos
ou de outros seres de nossa mais profunda estima, somos capazes de submeter nossa
integridade moral e cometer inimagináveis atrocidades. Quem se considera imune
a tal, nega a natureza humana. Os bárbaros, sanguinários assassinos do Hamas,
são indivíduos como eu e você. Foram e são jovens tão humanos como eu e você, apenas
se tornaram no que são como resultado da manipulação das palavras e ideias
feitas por indivíduos de mentes neurologicamente doentes. Os pais que aplaudem a
ação do filho que barbarizou judeus bebês, crianças, mulheres, idosos,
demonstra que também não são imunes a se tornarem demoníacos se a pressão for
adequada e na intensidade apropriada.
Sim, nós
somos capazes de ser como eles, basta sermos colocados nas circunstâncias certas,
pois como percebeu o pensador espanhol, Ortega y Gasset, “o homem é o
homem e suas circunstâncias” e, portanto, é só uma questão de criar as
circunstâncias certas para atingir objetivos e interesses de qualquer natureza.
A credulidade - a propensão de acreditar em qualquer coisa que atenda os seus
sonhos, as suas utopias e, principalmente, seus medos -, é algo que afasta os jovens do trabalho e desconforto
de ter que refletir e buscar outras possibilidades. Mas para que tenha efeito,
é preciso que o indivíduo entre no estado que chamo de “a arrogância da ignorância”.
E é na juventude que ela tem sua maior expressão. É quando não sabemos nada,
que mais precisamos de quem nos dê certezas. E é na escola fundamental que as
mentes são bloqueadas do livre pensar e os dogmas do demônio são cirurgicamente
implantados na fresca mente juvenil. E hoje inocentemente nos perguntamos: como
o inferno se fez presente!?
Com a
maturidade e as experiências de vida, a maioria de nós adquire uma “casca
grossa” e com ela nos tornamos menos crédulos de tudo. Há, portanto, uma diferença entre o jovem e o
adulto mais experiente, mais calejado. Esta diferença é a capacidade de
perceber as ameaças contidas nas intenções que definem as ações dos que estão
no poder. É quando a maioria de nós já deixou os sonhos e as utopias onde elas devem
ficar: nos sonhos e nas utopias.
Tenho
procurado mostrar em meus últimos textos que a história da civilização humana é
a história do poder e da servidão. E essa história é a história da fragilidade
humana presente em nós desde sempre. O crescimento populacional exige a cada dia
mais empenho em encontrarmos soluções que viabilizem a convivência de tantos indivíduos
diferentes e únicos em uma sociedade razoavelmente harmônica.
Finalizando,
deixo um chamado à reflexão daqueles que hoje apoiam ideologias que negam o
fundamento da natureza humana: o direito à liberdade de viver em obediência às
suas próprias características naturais. É como em uma escada: para se chegar ao
alto, temos que começar do primeiro degrau. O que acontece na Palestina de hoje
teve um começo simples: um pequeno grupo assumiu o poder político e subiu no
primeiro degrau proclamando ter a verdade. No próximo degrau atribuiu aos que
discordavam, a condição de serem agentes do mal. Um pouco mais acima, propagou
que o mal deveria ser extirpado e para tanto “eles” deveriam ser eliminados. A
Palestina de hoje não surgiu do nada, e nada tem a ver com o “povo” palestino. Para
chegar a este ápice, houve que se começar pelo degrau mais baixo, sem que ninguém
percebesse.
Espero que
tudo isso sirva para que as pessoas que creem em uma verdade única e absoluta,
uma “solução” para a humanidade que lhes
evite o incômodo e a dificuldade em lidar com a verdade do outro, percebam que
a raiz da barbárie está exatamente esta não aceitação da natureza humana que
exige a aceitação e o respeito de todos, sem o que não há e não haverá
humanidade possível. É esse jogo das diferenças que fez com que a civilização evoluísse
e se afastasse gradativamente da barbárie. É um jogo onde alguém propõe, outros
dispõem e outros contrapõem. É isto que tudo realiza, que faz com que sempre se
vá em direção ao melhor para todos.
São as
circunstâncias do universo que fazem as circunstâncias de nossas vidas.
Sou um ser humano que já está de saída, como digo para os amigos, e hoje me
pergunto que civilização deixaremos para nossos descendentes?
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